segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Poesia na esperança. Maria Soares. «Ó mesquinha sociedade que ignoras os teus iguais, até quando, com falsidade, falas de direitos vitais?!»

jdact

Falas!...
«Corações sangram de dor
sem terem nem lar nem pão,
sem afecto e sem amor,
choram a sua solidão.

Dos bons tempos de outrora
resta apenas a lembrança,
pois nos tempos de agora,
é fraca a luz da esperança.

Alguns têm por colchão
a dura pedra da calçada
o lençol é um cartão,
a colcha, de luar raiada.

Os ricos, de mesa farta,
crianças de mãos vazias,
a indiferença que mata,
leva os pobres à PACIA.

Ó mesquinha sociedade
que ignoras os teus iguais,
até quando, com falsidade,
falas de direitos vitais?!»

Sombras
À luz plúmbea da madrugada,
vindas da Terra dos Sonhos,
há sombras que dançam,
altas, esguias, belas, feias…
Brancas, azuis, vermelhas, medonhas…
Há fadas, duendes, fantasmas…
Há medos que tomam corpo e se insinuam
devagar, subtis, nos pensamentos...
Há gritos, risos, gargalhadas, tropelias…
Lágrimas secas, que queimam
enquanto rolam, silenciosas,
Pelos rostos adormecidos.
São sonhos, pesadelos, ansiedades
que povoam e agitam as noites…
Causam dor, espasmos, tormentos…
Rasgam o íntimo, ferem sem dó...
Mas o dia, mansamente,
vai chegando na cor rosada,
que aclara a cada instante.
E as sombras, cansadas, vão adormecendo,
vencidas, aninhadas na gaveta dos delírios,
envoltas nos lençóis do desassossego,
abraçadas aos companheiros de folia,
arrumadas no quarto escuro do inconsciente.
Lentamente, libertos das sombras,
os olhos vão-se abrindo, serenos,
à luz que se repete a cada dia,
ávidos de novas realidades».

Minha terra branca
«Subo ao castelo velhinho
e parece ouvir ainda, no largo,
o clamor das pelejas, justas e torneios.
Os gritos da defesa contra os invasores
suevos, visigodos, romanos, mouros…
No alto da Torre, o meu olhar
parte à desfilada pela imensidão,
montado no corcel do espanto…
Em breve, mas bela viagem,
passo por terras de Espanha,
rumo ao Norte e vou lá longe,
à Estrela, onde a terra e o céu se encontram…
No regresso à planície Alentejana,
subo ao Monte de S. Paulo e S. Gens
e rezo aos pés da lendária Padroeira,
a Sª da Pena, que a todos abençoa docemente.
Estrada fora, renovo os pulmões
de ar puro, cheirando a caruma,
e olho, enlevada, a alvura
do casario brilhando ao sol,
descendo a colina, qual véu de noiva...
Volto a descer e percorro ruas e vielas,
soalheiros e floridos recantos...
Aprecio os testemunhos da História:
a Sinagoga, as portas ogivais,
o maior conjunto Ibérico,
as igrejas velhinhas, a bela Matriz,
as Fontes de puras águas,
praças, frescos jardins, monumentos…
É Castelo de Vide, minha terra mãe!
Meu poema de Luz e de Amor!
Amada pelo Sol e beijada pelo Luar!
Moura encantada de etérea beleza,
de grandes e anciãs tradições,
enfeitiça e prende o viajante,
que na sua paz, pureza e cor,
reencontra a sua Alma!»

Poemas de Maria Soares, in “Páginas Soltas”

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