sábado, 21 de janeiro de 2017

Poemas de Amor. Inês Pereira. «Então, descontentes disto, levaram-na a longes terras esconderam-na entre umas serras, onde o sol não era visto e a Crisfal deixaram guerras»

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«Num tão alto lugar, de tanto preço,
este meu pensamento posto vejo
que desfalece nele inda o desejo,
vendo quanto por mim o desmereço.

Quando esta tal baixeza em mim conheço,
acho que cuidar nele é grão despejo,
e que morrer por ele me é sobejo
e mor bem para mim do que mereço.

O mais que natural merecimento
de quem me causa um mal tão duro e forte
o faz que vá crescendo de hora em hora.

Mas eu não deixarei meu pensamento,
porque, inda que este mal me cause a morte,
un bel morirwir tutta la vita onora».


Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho logo mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
que, como o acidente em seu sujeito,
assim como a alma minha se conforma,

está no pensamento como ideia;
e o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.
Sonetos de Camões, in “Poesia


«A qual, logo aquele dia
que soube de seus amores,
aos parentes de Maria
fez certos e sabedores
de tudo quanto sabia.
Crisfal não era então
dos bens do mundo abastado
tanto como do cuidado;
que, por curar da paixão,
não curava do seu gado.

E como em a baixeza
do sangue qu’é pensamento
é certa esta certeza,
cuidar que o merecimento
está só em ter riqueza,
inquiriram que teriam
e do amor não curaram;
em que bem se descontaram,
riquezas, se faleciam,
por males que sobejaram.

Então, descontentes disto,
levaram-na a longes terras
esconderam-na entre umas serras,
onde o sol não era visto
e a Crisfal deixaram guerras.
Além da dor principal,
para mor pena lhe dar,
puseram-na em lugar
mau para dizer seu mal,
mas bom para o chorar.

Ali os dias passava
em mágoas, da alma saídas,
dizer a quem longe estava,
e chorava por perdidas
as horas que não chorava.
Em vale mui solitário e
sombrio e saudoso,
send’o monte temeroso
para o choro necessário
para a vida mui danoso.
[…]
Poema de Cristóvão Falcão, in “Crisfal

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