jdact e wikipedia
De acordo com o original
«(…) Em 21 de Dezembro
foi reaberta a Universidade, mandando-se começar os trabalhos no dia 7 de
Janeiro. Deste modo o ano lectivo de 1855-1856 ficou encurtado em relação ao
ano normal, não obstante as aulas de direito, teologia e medicina funcionarem
até 20 de Junho e as de filosofia e matemática até 10 de Julho. Lembraram-se os
estudantes de pedir perdão d’acto; o rei, porém, não se mostrava inclinado a
conceder-lho. E, para que o seu governo não pudesse alegar ignorância, escrevia
a Rodrigo: Não sei qual será a opinião do
Governo a semelhante respeito; a minha, quási que escusaria de dizê-lo, é
contrária ao que considero um grande mal não só para a instrução como também para
os interesses da fazenda. Se em tempos ordinários é tão grande a produção de
bacharéis, e tão escassos os meios de dar vasão a esse produto; que será se
facilitarmos ainda mais essa produção! Além disso tendo-me eu constantemente
ocupado da instrução pública e lamentando os males que provêem da facilidade
com que entre nós se alcança a instrução superior, seria, creio eu, uma
singular contradição eu não opor-me a pedidos absurdos, que nem sei se
efectivamente existem. No entretanto julguei dever referir isto que acabo de
dizer, porque entendo que é sempre melhor prevenir do que remediar.
O expediente corria,
entretanto, regularmente. O rei aprovava os estatutos do Montepio das
Secretarias de Estado e parecia-lhe que este seria o melhor modo de regular as
pensões (carta a Rodrigo Fonseca, de 25 de Novembro de 1855). Também lhe
submeteram à assinatura um decreto sobre o ensino veterinário, mas esse ficou
dependente de mais acurado exame: Quanto
ao decreto reformando o ensino veterinário ainda me reservo examiná-lo mais miudamente,
e para isso pedi ao duque que viesse cá. Concordo com muitas das disposições,
quanto a outras careço de conhecer os motivos que lhes deram razão de existência.
A demora que daí possa provir não há de ser grande, e certamente não se
estenderá como em certos papéis urgentes, por exemplo, de Julho de 1853 a 1855.
No projecto não se pode negar que existem alguma poesia, e algumas ilusões.
E em outra carta (21 de
Dezembro) indica o que supõe mais conveniente fazer: Quanto ás coudelarias militares ou antes potris eu lembraria que,
estabelecendo-se em princípio, se estabeleçam na realidade como ensaios em
ponto limitado e só naquellas localidades que para isso apresentarem melhores
condições. Igual reflexão farei relativamente ao estabelecimento do ensino veterinário
em todas as escolas regionais. Eu julgaria a propósito começarmos pelo ensaio
no Instituto de Lisboa ou num dos dois do reino. O sistema de ensaios,
sobretudo nestas cousas que variam segundo as necessidades dos paises,
parece-me sempre o melhor. Recebe-se assim a confirmação ou desengano das
ideas, sem correr o perigo de gastar grossas somas com a sua generalisação.
No tocante à questão das
subsistências, o rei desejava que se fizessem inquéritos e outros trabalhos que
se publicassem para que o país conhecesse as diligências empregadas para a
resolver. Em 15 de Dezembro dizia a Rodrigo: Eu tinha lembrado ao Fontes, antes da sua partida para Londres, a
vantagem do governo mandar proceder a trabalhos tendentes a esclarecer esta
questão. Dando-se publicidade a esses trabalhos, ter-se hia, no meu intender,
justificado pela linguagem dos factos a conduta que se seguisse. Em França o
Governo seguiu, segundo as notícias que tenho, esta marcha, como se pode ver
por um interessante artigo de Mr. de Villèle na Revue Contemporaine; e a
franqueza com que falou ao país fez-lhe bem. Verdade é que em França tudo
quanto o governo fizer é bem feito, porque não há nesse país quem se possa
colocar na posição de contradizer os actos de uma autoridade omnipotente. Respondeu-me
ele Fontes que estes documentos os tinha o governo em seu poder, mas que lhe
parecia que seria espalhar o terror o dar uma grande atenção a factos que, com
quanto graves, comtudo não se apresentavam com um aspecto ameaçador. Como eu
muitas vezes me posso enganar e forçosamente me hei de enganar, não insisti,
deixando ao tempo o decidir da judiciosidade da minha idea.
E acrescenta: Muito longe de mim dar a importância que se
pretende dar aos factos ultimamente conhecidos, muito longe de mim o acreditar na
gravidade da nossa situação alimentícia, todavia perguntarei agora que um mês
se passou desde que me lembrei de aventar essa idea: não teria o governo ganho
na opinião pública mostrando, ainda mesmo quando fosse deitando poeira aos
olhos, que tomava a peito uma questão séria, e que procurava os meios de esclarecer
sobre ela o público para impedir os terrores, etc? A questão tem sido
fortemente debatida pela imprensa periódica. Gosto dessas discussões; estimarei
que as haja sempre que se trate de um objecto sério e que afecte a sociedade
toda. Sinto, porém, que o princípio de oposição tão necessário para a existência
de um governo constitucional, se desvirtue fazendo-o passar da altura em que
êle devera ser colocado ao campo das misérias pessoaes». In Júlio de
Vilhena, D. Pedro V, O Seu Reinado, Academia das Ciências de Lisboa, DP 664V55,
610415, 4755, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1921.
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