sábado, 28 de julho de 2018

A Verdadeira História. Margaret George. «Já sei, já sei!, respondeu Natã, irritado. Ele me pediu que lhe desse isto, disse Maria, entregando a seu pai o cajado que Jesus e José tinham esculpido»

jdact

A Mulher que Amou Jesus
«(…) O que eu gostaria de saber é por que quis ficar lá? É essa a questão! Maria queria contar a sua mãe que aquela família era maravilhosa, queria dizer-lhe como havia se divertido conversando com eles, queria contar a aventura da dor de dente. Mas sabia que a decisão de José, de quebrar deliberadamente as normas do Sabá, não iria agradar aos seus pais. Preferiu não contar e, baixando os olhos, disse apenas: eles parecem muito generosos. Seu pai aproximou-se. A cidade de Nazaré tem má reputação. E aquele rapaz, Jesus... Fiz-lhe umas perguntas sobre as escrituras e... E ele conhece-as melhor que o senhor, disse Silvanus, que estava atrás dele. Quando o senhor lhe perguntou sobre aquela passagem em Oseias, e deu uma risada, sabe qual é, aquela que o senhor gosta de citar sobre o lamento da terra...
Já sei, já sei!, respondeu Natã, irritado. Ele me pediu que lhe desse isto, disse Maria, entregando a seu pai o cajado que Jesus e José tinham esculpido. Tinham insistido que ela o trouxesse, como se quisessem acalmar Natã. Ela tinha recusado, era uma peça muito delicada e eles a haviam trabalhado com carinho, mas eles tinham sido intransigentes. O quê? Natã tomou o cajado e examinou-o. Seus lábios tremiam. Rodou o cajado, olhando o trabalho entalhado. Isso é coisa de vaidade!, disse, jogando o cajado no chão. Maria assustou-se. Silvanus aproximou-se, abaixou-se e pegou o cajado. É pecado menosprezar um presente desse jeito, disse. Ah, é?, retrucou seu pai. E onde é que as escrituras dizem isso? Virou-lhes as costas e foi-se embora. Silvanus ficou passando a mão no cajado. Quando você se encontrar com Jesus de novo, terá de lhe perguntar. Tenho a certeza de que existe alguma passagem nos textos sagrados sobre não profanar um presente. E ele vai saber, com certeza. Não vou voltar a encontrar-me com Jesus, disse Maria. Estava certa disso. Seu pai a proibiria. Mas quando voltassem para Magdala, estava decidida a ir visitar a sua nova amiga, Quezia. É claro que seu pai também iria discordar, mas se não soubesse, não poderia proibir.
Magdala os esperava. Os peregrinos que voltavam eram sempre o centro das atenções por alguns dias, aguardados com ansiedade pelos amigos: como são as ruas de Jerusalém? Havia muitos judeus estrangeiros? E o Templo, é realmente um esplendor? Entrar nos pátios do Templo é a coisa mais importante da vida? Às vezes, a atenção que lhes era solicitada e aquela adulação momentânea eram mais inebriantes que a própria viagem. Depois ia desaparecendo, inevitavelmente. E o próximo grupo de peregrinos, no caso, os que iriam a Jerusalém para o Yom Kippur, tomaria o lugar deles como centro das atenções. Passaram-se várias semanas, seis Sabás, antes que Maria e Quezia tornassem a se ver. Tinham conseguido comunicar-se e combinaram que Maria iria a casa de Quezia, onde faria uma refeição com a família. Seria uma tarde em que Maria supostamente ia ver uma exposição de tecelagem, numa casa próxima à sua, que seria feita por um mestre tecelão de tapetes, de Tiro. Ela assistiu ao trabalho do artesão por alguns minutos, enquanto pensava: é muito bonito, mas eu jamais seria capaz de fazê-lo. E saiu da oficina, à beira do lago, apressando o passo quando atravessou o mercado, cheio de gente, e seguiu a rua que ia na direcção norte, para a região da cidade que ficava na colina em que estavam as casas novas. A ladeira era íngreme e ela parou um pouco para tomar fôlego. À sua volta, as casas iam ficando maiores e mais bonitas, com muros para a rua, o que deveria significar que o que quer que houvesse lá dentro merecia ser bem guardado». In Margaret George, A Paixão de Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN 972-883-911-1.

Cortesia de SdeEmergência/JDACT