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«(…) A 2.ª Divisão, comandada pelo
Príncipe da Paz, Manuel Godoy, partiu de Albuquerque em direcção a Badajoz, a 15
de Maio, entrando em Portugal, junto a Campo Maior, no dia 20. Após algumas
trocas de tiros de artilharia junto a esta vila, dirigiu-se para Santa Eulália,
S. Vicente, Barbacena e Arronches, onde, juntamente com forças da Divisão de
Vanguarda, tomou parte no combate de dia 29. Permaneceu durante três dias na vila
de Arronches, e depois marchou para Portalegre, participando nas operações da
Divisão de Vanguarda, incluindo o combate de Flor da Rosa, bem como em acções contra
camponeses que atacaram soldados espanhóis na Serra de S. Mamede.
A 3.ª Divisão, comandada pelo marquês
de Castelar, estacionada em Valverde, avançou no dia 20 de Maio para Olivença e
Juromenha, cujos governadores se renderam sem a menor resistência, e tomou posições
junto a Elvas, onde se registou algum tiroteio, e a Campo Maior. Participou no cerco
àquela praça, até dia 27 de Maio, posicionando-se depois em Santa Eulália. Finalmente,
a 4.ª Divisão, comandada pelo tenente-general Francisco Xavier Negrete, concentrada em Badajoz,
empenhou-se exclusivamente no cerco a Campo Maior.
A 25 de Janeiro de 1801, o coronel
Inácio Freire Andrade ficava desobrigado do governo da Praça de Campo Maior, que
passou a ser assegurado interinamente pelo tenente coronel de engenheiros, Matias
José Dias Azedo. Vejamos, em primeiro lugar, quem era o novo Governador
Militar de Campo Maior e quais os meios ao seu dispor para uma defesa eficaz.
Matias José Dias Azedo, governador da
Praça de Campo Maior
Matias José Dias Azedo, um dos mais
notáveis engenheiros militares portugueses do seu tempo, acabara de ser nomeado
para o governo interino da praça. Vejamos quem era esse ilustre militar. Foram seus
pais Caetano Dias Azedo, natural do Brasil, e Iria Joaquina Rosa, natural de Beja.
Nasceu em Lisboa a 24 de Fevereiro de 1758 e ali morreu a 11 de Fevereiro de 1821,
sendo sepultado no convento de S. Pedro de Alcântara.
Com vinte e dois anos, assentou praça
em 11 de Março de 1780; foi promovido a 1.º tenente de infantaria com exercício
de engenheiro por decreto de 2 de Junho de 1782, ascendendo regularmente aos diversos
graus da hierarquia militar. Era Capitão em Dezembro de 1791, e lente da Academia
Real de Fortificação, Artilharia e Desenho, quando foi detido e entregue à Inquisição
(maldita), a 5 daquele mês.
As causas dessa prisão relacionam-se com a sua filiação na maçonaria, fazendo
parte do numeroso grupo de maçons que então foram alvo de devassa por parte das
autoridades, dentro da política repressiva de Pina Manique, que levou à perseguição
de 1791-1792. Matias Azedo pertencia a uma loja maçónica de Lisboa, fundada por
volta de 1778, da qual faziam parte diversos militares. Foi condenado a abjurar
de levi e a sujeitar-se a penitência espiritual e a instrução religiosa.
Em Junho de 1798, o seu nome aparece
ligado à Sociedade Marítima, Militar e Geográfica para o desenho, gravura e impressão
das cartas hidrográficas e militares, fundada por iniciativa do Secretário de Estado
da Marinha e Ultramar, Rodrigo de Sousa Coutinho. Tinha, entretanto,
prosseguido a sua carreira militar. Era sargento-mor, posto equivalente a Major,
desde 4 de Abril de 1795, e atingia os postos de tenente coronel em 1800, de coronel
e de brigadeiro em 1801, ano em que, a 16 de Outubro, foi nomeado Chefe de
Brigada na Estremadura e Beira. Depois, foi promovido a marechal de campo, em7 de
Julho de 1810, e a tenente general, o mais elevado posto do exército português,
em 10 de Junho de 1813. O posto de coronel adquiriu-o, justamente, em 23 de Maio
de 1801, pela maneira como fortificou e defendeu, naquele ano, a praça de Campo
Maior, de que era governador». In António Ventura, O Cerco de Campo Maior
em 1801, Edições Colibri, Centro de Estudos Documentais do Alentejo, 2001, ISBN
972-772-270-9.
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