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Pão-de-ló de chocolate e laranja aromatizado com baunilha e raspa de laranja e
limão ou bolo axadrezado de alperce com cobertura de chocolate?, pergunta a
Mal, sem esperar que eu fale. Consigo perceber pelo tom de voz sufocado da
minha mulher que tem o auscultador do telefone preso entre o queixo e o peito e
que está, sem dúvida, a bater qualquer coisa de fazer crescer água na boca,
enquanto falamos. Posso permitir-me indagar se... Céus, Nicholas, não sejas tão
pomposo, diz a Mal com vivacidade. Não estás no tribunal agora. O teu bolo de
aniversário, como é óbvio. A Metheny insiste em acabá-lo esta tarde, antes de
chegares a casa. Sorrio com a referência à minha filha mais nova, com a qual
tenho em comum o dia de aniversário, os dedos dos pés anormalmente compridos e
um estranho gosto por gelado de pistácio. Tinha esperanças de virmos a partilhar
muito mais, mas a ecografia demonstrou ser muito exacta e o meu muito esperado
rapaz e potencial companheiro de pesca e críquete acabou por ser uma
surpreendente terceira menina. Como prémio de consolação, deixaram-me dar-lhe o
nome do meu herói de toda a vida, o guitarrista de jazz Pat Metheny.
Deixa-me
falar com ela e perguntar: qual é que ela sugere, postulo. Não sejas tolo,
Nicholas. Tu é que disseste que ela estava a insistir... Há mais de uma maneira
de insistir em relação a qualquer coisa, como deves saber. A sua voz doce
assume, sem dúvida, um tom de cama, e sinto um súbito grito de ânimo nas minhas
calças, à medida que vejo flashes espontâneos de imagens de coxas cor de
caramelo, bem tonificadas, meias de seda e renda cor de café na minha
imaginação. A feiticeira da minha mulher sabe bem o efeito que está a ter em
mim, a julgar pelo riso que agora substitui o seu tom de voz sedutor. Seja como
for, diz a cantar, não podes falar com ela ou deixa de ser uma surpresa. Eu
dou-te a surpresa... Vá lá, não ia ser mesmo uma surpresa, pois não? És mesmo
convencida, digo. O que te faz pensar que não estou a falar da última factura
de impostos municipais? O que te faz pensar que eu não estou? Estás? Estou a
falar de bolos, Nicholas. Vamos, decide-te antes que tenha de colocar duas
velas no da Metheny, em vez de uma. Também vou ter direito a velas? Sim, mas
não quarenta e três, senão o bolo derrete. Mulher cruel. Tu também vais ter
quarenta e três um dia. Mas só daqui a seis anos. Agora, Nicholas. O pão-de-ló
de chocolate e laranja, claro. Seria possível pedir raspas de chocolate amargo a
acompanhar?
Sim.
Metheny, tira o pé da tigela do papá, por favor. Obrigada. Como correu o caso
da encantadora Sra. Stephenson? Sete dígitos, informo. Quase o dobro do último
divórcio. Que maravilhoso. Eu podia pensar em divorciar-me. Oiço a minha mulher
lamber os dedos e a minha erecção quase fica à vista por cima da secretária. Se
eu achasse que conseguias obter sete dígitos com isso, querida, eu próprio
tratava dos papéis por ti - proponho, gemendo para dentro, enquanto ajeito os
testículos. Infelizmente, é impossível fazer omeletas sem ovos. Ah, antes que
me esqueça: o Ginger telefonou da garagem, esta manhã, por causa do Volvo. Ele
disse que arranjou não sei-quê desta vez, mas que não se vai aguentar muito
mais tempo nas pernas. Ou deveria dizer rodas? A voz dela ecoa no meu ouvido,
enquanto anda pela cozinha. Seja como for, ele acha que não vai ser capaz de
tratar dele para a maldita inspecção, em Janeiro. Por isso, não há nada a fazer,
tenho de arregaçar as mangas e acabar o 1ivro, receber o resto do
adiantamento... Querida, eu penso que consigo comprar um carro novo para a minha
mulher se ela precisar, interrompo, espicaçado. Às vezes parece que te esqueces
que agora faço parte dos associados neste escritório, não tens necessidade
nenhuma de dares cabo de ti a escrever livros de culinária nesta fase.
Eu
gosto de escrever livros de culinária, diz a Mal tranquilamente. Oh, meu Deus,
Metheny, não faças isso. Pobre coelho. Desculpa, Nicholas, tenho de ir.
Encontramo-nos na estação. À hora do costume? Suprimo um suspiro de desespero. Pelo
amor de Deus, Malinche, é a festa da reforma do William esta noite! Não me
digas que te esqueceste! Ficaste de apanhar o das cinco e vinte e oito de
Salisbury para Waterloo, lembras-te? Pois fiquei, concorda Mal, serena, não me
esqueci mesmo, só não me lembrei por um momento. Espera um segundo...» In Tess Stimson, O
Clube do Adultério, 2007, Publicações dom Quixote, LeYa, 2009, ISBN
978-972-203-792-4.
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