As
primeiras prostitutas da história. Demóstenes
«(…)
Prostituta
com papel de destaque na história de Cristo, foi, inclusive, canonizada pela
igreja católica, Maria Madalena poderia ter-se tornado um símbolo na luta pela
aceitação da actividade. Mas o que ocorreu foi o contrário: como personificou o
estereótipo de prostituta arrependida, acabou por disseminar uma imagem
negativa sobre a prostituição, ao reforçar a ideia de que é preciso abandonar a
actividade para redimir-se dos pecados e ser perdoada por Deus. Durante a Idade
Média, as prostitutas actuantes eram excomungadas da igreja católica. Mas as
que se arrependiam eram perdoadas e aceitas pela sociedade. Houve até um
movimento de conversão, em que a igreja estimulou fiéis a recuperar prostitutas
e casar-se com elas. Também surgiram comunidades monásticas de ex-prostitutas
convertidas, que receberam o nome de Lares de Madalena. Elas
proliferaram pela Europa, tendo sido financiadas, na sua maioria, pelo clero.
Além de Maria Madalena, a igreja enalteceu diversas outras prostitutas que
salvaram as suas almas pelo arrependimento, como Santa Pelágia, Santa Maria
Egipcíaca, Santa Afra e outras. O curioso é que nenhuma passagem na Bíblia
afirma que Maria Madalena foi prostituta. Os textos sagrados a mencionam
como pecadora, de quem Jesus expulsou sete demónios, mas não especificam qual
seria o seu passado. Provavelmente, o que a levou a ser vista como prostituta
foi a identificação com um relato de Lucas sobre uma pecadora anónima, descrita
de forma a sugerir ser uma prostituta, que em certa passagem unge os pés de
Cristo. O relato de Lucas, a respeito de tal mulher arrependida, antecede a
citação nominal de Maria Madalena. No Ocidente cristão, a versão de que Maria
Madalena seria essa mulher foi a mais difundida. No Oriente, a mulher anónima e
Maria Madalena
são vistas como pessoas diferentes.
Foi
também Sólon quem, percebendo os lucros obtidos pelas prostitutas, tanto as
comerciais quanto as sagradas, organizou o negócio, criando bordéis oficiais,
administrados pelo Estado. Neles, havia grande exploração das mulheres, que
eram praticamente escravas. Junto com os bordéis oficiais, muitas meretrizes
independentes exerciam o seu comércio, apesar da legislação de Sólon. Pela
primeira vez na História, as mulheres estavam sendo catalogadas, oficialmente.
(...) Assim, de mãos dadas, nasceram as estatais e privadas.
Maria
Regina Cândido, lembra que foi a pressão sobre a terra, com o grande aumento da
população grega, que levou Sólon a criar os primeiros bordéis. Isso porque ele
trouxe para a região estrangeiros ceramistas, com o intuito de ensinar à
população excedente uma nova actividade, já que a agricultura não absorvia mais
a todos. Para que os estrangeiros não molestassem as esposas e filhas de cidadãos
gregos, ele criou um espaço de prostituição oficial na periferia da cidade, os
bordéis, explica a coordenadora. Segundo Maria Regina, as prostitutas ficavam
em frente ao cemitério, na região do cerâmico, onde estavam instaladas as
oficinas dos ceramistas, e também na região do Porto do Pireu, onde eram
chamadas de pornes, daí vem a palavra pornografia.
As
prostitutas dos bordéis eram estrangeiras, trazidas para a Grécia
exclusivamente para cumprir esse papel. Mas muitas mulheres gregas, depois de
casamentos desfeitos por suspeita de traição ou outros desvios de
comportamento, não viam outro caminho a não ser prostituir-se. Essas,
estigmatizadas, juntavam-se às estrangeiras nos bordéis oficiais. As
prostitutas do templo de Afrodite deixaram de ser vistas como sacerdotisas e
viraram escravas.
Muitas
prostitutas eram cultas e instruídas, e cumpriam o papel de entreter os líderes
daquela sociedade. Cobravam alto preço pela sua companhia e podiam ou não ceder
aos desejos sexuais do cliente. São as hetairae, amantes e musas dos
maiores poetas, artistas e estadistas gregos, explica Maria Regina. As hetairae
conduziam os seus negócios abertamente em Atenas, trabalhando independentemente
tanto dos bordéis do Estado quanto dos templos. A prostituição sagrada também
sobreviveu, embora timidamente, durante o período da Grécia clássica. Havia
templos em toda a Grécia, especialmente em Corinto, dedicado à deusa Afrodite.
As prostitutas do templo não eram vistas como sacerdotisas, eram tecnicamente
escravas. Mas, por serem consideradas criadas da deusa, mantinham a aura de
sacralidade e eram homenageadas pelos clientes. Demóstenes pagava caro por
essas prostitutas. Ele ia de Atenas até Corinto só para ter relações sexuais
com elas, diz Maria Regina». In Patrícia
Pereira, As prostitutas na História, Jacques Rossiaud, A Prostituição na Idade Média, 1991, Margareth Rago,
Os Prazeres da Noite, 2008, Revista Leituras da História, wikipédia, 2009.
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