segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Elvas na Idade Média. Fernando B. Correia. «Embora não fosse, certamente, um caso isolado na região, a ocupação durante a I Idade do Ferro deixou fortes marcas no “castro de Segóvia”, implantado de forma dominante sobre o Caia, a norte de Elvas»


jdact

Antecedentes Históricos
«(…) A Idade do Bronze deixou também vestígios na zona de Elvas. Já as relações entre o mundo mediterrâneo e os povos de origem indo-europeia assentados no interior da Península no período pré-romano parecem ter passado por várias vias de penetração. Para além das cidades do litoral do actual Algarve, a zona de Elvas deve ter desempenhado também um papel difusor. Embora não fosse, certamente, um caso isolado na região, a ocupação durante a I Idade do Ferro deixou fortes marcas no castro de Segóvia, implantado de forma dominante sobre o Caia, a norte de Elvas. Vários cientistas que trabalharam neste local e outros que se têm debruçado sobre Segóvia consideram que, pelo espólio encontrado, aqui chegaram nos séculos VIII e VII a.C., influxos de procedência centro-europeias. Essa circunstância leva alguns autores a afirmar que Segóvia é um povoado importante ligado ao processo de expansão das comunidades de feição cultural continental para ocidente. Contudo, as influências de tipo continental cruzam-se neste território com outras, de proveniência mediterrânea. Na verdade, em Segóvia encontraram-se cerâmicas orientalizantes, relacionadas com a presença da actividade comercial fenícia, nas escavações arqueológicas, além de cerâmicas pintadas ibero-púnicas e de campanienses, que surgem desde os níveis médios, e até de sigillatas que surgem nos níveis superiores, de plena romanização, encontram-se inúmeras cerâmicas indígenas... Para este período, as fontes escritas permitem já lançar alguma luz sobre os povos proto-históricos que viveriam nesta zona. O Alentejo, mais concretamente a zona entre o Tejo e o Guadiana, parece ter sido uma zona influenciada pelos Célticos, povo pré-romano referido por autores clássicos; contudo, na zona do actual nordeste alentejano deveria haver Lusitanos. Assim, Célticos e Lusitanos, ambos de origem indo-europeia, parece terem-se fixado na região actualmente conhecida como Alto Alentejo.
Dipo, que alguns autores localizam nas cercanias de Elvas, bem como o cabeço de Segóvia, devem ter correspondido a antigos núcleos urbanos pré-romanos, ligados ao mundo dos Célticos. Contudo, em Segóvia, onde se realizaram escavações arqueológicas, os resultados preliminares indicam que se trata de um povoado aparentemente fundado no século VII a.C., mas que indicia, a partir de achados cerâmicos de tipo púnico, ibero-púnico e grego, contactos com áreas mediterrânicas. Teresa Gamito identificou 16 povoados na II Idade do Ferro em redor de Santa Eulália, um dos quais Segóvia, que estaria ligado, entre outros aspectos, à mineração. Outros vestígios da Idade do Ferro se têm encontrado perto de Elvas; ou seja, em termos gerais, no período proto-histórico, a zona de Elvas parece localizar-se numa zona onde confluem influências culturais de proveniência diversa, registando-se uma espécie de encontro de culturas: centro-europeia por um lado, (tendo em conta os vestígios encontrados em Segóvia e a permanência de povos de origem céltica) e oriental de procedência mediterrânea, por outro (no século XVII, o cónego Aires Varela interessa-se pela questão da origem e fundação de Elvas, e sem ter nas suas mãos os elementos arqueológicos hoje disponíveis, pensa que a região de Elvas foi cruzada por várias influências, de origem céltica; este autor afirma que Elvas teria sido fundada pelos celtas, em 999 a.C.; refere, porém. que outros autores discordam da sua proposta apontando outros povos como fundadores de Elvas, pelo que, o historiógrafo elvense admite que, com os Celtas viessem alguns Helvécios, Elvecios, e que, dessa forma, o nome Elvas teria surgido devido à semelhança, a nível de riqueza, encontrada pelos ditos Helvécios, entre a sua região de origem e a zona de Elvas. Ainda segundo Aires Varela, os cartagineses teriam estado em Elvas, convivendo pacificamente com os seus moradores; para este autor a riqueza e prosperidade de Elvas já se manifestava claramente nestes tempos). Não será a última vez que se assiste à chegada de influências destas procedências.

Época romana
Os romanos entram na Península Ibérica em 218 a. C.. Contudo, o domínio do que mais tarde se virá a chamar o Alentejo só terá lugar entre 202 e 139 a.C.. Em meados do século II a.C., o Alentejo é teatro de operações entre lusitanos e romanos, sucedendo-se os raids, nos quais se destaca a acção do chefe lusitano Viriato». In Fernando Branco Correia, Elvas na Idade Média, Edições Colibri, CIDEHUS, Universidade de Évora, 2013, ISBN 978-989-689-365-1.

Cortesia de EColibri/JDACT