Perguntas
«Que suspensa
morte
se levanta?
Que trigo boca
se doba
na manhã?
Que lentidão
se acende
na garganta?
Que gado é este
comendo
a sua lã?
Lassa a maneira
do cristal do tempo
laço do corpo a nascer na roupa
Rente à nudez
que te mostro aberta
demora as mãos numa carícia louca
Nardo a crescer
já perto dos meus
seios
Seta dormente
já rente
dos meus lábios
Que lentidão
secreta
nos defende?
Que loucura
secreta
nos invade?
Perversa imagem
a minha
nos teus olhos
Talvez um espanto
uma incerteza
breve
Uma tontura leve
que nos prende
dentro do gesto que feito não nos
serve
Mas já nos toma
a sede
da voragem
Mas já os dedos
vão
na
sua arte
Os meus em mim
e os teus tão devagar
que em mim desfolham e em ti se
alastram
Seda das coisas
onde se penetra
piscina funda de nadarmos sós
Se o caminhar em nós é tão
secreto
como descer ainda mais degraus
para
caminhos ainda mais desertos?»
Poemas de Maria Teresa Horta, in ‘As Palavras do Corpo’
In
Maria Teresa Horta, As Palavras do Corpo, Publicações dom Quixote, Lisboa,
2014, ISBN 978-972-204-903-0.
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