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«Santa
Margarida, 1758, Maio, 3. Memória Paroquial da freguesia de Santa Margarida,
comarca de Avis. [ANTT, Memórias Paroquiais, vol. 22, nº 54, pp. 353 a 362]
Excelentissimo
e Reverendissimo Senhor
Por
ordem de Vossa Excelencia Reverendisima, me foj emtregue hum papel de letra empreça,
com varios emterrogatorios para responder a elles; o que se procura saber; e satisfazendo
aos perceitos de Vossa Excelencia Reverendisima, e ordens de Sua Magestade que
Deus Guarde, vendo os interrogatorios, cada hum de por si; respondo aos mesmos;
com a clareza que pude indagar, e toda a verdade sobre o que nesta
freguezia
há.
Resposta
ao primeiro: Não tenho Vila, e so tenho freguezia, Arcebispado, Cameras,
termos;
Resposta
ao segundo: Esta freguezia hé de campo, fica na Provincia de Alentejo Arcebispado
de Evora pertençe a Camara da Vila de Avis, a major parte desta freguesia e a
quarta parte dela pertençe a Camara da Vila das Galveas, por ficar no seu
termo; a Vila de Avis, hé de Sua Magestade que Deos Guarde; e a das Galveas, hé
de donatario que o hé dela o Ilustrissimo Cardeal;
Ao terceiro:
Tem esta freguezia ojtenta e sinco vezinhos e pessoas trezentas e sincoenta e
sinco;
Ao
4º: Está esta freguezia, situada em huma campina pequena; a povoaçaô que dela, se
descobre, hé a Vila das Galveas, que dista dela huma legoa;
Ao
5º: Não tem termo seu esta freguezia, e só tem huma aldeja; que se chama Aldeja
Velha; que consta de nove vezinhos que já está emcluidos no numero asima;
Ao
6º: Está esta Parochia, no campo junta com Aldeja Velha asima declarada; não há
mais lugar algum dentro dela nem aldeja;
Ao
7º: O orago desta freguezia hé Santa Margarida, tem sinco altares mor, e dois coletrais
e a parte direjta, hindo para a cappela mor, Nossa Senhora do Rozario; e a parte
esquerda Santo Antonio, e por baixo deste, no pe direjto da Igreja, o altar das
almas, e outro altar esta cem ornato algum, por que era das almas; mas como
este se mudou para a outra parte; ficou ainda cem se demolir, em cujo pentendo
[sic] por Nossa Senhora dos Prazeres, e Santa Luzia, que estão no mejo do altar
mor; cem terem nicho onde estejaô; para o que, pertendo; pedir algumas esmolas
para compor o altar, de toalhas, castisaes, e cortinaz que hé o que lhe falta,
não tem esta Igreja nave alguma; nem irmandades; e só tem Santa Margarida,
Jois, escrivaô, e Thezourejro, e Nossa Senhora do Rozario, e Santo Antonio, da
mesma sorte;
Ao
8º: O Parocho hé cappelaô; por ser a Igreja cappela curada: aprezentaçaô hé de Sua
Magestade que Deos Guarde; e hé de oppoziçaô na Meza da Consiençia, por ser da Ordem
de Saô Bento de Avis de que Sua Magestade hé perpetuo admenistrador e governador;
tem o Parocho de ordenado, ou de renda, dois mojos de trigo; mojo e mejo de
sevada; para a besta, pagos pela Comenda que desfruta o real Comvento de Avis,
e quinze mil reis em dinhejro, pagos pelo almoxarifado da Vila de Benavente;
Ao
9º: Não tem beneficiado algum;
Ao
10º: Não tem comventos de religiozos, nem religiosas;
Ao
11º: Não tem hospital;
Ao
12º: Não tem caza de mizericordia;
Ao
13º: Tem a Hermida de Nossa Senhora da Rabaça, que está no campo, tem esta altar
mor, e dois colletrais, a parte direjta, Santo Antonio, e a parte esquerda Saô Bento;
hé toda de aboboda; e tem tres naves, e tres colunas, de cada parte tem pulpito,
a segunda coluna, da parte esquerda; e outro no alpendere, da parte exterior da
Igreja, esta Ermida, desfruta o Prior de Avis por costume; tem duas moradas de cazas
de que cobra a renda delaz, e juntamente as offertas de trigo, mortalhas, o dinhejro,
e frangos, e outras couzas mais que os devotos oferessem, tanto a Senhora como
aos mais Santos;Tem mais duas moradas de cazas, huma morada hé para o Jois da
Frota, se aprezentar nos dias delas, como logo se dirá, e a outra morada hé, do
ermitaô de Nossa Senhora e todas estaô pegadas a Igreja da Senhora. Esta
Igreja, se fez de esmolas, que derão os devotos;
Ao
14º: Na primejra cesta fejra do mes de Março de cada hum anno, se fas hum sermão
por costume antigo, e os mais dos annos. Se lhe canta a miça. Este hé obrigado o
Jois, desta freguezia e neste dia, comcorre munta quantidade de gente. A çinco
de Agosto, de cada hum anno se fazem nesta Igreja, da Senhora da Rabassa, tres
festas com sermão, missa, cantada, e vesporas de tarde. A primejra festa, hé no
dia sinco, com vesporas no dia quatro: e hé do Jois desta freguezia e no dia
sinco de tarde, as vesporas eraô do Jois, da Vila de Monteargil, hoje porem naô
vem ja o Jois, e mais devotos deste povo fazer a festa a Nossa Senhora, por duvidas
que tiveraô com o Prior que desfruta estes lucros e lhe fazem a festa, na dita Vila
de Avis, hé no dia sete e nestas tres partes: há Jois, iscrivão thezorejro e
nestes tres dias comcorria munta quantidade, de gente de todas estas terras
vezinhas, e se abarracavaõ em barracas, e de baxo de humas, sobrejras, que
estão no sitio da Igreja, e se festejava a Senhora, alem das festas de Igreja:
com comedias, e touros; hoje porem, acode munto pouca gente nestes dias; e se
vaj, perdendo a devoção, ainda que pelo anno adiante; sempre comcorrem alguns devotos.
Ao
15º: Os frutos, que os moradores desta freguezia, recolhem, em major abundançia
são trigo, centejo, milho e os montados;
Ao
16º: Não há Jois Ordinario, nem Camara e só o há da Ventena, está esta freguesia
sobgejta [sic] ao Governo de Avis; por ser termo dela e huma pequena parte a
Vila das Galveas, por ficar, no seu termo;
Ao
17º: Não há couto, cabessa de Conselho, honra ou behetria;
Ao
18º: Não há memoria que desta freguezia sahisem, nem foleressessem [sic], homes
alguns, nem por letraz, nem por armas, nem vertudes;
Ao
19º: Não tem fejra, em dia algum dia anno nem franca, nem cativa;
Ao
20º: Não tem correjo, e servesse do correjo de Avis cada hum amanda buscar as suas
cartas pelo seu criado, ou pessoa que para la vá o correjo chega a Vila de
Avis, a quinta fejra de tarde de todas as semanas e parte ha cesta fejra ao
mejo dia. Dista esta Vila, desta freguezia duas legoas;
Ao
22º: Dista esta freguezia da cidade Capital do Arcebispado que hé Evora, onze legoas,
e da de Lisboa capital reino vinte e três;
Ao
22º: Não consta que tenha previlegios alguns, antiguidades, ou outras couzas,
dignas de memoria;
Ao
23º; Não ha nesta freguezia ou perto dela alguma fonte ou lagoa, selebre, e so
na Vila das Galveas, que dista huma legoa há a fonte do Povo, que dizem por
espriencias, hé boa para os obestruidos, e que naoconssente obestujiaõ o mesmo
me emforma, o lavrador da Erdade de Val de Figuejra, desta freguezia, que tem a
mesma vertude por exprienssias, que ja tem fejto em algumas pessoas e que ou os
poem sanos, ou os deruba de todo;
Ao
24º: Não hé porto do mar, nem o há, nestas terras vezinhas;
Ao
25º: Nao há nesta freguezia, couza murada, nem torre alguma, nem castelo;
Ao 26º: Naô padesseo nesta freguezia,
couza alguma ruina no terramoto, de mil setecentos e sincoenta e sinco;
Ao
27º: Naô há couza digna e memoria de que se possa dar conta. O que se procura
saber dessa Serra hé o seguinte.
Ao 1º Naô há nesta freguezia, Serra
alguma, nem o mais que se procura saber sobre esta materia, e por iso nao
respondo ao segundo, e terçeiro, interrogatorio. Ao 4º Naô há rio algum; que
nassa da Serra. Ao 5º Não há vilas, que estejão na Serra, nem ao longo dela. Ao
6º Naô há fontes, de propriedades algumas, mais do que se dis asima no
interrogatorio vinte e três. Ao 7º Naô há minas de metaes ou cantarias, de
pedras, nem de outros matriaes de astimação. Ao 8º Naô ha plantas, nem ervas
medessinaes. Ao 9º Naô ha mostejros, nem Igrejas, de romagem nem Imagens
milagrozas. Ao dessimo e dessimo, e undessimo, e dessimo segundo, e dessimo
tercejro, não tenho nem ha couza de que se possa dizer.
Ao
1º Naô há rio, e so ribejra esta se chama das Galveas nasçe no sitio da
Estalage, do Cantarinho termo da Vila, das Galveas. Ao 2º Nasçe munto pouco
caudeloza, e corre todo o anno em partes mas com pouca forteleza. Ao 3º Nesta
Ribejra, emtra outra ribejra mais pequena, que corre todo o anno, e mais viva
das agoaz esta nasçe junto da Erdade da Val de Figuejra e entra na outra junto
da Erdade dos Moneroz logo por sima da Senhora da Rabassa, e se chama a da
Sagolga e aonde nasçe, e entra , he tudo desta freguezia e termo da Vila de
Avis. Ao 4º Naô he navegavel, nem capas, de embarcaçaô alguma. Ao 5º Em toda
ela hé de curso sossegado e quieto. Ao 6º Corre do Nascente para o Poente. Ao
7º Os peixes que cria, saô bordalos, pardelhas, couza de munto pouca comssideraçaô.
Ao 8º Não há pescarias algumas em todo o anno, maiz que pesca de cana, por devertimento
e naô ser de canasde outro genero de pescariaz. Ao 9º Estas pescarias saô
livres, e naô sej que haja Senhor algum delas. Ao 10º Estas suas margens se
cultivão em algumas partes de Verão por milho meudo, grosso e feijaô fradinho e
naô tem arvoredo algum. Ao 11º Naô há notissia, que as suas agoas, tenhô
vertude alguma. Ao 12º Sempre comsserva o mesmo nome, asim no prinsipio, como
no fim, e não há memoria de que em outro tempo tivesse outro nome. Ao 13º Emtra
em Sor junto da Erdade da Sagolga, freguezia de Monteargil, Arsserdagado [sic]
de Santarem, Patriarchado de Lisboa. Ao 14º Tem pouco desta freguezia que será
quazi meja legoa, huma penha de huma e outra parte, que ainda que fosse capas
de embarcassoens naô podiaô navegar, dela para sima, por cahir a agoa mais de
vinte, ou trinta, palmos para baxo. Ao 15º Naô tem ponte alguma em toda a sua
distançia, nem de pedra de cantaria, nem de madejra. Ao 16º Tem dois moinhos
que estaô, quazi demolidoz e há muntos annos, que senaô uza delez e naô tem
lagares de de azejte nem pizons, noraz nem outro algum emgenho. Ao 17º Naô há
notissia que em tempo algum, se tenha tirado ouro, de suas arejas e só na
ribejra da Sagolga que emtra nela se tira munta quantidade de area preta dela se
preve munta gente desta provinssia. Ao 18º Todos os moradores nesta freguezia,
sempre Sempre uzaraô das agoaz livremente, e sem penssaô alguma. Ao 19º Esta
ribejra tem tres, para quatro legoaz, desde o seu nassimento, athe ao seu fim,
onde se mete no rjo de ser, onde acaba. Ao 20º Naô há couza notavel de que se
possa fazer mençaô digna de memoria. Santa Margarida 3 de Majo de 1758.
De
Vossa Excelencia Reverendissima
O
mais obediente e menor sudito
Frei
Manuel Gonçalves Curado [assinatura autógrafa]»
Cortesia de Ofélia Sequeira, 12 Agosto 2013