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Falas!...
«Corações
sangram de dor
sem terem
nem lar nem pão,sem afecto e sem amor,
choram a sua solidão.
Dos
bons tempos de outrora
resta
apenas a lembrança,pois nos tempos de agora,
é fraca a luz da esperança.
Alguns
têm por colchão
a dura
pedra da calçadao lençol é um cartão,
a colcha, de luar raiada.
Os ricos,
de mesa farta,
crianças
de mãos vazias,a indiferença que mata,
leva os pobres à PACIA.
Ó mesquinha
sociedade
que ignoras
os teus iguais,até quando, com falsidade,
falas de direitos vitais?!»
Sombras
À luz
plúmbea da madrugada,vindas da Terra dos Sonhos,
há sombras que dançam,
altas, esguias, belas, feias…
Brancas, azuis, vermelhas, medonhas…
Há fadas, duendes, fantasmas…
Há medos que tomam corpo e se insinuam
devagar, subtis, nos pensamentos...
Há gritos, risos, gargalhadas, tropelias…
Lágrimas secas, que queimam
enquanto rolam, silenciosas,
Pelos rostos adormecidos.
São sonhos, pesadelos, ansiedades
que povoam e agitam as noites…
Causam dor, espasmos, tormentos…
Rasgam o íntimo, ferem sem dó...
Mas o dia, mansamente,
vai chegando na cor rosada,
que aclara a cada instante.
E as sombras, cansadas, vão adormecendo,
vencidas, aninhadas na gaveta dos delírios,
envoltas nos lençóis do desassossego,
abraçadas aos companheiros de folia,
arrumadas no quarto escuro do inconsciente.
Lentamente, libertos das sombras,
os olhos vão-se abrindo, serenos,
à luz que se repete a cada dia,
ávidos de novas realidades».
Minha
terra branca
«Subo
ao castelo velhinhoe parece ouvir ainda, no largo,
o clamor das pelejas, justas e torneios.
Os gritos da defesa contra os invasores
suevos, visigodos, romanos, mouros…
No alto da Torre, o meu olhar
parte à desfilada pela imensidão,
montado no corcel do espanto…
Em breve, mas bela viagem,
passo por terras de Espanha,
rumo ao Norte e vou lá longe,
à Estrela, onde a terra e o céu se encontram…
No regresso à planície Alentejana,
subo ao Monte de S. Paulo e S. Gens
e rezo aos pés da lendária Padroeira,
a Sª da Pena, que a todos abençoa docemente.
Estrada fora, renovo os pulmões
de ar puro, cheirando a caruma,
e olho, enlevada, a alvura
do casario brilhando ao sol,
descendo a colina, qual véu de noiva...
Volto a descer e percorro ruas e vielas,
soalheiros e floridos recantos...
Aprecio os testemunhos da História:
a Sinagoga, as portas ogivais,
o maior conjunto Ibérico,
as igrejas velhinhas, a bela Matriz,
as Fontes de puras águas,
praças, frescos jardins, monumentos…
É Castelo de Vide, minha terra mãe!
Meu poema de Luz e de Amor!
Amada pelo Sol e beijada pelo Luar!
Moura encantada de etérea beleza,
de grandes e anciãs tradições,
enfeitiça e prende o viajante,
que na sua paz, pureza e cor,
reencontra a sua Alma!»
Poemas
de Maria Soares, in “Páginas
Soltas”
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