Cortesia
de wikipedia e jdact
A
mais bela noite do mundo
«Hoje
será o fim!
Hoje
nem este falso silêncio
dos
meus gestos malogrados
debruçando-se
sobre
os meus ombros nus
e
esmagados!
Nem
o luar, plano baço de cenário velho,
escutando
a
minha prisão de viver
a
lição que me ditavam:
menino! Acende uma vela na tua vida,
que
o sol, a luz e o ar
são
perfumes de pecado.
Tem
braços longos e tentadores, o dia!
Menino!
Recolhe-te na sombra do meu regaço
que
teus pés
são
feitos de barro e cansaço!
(Era
esta a voz do papão
pintado
de belo
na
máscara de papelão).
Eram
inúteis e magoadas as noites da minha rua…
Noites
de lua
que
lembravam as grilhetas
da
minha vida parada.
Amanhã,
terás
os mestres, as aulas, os amigos e os livros
e
o espectáculo da morgue
morando
durante dias
nos
teus sentidos gorados.
(…)
Hoje,
será
o fim!
Hoje,
nem
a sombra do que há-de vir,
nem
os mestres, nem os amigos, nem os livros,
nem
a fragilidade dos meus pés
feitos
de barro e cansaço!
Todas
as minhas revoltas domadas,
todos
os meus gestos em meio
e
as minhas palavras sufocadas
terão
a sua hora de viver e amar!
Hoje,
nem
o cadáver a sorrir na morgue,
nem
as mãos que ficaram angustiosas,
arrepiadas
no
seu medo de findar!
Hoje,
será
a mais bela noite do mundo!»
Poema de Fernando Namora, in “Mar de Sargaços”
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