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IX
«…) Montaram o palco
mas não se sabe quem
nem quando.
O céu antigo e inteiro
este palco é
onde
numa representação de
estrelas
desfila a vida toda.
Símbolos?
Espelhos?
Lições?
Dos factos pelas ideias
a génese
que no estrado do céu
se representam.
Arcaica tragédia da
saudade
que foi da origem o
ventre
onde
sol e terra
se separaram.
Primeiro drama
constante e eterno
em que a luz e o mundo
se amam e se matam.
No palco do céu
sempre se representa o
mesmo acto.
No céu passa
da vida o primeiro crime.
A saudade numa chama
ligando
A luz e o mundo
A treva e a alma.
O céu é uma arena
onde
no pó das galáxias
uma estrela se ajoelha.
Touro pronto a morrer
num círculo de giz
de uma deusa às mãos de
prata.
Sol na fria espuma
se dobrando do
Atlântico.
Das ideias o teatro
é sempre o mesmo.
Farça?
Drama?
Um sol de ossos
esconde-se no ventre da
escuridão.
Das suas feridas
o sol ao sangue lambe
para que a manhã se
levante.
Do touro o teatro
alimentando a terra.
Do touro o movimento
a morte unindo ao sol.
Das estrelas o teatro
criando a vida.
Os astros são da vida as
máscaras.
As ideias que a tudo
presidem.
Os nomes que tudo regem.
Da terra a história».
Poema de António Cândido Franco, in ‘Estâncias Reunidas’
In António Cândido Franco, Estâncias Reunidas, 1977-2002, Quasi
edições, biblioteca Finita Melancolia, Vila Nova de Famalicão, 2002, ISBN
972-8632-64-9.
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