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Novas
Cartas Portuguesas.
Ou de como Maina Mendes ôs ambas as mãos sobre o corpo e deu um pontapé no
cu dos outros legítimos superiores
«(…)
Considerai, irmãs minhas, cá hoje e
ensoalhada a febra por este brando sol
se repartindo e bem rendido, turista o dar e o brotar para esta novidade
literária que há-de vender-se, eu vos asseguro, ó seis patinhas sonsas de nós
três caminheiras, considerai cá hoje e abrivos, nós para nós e eles. Considerai
a cláusula proposta, a desclausura, a exposição de meninas na roda, paridas a
esconsas da matriz de três. Moças só meio meninas bem largadas da casa de seus pais
e arrematados já seus dotes em leilão de país. Nem vai ser isto, pois não é?
Que vai ser de nós e Mariana depois desta partida, choro de ausência, de alguma
falta, falha de Mariana ou quem, ou dela querer sabê-la? Só que Beja ou Lisboa,
de cal ou de calçada, há sempre uma clausura pronta a quem levanta a grimpa
contra os usos: freira não copula mulher parida e laureada escreve mas não pula
(e muito menos se o fizer a três) com a Literatura, LITERATURA, não se faz rodinhas,
porém, ledores, haveis comprado Mariana e nós, tendo ela montado o cavaleiro e
bem no usado para desmontar suas / doutras razões de conventuar.
E nós, e nós, de quem, a quem o
rumo, os dizeres que nem assina assinados vão, o trio de mãos que mais de três
não seja e anónimo o coro? Oh quanta problemática prevejo, manas, existiremos
três numa só causa e nem bem lhe sabemos disto a causa de nada e por isso as mãos
nos damos e lhes damos, nos damos o redondo da mão o som agudo, a escrita, roda
de saias-folhas, viração de quê? Garantia porém a
quem folheia, o tema é de passagem, de passionar, passar paixão e o tom é
compaixão, é compartido com paixão. 3/3/71
Teresa
De rosas tu teresa e a
voz de vidro
prestes e libelinha do
quebrar-se e nunca
de leve astuciando os
ditos gastos esgotas
e travo tenro trevo
fica; um silvo (tu de silves),
plácido um sulco
gravemente meneado
sobre alguma cal, um
equilíbrio manso
o fácil contornado pela
ponta da boca
dado de anca leda barca
e pétala
polpa de embalo ao eixo
aceso, não corrupto
estame em luz
único de um fio e de um
metal de ti teresa. 6/3/71
Isabel
Ouve Isabel as pedras são antigas
desmerecido temos o seu trato
de basalto macio ou irisado
quartzo.
Revéns do que as sustenta até
areias peso.
Não do granito digo ou não apenas
de todas trazes signo e majestade
mesmo de areias.
Ouve de areias digo e risco
reduto mineral cristal de rocha branca
saibas
que o som tem o metal e ar também
e entre gotas de ar se afia a
música palavra.
Tu tens intacta a ordem na figura
da carne
e recuado gesto
ordem da pedra imposta e recortada
transparecente ou de vedada cor
safira seixo colina rosa aurora
só a fala areada te desgasta.
Ouves
como
as águas maninhas te corroeram porte
e nome de isabel
contorna ilha coral alto
e a detém.
Antes azálea foras
flor de pedra o nome e
arredio.
Não por inerte mole
entendo que chegaste
ou te devolvo
perigas onde o suporte
é estreito
e sulco fere o acto
separado
contigo o tempo exacto
gasta te tem por vã o olho astuto sílex
talhando no polido face
e aresta rosácea
despojo posto em guarda
pacto sombra
desmerecida a rocha
iluminada.
Ouve Isabel por baças e
antigas
como de pedra luz são
escassas as que estão
e dão sinal
consente o que moldado
está por belo
a carnadura suave e
alevantada. 6/3/71»
In Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho Costa,
Novas Cartas Portuguesas, 1972, edição anotada, Publicações dom Quixote, 1998, 2010,
ISBN 978-972-204-011-2.
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