sexta-feira, 20 de julho de 2018

Um Estudo em Torno da Revista Portuguesa (1889-1892). Adriana Mello Guimarães. «Este fervilhar de ideias novas toca também Portugal, ainda que de forma muito especial. Mas como é que esta vaga de modernização chegou a Portugal e, por extensão, ao Brasil?»

jdact

Com a devida vénia à Doutora Adriana M. Guimarães.

Introdução
«(…) Assim sendo, entendemos por modernização o processo de recepção, assimilação e institucionalização de certas ideias básicas que permanecem e determinam as outras manifestações culturais como próprias da modernidade. Mesmo que essas ideias não sejam encontradas em fórmulas precisas, como numa doutrina, elas exprimem uma maneira de pensar as relações do homem com o mundo, uma preferência por certos valores e um estilo geral de raciocinar, implícito em diferentes doutrinas. Não se trata de um sistema de pensamento, senão de uma mentalidade. E nos parece caber ressaltar que este modo do ser moderno assente na mudança coexiste necessariamente com a maneira antiga de pensar, com a qual frequentemente entra em conflito (nesse contexto, devemos recordar Adriano Duarte Rodrigues: tradição e modernidade são (…) categorias e representações relativas da experiência, não podendo ser definidas independentemente uma da outra. Ou seja, mais uma vez, assistimos a uma espécie de contaminação, de cruzamento de conceitos e de permanência). Segundo Habermas, à medida que a modernização se foi automatizando, os princípios da modernidade, que estão na sua origem, se esvaíram. Nesta perspectiva, Berman, em Tudo o que é sólido desmancha no ar, considera a modernidade como uma condição, um estado, e a modernização como um processo, um estado de vir a ser (1986, p. 10). No moderno, Habermas vê pois, antes de mais, uma consciência de ruptura e a actualidade é o momento privilegiado da realização do moderno.
Enfim, a tentativa de compreender e explicar os principais contornos da modernidade foi trabalhada por vários teóricos, em diferentes domínios. No entanto, é impossível não reconhecer a existência de um campo de pensamento comum: a noção da modernidade significou a emergência de novos valores, atitudes, de modos de vivência do tempo, do espaço, da organização da vida política e moral, do surgimento de novas instituições e de uma nova forma de assimilação do espírito científico.

A modernização em língua portuguesa
Este fervilhar de ideias novas toca também Portugal, ainda que de forma muito especial. Mas como é que esta vaga de modernização chegou a Portugal e, por extensão, ao Brasil? Antes de mais, cabe assinalar a relação de reciprocidade única e exclusiva entre as culturas portuguesa e brasileira, a partir de uma tradição filosófica comum, o aristotelismo conimbricense [(esse aristotelismo conimbricense consiste não só no propósito de fidelidade a Aristóteles mas também se afirma contra a doutrina de Lutero assumida pelos teólogos da Reforma, no propósito de conciliar a teologia tomista e a exigência humanística do livre-arbítrio da vontade humana (Cerqueira, 2002, cap. 1)]. Em Portugal, o conflito ideológico entre antigos e modernos decorreu entre o século XVII até as reformas pombalinas do século XVIII. Ora, a recusa portuguesa da ideia de modernização assume características quer de ordem socioeconómica, quer de carácter mental, quer de natureza cultural. Afinal, no século XVII, enquanto a filosofia prolongava uma temática e uma metodologia ainda escolástica, a ciência estava praticamente ausente das preocupações da inteligência portuguesa de então (Serrão, 1989, p. 27). Sublinhe-se um argumento utilizado para afirmar que, em Portugal, antes da reforma pombalina, se vivia um ambiente de inércia científica: tudo se devia ao facto de as obras de Galileu, Descartes, Newton e outros se encontrarem oficialmente (a meio do século XVIII) interditas ao ensino. Assim, assumindo um absolutismo que pretende iluminado pela clarividência da razão, o monarca José I delega em Sebastião José Carvalho Melo (recorde-se que João V morreu em 1750 e o seu sucessor, José I (1750-1777), formou o novo governo. Para a secretaria dos Estrangeiros e Guerra e para a aritmética política, escolheu Sebastião José Carvalho Melo, que já passava dos cinquenta anos, e regressara da corte austríaca, onde desempenhara uma apagada representação diplomática. Antes disto, fora durante vários anos representante português em Inglaterra. Era formado em Direito por Coimbra e estava ligado aos meios literários, visto que foi sócio da Academia Portuguesa de História, onde prestou uma curta colaboração. Era um homem mal aceite pela nobreza antiga. Ele era fidalgo de cepa provinciana, de uma família onde predominavam magistrados e que ganhara o dinheiro para construir em Lisboa um palácio (na actual rua do Século) onde o estadista nasceu. Depressa Sebastião Carvalho Melo dominou outros ministérios. Em 1759, o rei promoveu-o à alta nobreza, com o título de conde de Oeiras. Posteriormente (1770) foi nomeado marquês de Pombal. A figura do marquês de Pombal é uma das mais controvertidas da história portuguesa. Foi-o ainda em sua vida. Na base desta polémica estão as antinomias fundamentais que se estabelecem entre tradição e inovação e entre tirania e liberdade. Quando o rei José I morreu e a rainha dona Maria I subiu ao trono, em 1777, o marquês foi afastado do seu trabalho na corte), futuro marquês de Pombal, toda a autoridade necessária à modernização do país». )». In Adriana Mello Guimarães, A Modernização, Problema Cultural Luso - Brasileiro, Um Estudo em Torno da Revista Portuguesa (1889-1892), Tese de Doutoramento em Literatura, Évora, Instituto de Investigação e Formação Avançada, Setembro de 2014.

Cortesia de UdeÉvora/IIFA/JDACT