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«Praticamente
desde o momento em que Jesus Cristo mudou o nome do pescador Simão para Pedro e
lhe deu as chaves do Reino dos Céus, a religião construída em nome de Cristo começou
a manter segredos por conveniência. Considerados perigosos pelos imperadores romanos,
os cristãos foram para baixo da terra, literalmente, reunindo-se para orar nas catacumbas
e cavernas. Inventaram gestos, símbolos e outros códigos secretos para se reconhecerem,
se comunicarem, e evitarem ser descobertos e perseguidos. Desde a sua criação,
o cristianismo foi uma religião de segredos. Depois de três séculos de
repressão, a condição de proscritos daqueles que seguiam Cristo terminou quando
o imperador Constantino se converteu à religião depois de ter visto a luz,
literalmente. Em 312 d.C., quando se preparava para lutar contra seu mais
poderoso rival, Maxêncio, junto ao rio Tibre, ele afirmou ter visto a cruz de
Cristo diante do sol com as palavras In
hoc signo vinces (Com este sinal vencerás). Ordenou aos seus homens que colocassem
cruzes nos seus escudos e venceu a batalha. No ano seguinte, encontrou-se com o
imperador Licínio, governante das províncias orientais do Império Romano, para
assinar o Édito de Milão, conferindo direitos iguais a todos os grupos
religiosos dentro do império. Devolveu propriedades confiscadas dos cristãos,
construiu muitas igrejas, doou terras, enviou a sua mãe a Jerusalém para
encontrar o lugar onde Cristo fora crucificado e construir uma igreja no lugar,
e ordenou aos bispos da religião que convocassem o primeiro Concílio de Niceia
em 325 d.C. para lidar com os falsos ensinamentos no interior da igreja. Os resultados
desse conclave foram uma lista formal de crenças cristãs (o Credo Niceno) e a aprovação
de textos para inclusão na Bíblia Sagrada.
Nesse
processo de canonização, que excluiu textos considerados heréticos, os
bispos que se reuniram em Niceia reclamaram a autoridade absoluta para decidir
o conhecimento que poderia ser disseminado e o que deveria ser mantido em
segredo, e que a Igreja Católica Romana mantém até hoje. Quando Constantino
construiu a basílica de São Pedro na colina do Vaticano, coração de Roma, como
trono dos sucessores de Pedro, ela se tornou a Santa Sé. A basílica de São
Pedro actualmente está situada no local onde no primeiro século ficava o Circo
de Nero. Depois de reconhecer oficialmente a cristandade, Constantino iniciou a
construção (em 324) de uma grande basílica no local em que segundo a tradição
havia ocorrido a crucificação e enterro de São Pedro. Em meados do século XV,
decidiu-se reconstruir a antiga basílica. O papa Nicolau V pediu ao arquitecto
Bernardo Rosselino que fizesse acréscimos à velha igreja. A construção do
edifício actual começou com o papa Júlio II, em 1596, e foi concluída em 1615,
com o papa Paulo V. As estruturas vizinhas, que formam a Cidade do Vaticano,
incluem edifícios que abrigam o Arquivo Secreto do Vaticano. Como defensor da
fé por mais de dezasseis séculos e depositário do conhecimento omitido durante
tantos outros, o Vaticano tornou-se o foco de pessoas que tecem inúmeras lendas,
mitos e histórias de feitos misteriosos; segredos sinistros e conspirações
criminosas tramadas no interior das suas paredes. Contribuindo para as
suspeitas que rondam o Vaticano, há uma aura de mistério que envolveu a Igreja
Católica Romana por séculos, incluindo o uso do latim nas cerimónias, o segredo
na escolha dos papas, vestes simbólicas e adornos de cabeça, rituais de
adoração, crença em milagres e aparição de santos, e a afirmação histórica de
que em questões de fé o papa era infalível. Tudo isso deixou aqueles que não
são católicos com a sensação de que a Igreja estava arraigada em segredo. Para
aqueles que acreditam que o Vaticano esconde coisas, nada é mais fascinante que
o Arquivo Secreto do Vaticano. Desde os anos imediatamente posteriores à
crucificação de Cristo, os papas guardavam cuidadosamente os manuscritos no Scrinium Sanctae Romanae Ecclesiae.
Actualmente, os arquivos dos 264 papas e da hierarquia do Vaticano ocupam quase
cinquenta quilómetros de estantes com documentos amarrados por uma fita
vermelha.
Ocupando
edifícios da Renascença não muito distantes da Capela Sistina e/ou Sixtina, na
Cidade do Vaticano, coração de Roma, existem arquivos não apenas de toda a
história da cristandade, mas também da civilização ocidental. Ninguém,
inclusive o papa, pode afirmar com certeza quantos segredos e escândalos estão
guardados nos arquivos. Os arquivos secretos do Vaticano são usados basicamente
pelo papa e sua cúria, isto é, a Santa Sé. Em 1881, sob o papa Leão XIII, os
arquivos foram abertos para consulta de eruditos, tornando-se o mais importante
centro de pesquisa histórica do mundo. Uma parte do material foi
disponibilizada na internet. Mais de
600 fontes de pesquisa ocupando mais de oitenta quilómetros de prateleiras,
cobrindo mais de 800 anos de história, podem agora ser visitadas no website do
Vaticano (www.vatican.va). O documento
mais antigo é do século VII, e a partir de 1198 manteve-se ininterruptamente
a documentação… É possível ver a carta de Michelangelo Buonarotti para o bispo
de Cesena (Janeiro de 1550), detalhes do julgamento de Galileu (de 1616 a 1633),
cartas a respeito de Henrique VIII e seu desejo de anular o casamento com
Catarina de Aragão para se poder casar com Ana Bolena, e o pergaminho em que o papa Clemente V concedeu perdão aos líderes
dos cavaleiros templários (17 a 20 de Agosto de 1308), depois de terem morrido
na fogueira». In Paul Jeffers, Mistérios Sombrios do
Vaticano, 2012, tradução de Elvira Serapicos, Editora Jardim dos Livros, 2013,
ISBN 978-856-342-018(7)-3(6).
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