domingo, 2 de setembro de 2018

O Mistério das Catedrais. Interpretação Esotérica. Fulcanelli. «Todas as estátuas baixam o rosto para o solo. Os Magos anunciam que essa Criança nasceu em Belém e aconselham ao rei que envie embaixador»

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«(…) A rosa representa então, só por si, a acção do fogo e a sua duração. É por isso que os decoradores medievais procuraram traduzir nas suas rosáceas os movimentos da matéria excitada pelo fogo elementar, tal como se pode ver no portal norte da catedral de Chartres, nas rosáceas de Toul (Saint Gengoult), de Saint-Antoine de Compiègne  etc.. Na arquitectura dos séculos XIV e XV, a preponderância do símbolo ígneo, que caracteriza nitidamente o último período da arte medieval, fez dar ao estilo dessa época o nome de gótico flamejante. Certas rosas, emblemáticas do composto, têm um sentido particular que sublinha mais as propriedades dessa substância que o Criador assinou com a sua própria mão. Este sinal mágico revela ao artista que seguiu o bom caminho e que a mistura filosofal foi preparada canonicamente. É uma figura radiada com seis pontas (digamma), chamada Estrela dos Magos, que radia à superfície do composto, ou seja, sobre a manjedoura onde Jesus, o Menino Rei, repousa.
Entre os edifícios que nos oferecem rosáceas estreladas de seis pétalas, reprodução do tradicional Selo-de-Salomão, citemos a catedral de Saint-Jean e a igreja de Saint-Bonaventure de Lyon (rosáceas dos portais); a igreja de Saint-Gengoult, em Toul; as duas rosáceas de Saint-Vulfran d’Abbeville; o portal da Calenda na catedral de Rouen; a esplêndida rosa azul da Sainte-Chapelle etc.. Sendo este signo do mais alto interesse para o alquimista, não se trata do astro que o guia e lhe anuncia o nascimento do Salvador?, reunimos aqui, de bom grado, certos textos que relatam, descrevem, explicam a sua aparição. Deixaremos ao leitor o cuidado de estabelecer todas as aproximações úteis, de coordenar as versões, de isolar a verdade positiva, combinada com a alegoria lendária nestes fragmentos enigmáticos.
Varrão, nas suas Antiquitates rerum humanaram, recorda a lenda de Enéias salvando o pai e os seus apanágios das chamas de Tróia e chegando, após longas peregrinações, aos campos de Laurente, termo da sua viagem.
Eis agora uma lenda extraída de uma obra que tem por título Livro de Seth{ } e que
um autor do século VI relata nestes termos:

Ouvi algumas pessoas falarem de uma Escritura que embora pouco certa não é contrária à fé e é, antes, agradável de ouvir. Aí se lê que existia um povo no Extremo-Oriente, à beira do Oceano, que possuía um Livro atribuído a Seth, o qual falava da aparição futura dessa estrela e dos presentes que se devia levar ao Menino, predicção que era considerada como transmitida pelas gerações dos Sábios, de pai para filho. Escolheram doze de entre os mais sábios e mais apaixonados peles mistérios dos céus e prepararam-se para esperar essa estrela. Se algum deles morria, o seu filho ou o parente próximo que participava na mesma expectativa era escolhido para substituí-lo. Chamavam-lhes, na sua língua, Magos, porque eles glorificavam Deus em silêncio e em voz baixa. Todos os anos estes homens, após a colheita, subiam a um monte que na sua língua se chamava Monte da Vitória, o qual encerrava uma caverna talhada na rocha e agradável pelos regatos e pelas árvores que o rodeavam. Chegados a esse monte, lavavam-se, oravam e louvavam a Deus em silêncio durante três dias; era o que eles praticavam durante cada geração, sempre esperando que, por acaso, essa estrela de felicidade aparecesse durante a sua geração. Até que, por fim, ela apareceu sobre esse Monte da Vitória sob a forma de uma criança e figurando uma cruz; ela falou-lhes, instruiu-os e ordenou-lhes que partissem para a Judeia. A estrela precedeu-os, assim, durante dois anos e nem o pão nem a água faltaram nas suas marchas. O que eles fizeram a seguir é resumidamente narrado no Evangelho.

A forma da estrela seria diferente, segundo esta outra lenda, de época desconhecida:

Durante a viagem, que durou treze dias, os Magos não repousaram nem tomaram alimento; a necessidade não se faz sentir e este período pareceu-lhes não durar mais do que um dia. Quanto mais se aproximavam de Belém, mais a estrela brilhava; tinha a forma de uma águia voando através dos ares e agitando as asas; por cima era uma cruz.

A lenda seguinte, que tem por título Das coisas que aconteceram na Pérsia, aquando do nascimento de Cristo, é atribuída a Júlio Africano, cronista do século. III, embora não se saiba a que época pertence realmente:

A cena passa-se na Pérsia, num templo de Juno, construído por Ciro. Um sacerdote anuncia que Juno concebeu. Todas as estátuas dos deuses dançam e cantam quando ouvem esta notícia. Uma estrela desce e anuncia o nascimento de um Menino Princípio e Fim. Todas as estátuas baixam o rosto para o solo. Os Magos anunciam que essa Criança nasceu em Belém e aconselham ao rei que envie embaixador. Então aparece Baco, que prediz que esse Menino expulsará todos os falsos deuses. Partida dos Magos, guiados pela Estrela. Chegados a Jerusalém, anunciam aos sacerdotes o nascimento do Messias. Em Belém saúdam Maria, fazem pintar, por um escravo hábil, o seu retrato com o Menino e colocam-no no seu templo principal, com esta inscrição: a Júpiter Mitra, ao deus sol, ao Deus grande, ao Rei Jesus, o império dos Persas faz esta dedicatória. A luz desta estrela, escreve Santo Inácio, ultrapassava a de todas as outras; o seu brilho era inefável e a novidade fazia com que aqueles que a olhavam ficassem espantados. O sol, a lua e os outros astros formavam o coro dessa estrela». In Fulcanelli, 1926, Le Mystère des Cathédrales, 1964, O Mistério das Catedrais, Interpretação Esotérica dos símbolos herméticos, Edições 70, colecção Esfinge, 1975.

Cortesia de E70/JDACT