Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…)
A sala era impressionante; só com o seu tamanho conseguia deslumbrá-la. O tecto
tinha uns quinze metros de altura, só três metros menos alto que os típicos edifícios
de pedra calcária de Manhattan. A sala media vinte e quatro metros de largura e
noventa de comprimento, aproximadamente a longitude de todo um bloco de prédios.
Pelas enormes janelas em arco entrava a luz do sol. E logo estava o tecto, uma
pintura de um céu com nuvens do Yohannes Aynalem, rodeada por ornamentadas
talhas douradas de madeira de querubins, golfinhos e volutas. Mas a sua parte
favorita daquela sala eram os lustres de quatro fileiras, de madeira escura e
latão, com máscaras de sátiros esculpidas entre as lâmpadas.
Sloan
deteve-se frente ao balcão de empréstimos que presidia a sala. Era mais que um
balcão: ornamentada, a peça de madeira escura abrangia a metade do comprido da sala
e era, basicamente, o centro de comando. Estava dividido em onze espaços com um
guiché em arco cada um, separados por colunas dóricas romanas. Sloan inclinou-se
sobre um dos ocos. Aqui está, o seu novo lar, anunciou. Regina sentiu-se
confusa. Vou trabalhar no balcão de empréstimos? Sim, respondeu Sloan. Mas...
Especializei-me em Arquivos e Conservação. A sua chefe dirigiu-lhe um olhar de
desaprovação, com uma mão de unhas perfeitamente arrumadas sobre o quadril.
Não
se precipite. É inteligente, como o foram todos os candidatos para este posto.
Poderá abrir caminho como aos demais. Por outro lado, a biblioteca tem os
arquivos cuidados por Margaret. Teve oportunidade de conhecer Margaret? Ela
mesma está muito bem conservada. Acredito que trabalhe aqui desde que se colocou
a primeira pedra. Regina sentiu uma sensação de vazio no estômago. Trabalhar no
balcão de empréstimos não era um trabalho muito estimulante. A única coisa que
faria seria sentar-se no seu posto, receber os pedidos e inseri-lo no
computador e aguardar que alguém trouxesse os livros das diversas salas e
espaços para poder entregar ao visitante, que aguardaria sentado numa mesa com
uma senha. Tentou não se deixar levar pelo pânico. Todos tinham que começar em algum
lugar, disse a si mesma. E poderia ser pior: poderiam colocá-la no balcão de
devoluções. O importante era que se encontrava ali. No final era bibliotecária.
E demonstraria que era digna desse trabalho.
Regina
pegou o saco de papel marrom em que levava o almoço e sentou-se lá fora, no
alto da escada da biblioteca. Abriu a garrafa térmica de leite e contemplou a
Quinta Avenida. É a nova bibliotecária?, perguntou-lhe uma senhora que se
deteve a seu lado antes de descer a escada. Sim, sou Regina, respondeu ela,
enquanto mastigava tapando a boca com a mão. Bem-vinda. Sou Margaret Saddle. Incomodava
por estar sentada enquanto a mulher permanecia em pé, Regina levantou-se e
alisou a saia vincada de algodão que vestia. Ah, sim. Trabalha na Sala de
Arquivos, não é? A senhora Saddle assentiu. Há cinquenta anos. Verdade, é...
Impressionante.
Margaret
tinha o cabelo branco e o usava meio preso, estilo anos 60, e os olhos eram de
um azul muito claro. Além de blush no rosto, não usava maquilhagem. Estava com
um colar de pérolas de várias voltas e, se Regina tivesse que apostar, diria
que eram autênticas. A mulher voltou o olhar para o edifício. Este é um lugar
que vale a pena dedicar toda uma vida profissional, afirmou. Embora tudo foi de
mal a pior desde que perdemos o Brooke Astor. Bom, prazer em conhecê-la. Venha-me
visitar no quarto andar quando quiser. Provavelmente terá dúvidas e Deus sabe
que nenhum outro se apressará em respondê-las, se é que sabem a resposta. Bom,
desfrute do sol.
Regina
desejou dizer-lhe que se especializou em Arquivos e Conservação, mas não queria
que parecesse que estava competindo com ela. Entretanto, tinha a certeza que
preferia trabalhar com a Margaret Saddle do que com a Sloan Caldwell. A mulher afastou-se
e Regina sentou-se novamente no degrau, esquecendo que tinha deixado a garrafa
térmica com leite aberta. Derrubou-a, o leite derramou pela escada e a pesada
tampa caiu ricocheteando como uma bola». In Logan Belle, A Bibliotecária,
tradução de Bruh Santos, Editorial Planeta, 2013, ISBN 978-989-657-440-6.
Cortesia de
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