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Scriptum
«Afasto
de ti com
raiva
surda
o
corpo
as
mãos
o
pensamento
e
apago secreta
uma
a uma
as
velas acesas do teu vento
liberta
ponho o corpo
em
seu lugar
visto
a cidade
penteio
um rio sedento
penso
ganhar
e
fujo
e não
entendo
penso
dormir
mas
não consigo
o
tempo
E
cede-se o vazio
sobre
o meu ventre
e
segue-se a saudade
em seu
sustento
E
digo este meu vício
dos
teus olhos
de
um verde tão lento;
muito
lento
Se
penso que te deixo
já
te quero
Se
penso que recuso
já
te anseio
Se
penso que te odeio
já
te espero
e
torno a oferecer-te
o
que receio
Se
penso que me calo
já
te grito
Se
penso que me escondo
já
me ofereço
Se
penso que não sinto
é
porque minto
Se
pensas que me olhas
já
estremeço»
Educação
Sentimental
«Põe
devagar os dedos
devagar...
e
sobe devagar
até
ao cimo
o
suco lento que sentes
escorregar
é o
suor das grutas
o
seu vinho
Contorna
o poço
aí
tens de parar
descer,
talvez
tomar
outro caminho…
Mas
põe os dedos
e
sobe devagar...
Não
tenhas medo
daquilo
que te ensino»
Poemas
de Maria Tereza Horta, in ‘As
Palavras do Corpo’
In
Maria Tereza Horta, As Palavras do Corpo, Publicações dom Quixote, Lisboa,
2014, ISBN 978-972-204-903-0.
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