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A Longa Espera pelo Trono. O mundo que viu Sancho nascer e crescer
«(…) Pouco depois de se separarem, Fernando II decidiu fundar Ciudad
Rodrigo, no que perece ser uma resposta-desafio às provocadoras investidas do
português. Por seu lado, Afonso Henriques perece ter decidido dar a sua réplica
ao leonês, ao contratar o casamento de sua filha Mafalda com Afonso II de Aragão,
como forma de garantir apoios fora da esfera leonesa-castelhana e ao conjugar
essa manobra diplomática com a intensificação do esfoA aliança matrimonial não
se concretizou, mas já o mesmo não se pode dizer das investidas expansionistas
de Afonso Henriques, que desde então até 1169 não voltará a dar tréguas a
nenhum dos seus vizinhos.
rço de conquista em todas
as frentes, a sul, a leste e a norte. O contrato de casamento entre a filha de
Afonso Henriques e o herdeiro do trono de Aragão foi de facto celebrado, em
finais de Janeiro de 1160, em Tui, mas a sua concretização seria frustrada pela
morte prematura da infanta.
A luta renovada em todas as fronteiras, parecia, assim, corresponder
à necessidade cada vez, mais premente de defrontar um Fernando II
progressivamente mais seguro e ameaçador, tal como devia parecer evidente e
quem observasse o crescendo das sucessivas agressões que perpetrava contra os
interesses de seu sobrinho, Afonso VIII de Castela e dos tutores dele. Com
efeito, a decisão de fundar solenemente Ciudad Rodrigo e de restaurar o seu bispado,
transformando esse núcleo populacional, que ficava numa região cujo domínio
ainda era muito contestado, mas cuja importância estratégica parecia cada vez
maior, num autêntico baluarte simbólico, onde se aliariam ao mesmo tempo a
fixação populacional de facto e a afirmação da soberania leonesa de direito,
afectava de forma negativa vários ar{rios grupos sociais.
Provocou, desde logo, o desconforto e má vontade dos vizinhos de
Salamanca, que viam as suas prerrogativas e sua anterior posição ameaçadas pela
rivalidade do novo núcleo populacional que agora se fundava, implantado numa
posição estratégica muito favorável, por se situar, por um lado, na confluência
de duas das estradas mais importantes de penetração para leste e para sul (a
Colimbriana e a Dalmatica), e por outro, na perigosa esfera de influência de
duas das cidades mais importantes da região, Salamanca e Zamora. Não admira,
por isso, que em breve encontremos Afonso Henriques nesses paragens, nem que o
encontremos, logo em inícios de Janeiro de 1163, a entrar pela Extremadura adentro
e a apossar-se de Salamanca, com o assentimento e colaboração de seus
moradores, que entendiam a vantagem desta aliança, numa união de interesses bem
típica desta sociedade tão fluida e sempre em permanente autoconstrução e consolidação
política.
Se o controle de Salamanca por parte do rei português foi efémero, já o
redobro da pressão na Galiza foi mais perene, com as regiões de Límia e Toronho
a integrarem de novo o território português, sem que Fernando II, pressionado
demais com os problemas com Castela, pudesse reagir de forma eficiente ou
atempada. Tradicionalmente, aceita-se que a pressão do lado castelhano teria
forçado o leonês a aceitar a paz com Afonso Henriques (Pontevedra/Lerez em
1165), a qual seria ainda reforçada pelo casamento de Fernando II com Urraca
Afonso, a filha mais velha de Afonso Henriques, casamento que, de facto, se
consumou nesse mesmo ano de 1165. Naturalmente que com esta aliança se
esperaria que a rivalidade e hostilidade entre o monarca leonês e o português
acalmasse um pouco. Tendo em vista as questões que Fernando II sustentava nas
regiões que faziam fronteira, quer com Castela, quer com os árabes, não seria de
estranhar que preferisse suspender a guerra com o seu vizinho português e
dedicar-se com maior disponibilidade às restantes linhas de guerra que mantinha
em paralelo, pelo que um casamento com a filha do rei português deveria parecer
um bom contributo para a manutenção de um entendimento harmonioso. Mas a
realidade viria a revelar-se bem diferente do que se imaginava em 1165. Já em
meados do século XIII, quando terminava a sua crónica sobre a Hispânia, Rodrigo
Toledo registava, de forma falsamente surpreendida, que Fernando II, apesar de
ser genro de Afonso Henriques, raramente tinha estado em paz com ele. Nunca se
tinham dado bem». In Maria João Violante Branco, Sancho I, O Filho do Fundador, Temas e
Debates, Livraria Bertrand, 2009, ISBN 978-972-759-978-3.
Cortesia de Bertrand/JDACT