Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…) Cada vez mais gente ia à bruxa para adquirir unguentos e
poções. Mas a bruxa não queria realmente que as pessoas morressem porque se
isso ocorresse, deixariam de comprar poções e unguentos: inventou um novo
plano. Todos ganhavam um saquinho que era muito parecido com o saquinho de
Carinhos, porém era frio e continha Espinhos Frios. Os Espinhos Frios faziam as
pessoas sentirem-se frias e espetadas, mas evitava que murchassem. Daí para frente,
sempre que alguém dizia eu quero um Carinho Quente, aqueles que tinham medo de
perder um suprimento, respondiam: não posso dar-lhe um Carinho Quente, mas, se
você quiser, posso dar-lhe um Espinho Frio. A situação ficou muito complicada
porque, desde a vinda da bruxa havia cada vez menos Carinhos Quentes para se
achar e estes se tornaram valiosíssimos. Isto fez com que as pessoas tentassem
de tudo para consegui-los. Antes da bruxa chegar as pessoas costumavam reunir-se
em grupos de três, quatro, cinco sem se preocuparem com quem estava dando
carinho para quem. Depois que a bruxa apareceu, as pessoas começaram a juntar-se
aos pares, e a reservar todos os seus Carinhos Quentes exclusivamente para o
parceiro. Quando se esqueciam e davam um Carinho Quente para outra pessoa, logo
se sentiam culpadas. As pessoas que não conseguiam encontrar parceiros
generosos precisavam trabalhar muito
para obter dinheiro para comprá-los. Outras pessoas tornavam-se simpáticas e
recebiam muitos Carinhos Quentes sem ter de retribuí-los. Então, passavam a
vendê-los aos que precisavam deles para sobreviver. Outras pessoas, ainda, pegavam
os Espinhos Frios, que eram ilimitados e de graça, cobriam-nos com cobertura
branquinha e estufada, fazendo-os passar por Carinhos Quentes.
É importante termos consciência de que qualquer forma de
estímulo leva o indivíduo a perceber-se vivo... Que serve como um factor de
equilíbrio da pessoa, ainda que por vezes instável. Levine realizou uma série
de experiências com ratos e chegou à conclusão de que qualquer estímulo, ainda
que seja negativo, é melhor do que o abandono. O cientista separou-os em três
grupos: o primeiro era colocado numa gaiola e submetido a choques eléctricos
todos os dias, na mesma hora, por um certo tempo; e o segundo grupo também era
colocado na gaiola de choques, todos os dias, à mesma hora, pelo mesmo período
de tempo, mas não recebia os choques. O último grupo era deixado na gaiola
permanentemente sem ser sequer manuseado. Para surpresa de Levine, não havia,
no final da experiência, grande diferença no comportamento dos dois primeiros
grupos, enquanto que o terceiro, que não recebia qualquer estímulo,
comportou-se de forma bastante diferente. Quando colocados em ambientes
estranhos, que lhes causavam tensões, os ratinhos do grupo que não recebia
estímulos agacharam-se no canto da caixa, amedrontados
e sem qualquer curiosidade para explorar; os que estavam habituados à tensão
(choque eléctrico) no entanto, exploravam o ambiente, tanto quanto aqueles que
não receberam choque. A estimulação positiva ou negativa, como nos mostra
Levine, acelera o funcionamento do sistema glandular supra-renal, que desempenha
um papel importantíssimo no comportamento dos animais adultos. Sem qualquer
dúvida, os animais manipulados abrem os olhos mais cedo, sua coordenação motora
é desenvolvida também mais cedo, o pelo do corpo cresce com mais rapidez e
tendem a ser significativamente mais pesados quando desmamam. Apresentam,
também, maior resistência a uma injecção de células de leucemia, por um tempo
mais longo.
Fome sexual. O desejo sexual é também uma fome natural. É natural
o desejo e esta vontade de concretizar esse desejo. que se manifesta.
Simplesmente... Como um botão tende a formar uma rosa, como a vontade que se
tem de agarrar e ser agarrado... É poder viver esse desejo... Assim como comer
quando se tem fome... É tanto amor que se tem o desejo de estar dentro do
outro, e ter o outro dentro de si, no mais profundo da entrega. Ter sexo como
alimento, sem conflitos, como encontro amoroso, que seja muito mais que uma
simples fome de estruturas. As estruturas são pontos de referência e os seres
humanos necessitam ter as suas referências, ver o mundo de uma maneira
estruturada, como por exemplo: a cama de uma certa forma, as suas cadeiras, o
que vai fazer com o tempo, com sua vida. Já pensou o que seria de nós, se não
tivéssemos permanentemente onde dormir, se a nossa casa mudasse de endereço
todos os dias? Lembra-se da confusão que muitas vezes se dá quando alguém
arruma os seus livros, a tal bagunça organizada? As estruturas levam as pessoas
a terem as suas referências. É comum alguém dizer: eu sinto-me ansioso pois não
sei o que nós somos; se amigos, amantes ou namorados... E quando as aquela coisa da paixão, da entrega...» In Roberto
Shinyashiki, A Carícia Essencial, 1984, Editora Pergaminho, colecção Gente,
1995, ISBN 978-972-711-224-1.
Cortesia
de EPergaminho/JDACT