«(…)
Quando se levantou para se dirigir ao frigorífico, segui-a. Tirou uma garrafa e
fechou a porta. Virou-se para mim, enlacei-a pela cintura e puxei-a. Colei a
minha boca e o meu corpo contra ela. Segurava a garrafa de cerveja com o braço
estendido. Beijei-a. Voltei a beijá- la. Lydia empurrou-me. Está bem», disse
ela, chega. Temos trabalho a fazer. Voltámos a sentar-nos e bebi a minha
cerveja, enquanto Lydia fumava um cigarro. O barro continuava entre nós. A
campainha da porta soou. Lydia levantou-se. Uma mulher gorda com olhos loucos,
suplicantes, entrou. Esta é a minha irmã, Glendoline. Olá. Glendoline puxou por
uma cadeira e começou a falar. Sabia falar. Teria falado mesmo que fosse uma
esfinge, mesmo que fosse uma pedra. Eu perguntava-me quando é que ela se
cansaria e se decidiria a partir. Mesmo depois de ter renunciado a ouvi- la,
tinha a impressão de estar a ser bombardeado por pequenas bolas de
pingue-pongue. Glendoline não tinha nenhuma noção de tempo nem a menor ideia de
que poderia estar a mais. Falava ininterruptamente. Ouve, acabei por dizer, quando
é que te vais embora? Depois teve início o número das irmãs. Começaram a falar
uma com a outra. Estavam ambas em pé e agitavam os braços. As vozes subiram de
tom. Elas ameaçavam-se mutuamente com violência física. Finalmente, perto do
fim do mundo, Glendoline efectuou uma espectacular rotação do torso, lançou-se
para a saída, batendo com a porta de rede, e desapareceu, mas ouviam-se ainda
as suas lamúrias sonoras, em direcção ao seu apartamento no fundo do pátio, aquele
que desacertava com o outro, agradava-me. Lydia e eu regressámos para o canto
da cozinha e sentámo-nos. Ela apanhou o seu instrumento de esculpir. Os seus
olhos mergulharam nos meus.
Numa
manhã, alguns dias mais tarde, entrei no pátio de Lydia no momento em que ela
chegava, vinda do jardim. Tinha ido visitar a sua amiga Tina, que vivia num apartamento
ao fundo da rua. Nessa manhã parecia eléctrica, um pouco como da primeira vez
que estivera em minha casa com a laranja. Oh, disse, tens uma camisa nova! Era
verdade. Comprara a camisa porque tinha pensado em Lydia e desejava estar com
ela. Eu sabia que ela tinha consciência disso e me estava a gozar, mas não me
importava. Lydia abriu a porta e entrámos. O barro estava pousado no centro da
mesa da cozinha sob um pano húmido. Puxou o pano. O que é que achas? Lydia não
me tinha poupado. As cicatrizes lá estavam, o nariz de alcoólico, a boca de
macaco, os olhos reduzidos a fendas, e lá estava também o sorriso estúpido,
contente e ridículo de um homem feliz sem saber porquê. Ela tinha trinta anos e
eu mais de cinquenta. Não me importava. Sim, disse eu, apanhaste-me em cheio.
Gosto. Parece quase acabado. Vou ficar deprimido quando estiver feito. Passámos
manhãs e tardes soberbas.
Isto
interferiu com a tua escrita? Não, só escrevo à noite. Nunca consegui escrever
de dia. Lydia agarrou no instrumento de esculpir e olhou para mim. Não te
preocupes. Tenho muito mais trabalho a fazer. Quero que isto fique bem. No seu
primeiro intervalo, foi buscar uma garrafa de whisky ao frigorífico. Ah, disse eu. Como queres?,
perguntou-me, levantando um grande copo. Metade, metade. Preparou a bebida e
bebi num só trago. Ouvi falar de ti, disse-me. Sobre quê? Sobre o modo como
corres com tipos da tua porta. E que bates nas tuas mulheres. Que bato nas
minhas mulheres? Sim, disseram-me. Agarrei-me à Lydia e perdemo-nos no mais
longo beijo de sempre. Segurei-a de encontro ao rebordo do lava-loiças e
comecei a roçar o meu ca… nela. Ela afastou-me, mas apanhei-a de novo a meio da
cozinha. A mão de Lydia alcançou a minha e levou-a para dentro das suas cuecas.
A ponta de um dos dedos sentiu o alto da sua … Estava molhada. Enquanto
continuava a beijá-la, enfiava- lhe o dedo dentro da … Depois tirei a mão, afastei-me,
agarrei na garrafa e servi-me doutra bebida. Sentei-me à mesa da cozinha, Lydia
deu a volta, e sentou-se do outro lado, olhando para mim. Depois pôs-se de novo
a trabalhar no barro. Eu bebia devagar o meu whisky. Escuta, disse eu, sei qual é o teu problema. O
quê? Sei qual é o teu problema. O que é que queres dizer? Olha, disse eu, esquece.
Eu quero saber. Não te quero ferir. Raios, quero saber do que estás a falar. Ok,
dir-te-ei se me deres outro copo. Está bem. Lydia pegou no meu copo vazio e
encheu-o com metade de whisky e
metade de água. Bebi-o, de novo, de um só trago. Então?, perguntou-me. Ora
bolas, tu sabes. Sei o quê? Que tens uma grande … O quê? Não é nada de excepcional.
Tiveste duas crianças». In Charles Bukowski, Mulheres, 1978, 1985, Editora
dom Quixote, 2001, ISBN 978-972-202-006-0.
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