terça-feira, 8 de março de 2016

Poesia. Maria Tereza Horta. «A história do desejo, onde cada vitória é uma derrota e cada derrota uma outra vitória»

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Post Scriptum
«Afasto de ti com
raiva surda
o corpo
as mãos
o pensamento

e apago secreta
uma a uma
as velas acesas do teu vento
liberta ponho o corpo
em seu lugar
visto a cidade
penteio um rio sedento

penso ganhar
e fujo
e não entendo
penso dormir
mas não consigo
o tempo

E cede-se o vazio
sobre o meu ventre
e segue-se a saudade
em seu sustento
E digo este meu vício
dos teus olhos
de um verde tão lento;
muito lento

Se penso que te deixo
já te quero
Se penso que recuso
já te anseio
Se penso que te odeio
já te espero

e torno a oferecer-te
o que receio
Se penso que me calo
já te grito
Se penso que me escondo
já me ofereço

Se penso que não sinto
é porque minto
Se pensas que me olhas
já estremeço»


Educação Sentimental
«Põe devagar os dedos
devagar...
e sobe devagar
até ao cimo
o suco lento que sentes
escorregar
é o suor das grutas
o seu vinho

Contorna o poço
aí tens de parar
descer, talvez
tomar outro caminho…

Mas põe os dedos
e sobe devagar...
Não tenhas medo
daquilo que te ensino»
Poemas de Maria Tereza Horta, in ‘As Palavras do Corpo



In Maria Tereza Horta, As Palavras do Corpo, Publicações dom Quixote, Lisboa, 2014, ISBN 978-972-204-903-0.

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