Urraca, a Legítima
«(…) As contínuas pugnas entre
mouros e cristãos ofereciam, assim, largo campo para glórias e ambições
pessoais aos que procuravam a sorte na Península. Terá sido o caso destes dois familiares,
que souberam mostrar-se bastante valorosos. Seja qual for a data da sua vinda,
o certo é que o rei de Leão decide, por reconhecimento e gratidão, entregar a
Raimundo a mão de Urraca, a filha legítima, que, à época, contava apenas oito
anos e se encontrava debaixo da tutela do mestre, o presbítero Pedro. O
casamento só virá a consumar-se quando ela atinge os treze anos. Como
contrapartida, o sogro irá encarregar o genro do governo da Galiza e do
território ao sul de Coimbra e Santarém, evitando deste modo que tão larga extensão
de terra, longe da sua acção imediata, pudesse tornar-se independente.
Urraca irá provar que não é menos
ambiciosa do que Teresa. Mas não tem, do meu ponto de vista, a sua subtileza e
inteligência. O marido de Urraca falece em 1107. Afonso, filho de ambos, ainda
menor, ficando sob tutela da viúva. Dois anos mais tarde, morre o rei de Leão e
Castela, seu avô, que, por seu lado, deixa outro rebento, Sancho, tido com
Zaida, a bela moura filha do rei de Sevilha. Além do afecto que, dizem, lhe
dedicava, fortes pressões políticas fizeram com que seu pai o reconhecesse como
herdeiro e lhe desse, de imediato, o principado de Toledo. O papa Gregório VII
e boa parte da nobreza reagiram negativamente a esta decisão. Quis o destino
que, em 1108, Sancho viesse a morrer na terrível batalha travada com os
mouros em Uclés, pelo que o rei declarará Urraca, sua filha primogénita
legítima, a única herdeira da Coroa. Mas, cauteloso, determina, também, que, no
caso de ela contrair segundas núpcias, seja seu neto Afonso Raimundes a reinar
na província da Galiza.
Dado que o filho de Urraca tem
apenas três anos, a Corte começa a movimentar-se para casar a sua mãe com alguém
que pudesse assegurar a defesa da pátria. A escolha recai em Afonso I de
Aragão, conhecido como o Lidador. Todavia, Gregório VII não aprova o
matrimónio, com base no facto de os esposos serem parentes próximos. Urraca
vê-se, então, obrigada à separação. Como represália, o rei de Aragão irá
empreender uma luta feroz contra os prelados que lhe foram adversos.
Teresa, a Bastarda
Já a Henrique irá ser dada a mão
da lindíssima Teresa. Juntamente com ela, receberá o governo de várias terras
entre o rio Minho e as margens do Tejo, que abrangiam os núcleos urbanos de
Braga, Porto e Coimbra, onde se concentravam a aristocracia militar e a
religiosa. Também se ignora em que data a união de ambos se terá realizado. Há
quem aponte para1096, afirmando que a noiva andaria pelos vinte anos, como é o
caso de Fonseca Benevides e de Manuel Dias Duarte. Do meu ponto de vista, esta
seria uma idade já avançada, tendo em atenção não só a tradição como,
sobretudo, aquela que tinha dona Urraca quando se casou. Logo, inclino-me mais
para que fosse menor e nascida, como já disse, em 1081. Do casal nasceriam
quatro filhos: dona Sancha, que se casou com o conde Fernão Mendes; dona
Urraca, que se casou com o conde Bermudo Pérez Trava; dona Teresa, que se casou
com Sancho Nunes Barbosa, e Afonso Henriques». In Helena S. Cabral, As Nove
Magníficas, 2008, Clube do Autor, 2017, ISBN 978-989-724-330-1.
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