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Comunhão e Libertação apareceu na
Itália no início dos anos 70, como uma violenta reacção dos estudantes
conservadores às desordens estudantis dos anos 60, sob a liderança de um padre
milanês baixinho, Dom Giussani. Durante os últimos vinte anos, os seguidores do
movimento de maior prestígio na Itália, a CL, receberam os apelidos mais
estranhos, como lacaios de Wojtyla, monges de Wojtyla, Samurais
de Cristo e Stalinistas de Deus. A razão desses apelidos: as actividades
agressivas desses militantes em defesa da promoção das crenças e valores
católicos tradicionais, bem como a sua devoção total ao papa. O movimento tem
provocado uma verdadeira devastação no seio da igreja italiana, bem como no
seio da política daquele país, e dispõe de uma vasta rede de operações por
todas as regiões da nação e mais um certo número de publicações. Até há pouco
tempo, ele dispunha até mesmo de uma ala política, o Movimento Popular,
considerado por muita gente como um partido católico independente. Muito embora
a visão do mundo que o povo da CL cultiva seja extremamente ligada à do papa (e
esta simpatia se traduziria num apoio entusiasmado durante o início dos anos
80), as extravagâncias de alguns membros, tanto no plano religioso quanto no plano
político (vale lembrar o envolvimento de bom número de figuras públicas
italianas nos recentes escândalos de suborno), levaram o Vaticano a
distanciar-se deles a partir de 1990.
O
Neocatecumenato foi fundado na cidade de Palomeras Altas, nos arredores de
Madrid, em 1964, por um artista
espanhol, Kiko Arguello, que mais tarde juntou-se a Carmen Hernandez, uma
ex-freira. Depois de ter constituído uma
comunidade entre ciganos e nómadas na cidade das cabanas,
Arguello e Hernandez decidiram aplicar aquelas técnicas rudes de recrutamento
que eles haviam desenvolvido nas paróquias normais que, segundo acreditavam,
exprimiam também a mesma necessidade de uma conversão radical. Nos primórdios da igreja cristã, o baptismo era precedido de um estágio de iniciação e de ensino que se chamava o
catecumenato. Arguello acredita que os cristãos baptizados de hoje só não são pagãos no nome e que, por conseguinte, precisam
submeter-se a um processo de iniciação análogo, embora, nesses casos, esta
iniciação ocorra após
o baptismo. E foi assim que nasceu o neo, ou seja, o novo
catecumenato. A única grande diferença é que, enquanto na igreja primitiva o
catecumenato durava três anos, na versão de Arguello ele dura mais de vinte. As
diferentes séries de rituais secretos, passagens e
os níveis crescentes de comprometimento com o movimento são revelados aos iniciandos
de maneira muito gradual. Não é permitido a estes iniciantes fazer perguntas
sobre o que vem pela frente e eles não podem revelar a ninguém detalhes do Caminho,
nem mesmo a outros membros do movimento que se encontram em níveis inferiores. Depois de efectuar
uma mudança estratégica para se estabelecer em Roma, em 1968, exactamente quatro anos após a sua
fundação, o movimento espalhou-se rapidamente pelas paróquias da diocese da
capital italiana e conheceu então uma fantástica expansão-relâmpago. Hoje, ele
está presente em 786 dioceses, com 13
mil comunidades em 3.500 paróquias. O
número de filiados é estimado em torno de um milhão. Sinistro nos seus métodos, o Neocatecumenato é também considerado por um bom
número de teólogos católicos como herético na sua maneira de ensinar alguns
pontos centrais da doutrina cristã. No entanto, paradoxalmente, entre os novos movimentos
este é o que está mais estreitamente ligado ao
papa, que, teologicamente, é um tradicionalista. Dizem
que os fundadores do NC, Kiko Arguello e Carmen Hernandez, sentem-se perfeitamente em casa
quando se encontram nos aposentos papais: consta que tomam o café da manhã com o papa, almoçam com ele e têm livre trânsito por todos as salas do palácio». In Gordon Urquhart, A Armada do Papa, tradução de
Irineu Guimarães, Editora Record, 2002, ISBN 978-850-106-222-2.
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