«(…)
A rosa representa então, só por si, a acção do fogo e a sua duração. É por isso
que os decoradores medievais procuraram traduzir nas suas rosáceas os
movimentos da matéria excitada pelo fogo elementar, tal como se pode ver no
portal norte da catedral de Chartres, nas rosáceas de Toul (Saint Gengoult), de
Saint-Antoine de Compiègne etc.. Na
arquitectura dos séculos XIV e XV, a preponderância do símbolo ígneo, que
caracteriza nitidamente o último período da arte medieval, fez dar ao estilo
dessa época o nome de gótico
flamejante. Certas rosas, emblemáticas do composto, têm um sentido
particular que sublinha mais as propriedades dessa substância que o Criador assinou com a sua própria mão.
Este sinal mágico revela
ao artista que seguiu o bom caminho e que a mistura filosofal foi preparada canonicamente. É uma figura radiada
com seis pontas (digamma),
chamada Estrela dos Magos,
que radia à superfície do composto, ou seja, sobre a manjedoura onde Jesus, o Menino Rei, repousa.
Entre os edifícios que nos
oferecem rosáceas estreladas de seis pétalas, reprodução do tradicional
Selo-de-Salomão, citemos a catedral de Saint-Jean e a igreja de
Saint-Bonaventure de Lyon (rosáceas dos portais); a igreja de Saint-Gengoult,
em Toul; as duas rosáceas de Saint-Vulfran d’Abbeville; o portal da Calenda na
catedral de Rouen; a esplêndida rosa azul da Sainte-Chapelle etc.. Sendo este signo do mais alto interesse
para o alquimista, não se trata do astro que o guia e lhe anuncia o nascimento
do Salvador?, reunimos aqui, de bom grado, certos textos que relatam,
descrevem, explicam a sua aparição. Deixaremos ao leitor o cuidado de estabelecer
todas as aproximações úteis, de coordenar as versões, de isolar a verdade
positiva, combinada com a alegoria lendária nestes fragmentos enigmáticos.
Varrão, nas suas Antiquitates rerum humanaram,
recorda a lenda de Enéias salvando o pai e os seus apanágios das chamas de Tróia e chegando, após
longas peregrinações, aos campos de Laurente,
termo da sua viagem.
Eis agora uma lenda extraída de
uma obra que tem por título Livro de Seth{ } e que
um autor do século VI relata
nestes termos:
Ouvi
algumas pessoas falarem de uma Escritura que embora pouco certa não é contrária
à fé e é, antes, agradável de ouvir. Aí se lê que existia um povo no Extremo-Oriente,
à beira do Oceano, que possuía um Livro atribuído a Seth, o qual falava da aparição
futura dessa estrela e dos presentes que se devia levar ao Menino, predicção que
era considerada como transmitida pelas gerações dos Sábios, de pai para filho. Escolheram
doze de entre os mais sábios e mais apaixonados peles mistérios dos céus e
prepararam-se para esperar essa estrela. Se algum deles morria, o seu filho ou
o parente próximo que participava na mesma expectativa era escolhido para substituí-lo.
Chamavam-lhes, na sua língua, Magos, porque eles glorificavam Deus em silêncio
e em voz baixa. Todos os anos estes homens, após a colheita, subiam a um monte
que na sua língua se chamava Monte da Vitória, o qual encerrava uma caverna
talhada na rocha e agradável pelos regatos e pelas árvores que o rodeavam.
Chegados a esse monte, lavavam-se, oravam e louvavam a Deus em silêncio durante
três dias; era o que eles praticavam durante cada geração, sempre esperando
que, por acaso, essa estrela de felicidade aparecesse durante a sua geração. Até
que, por fim, ela apareceu sobre esse Monte da Vitória sob a forma de uma criança
e figurando uma cruz; ela falou-lhes, instruiu-os e ordenou-lhes que partissem
para a Judeia. A estrela precedeu-os, assim, durante dois anos e nem o pão nem
a água faltaram nas suas marchas. O que eles fizeram a seguir é resumidamente
narrado no Evangelho.
A
forma da estrela seria diferente, segundo esta outra lenda, de época
desconhecida:
Durante
a viagem, que durou treze dias, os Magos não repousaram nem tomaram alimento; a
necessidade não se faz sentir e este período pareceu-lhes não durar mais do que
um dia. Quanto mais se aproximavam de Belém, mais a estrela brilhava; tinha a
forma de uma águia voando através dos ares e agitando as asas; por cima era uma
cruz.
A lenda seguinte, que tem por título
Das coisas que aconteceram na Pérsia,
aquando do nascimento de Cristo, é atribuída a Júlio Africano, cronista
do século. III, embora não se saiba a que época pertence realmente:
A cena passa-se na Pérsia, num templo de Juno, construído por Ciro. Um
sacerdote anuncia que Juno concebeu. Todas as estátuas dos deuses dançam e cantam
quando ouvem esta notícia. Uma estrela desce e anuncia o nascimento de um
Menino Princípio e Fim. Todas as estátuas baixam o rosto para o solo. Os Magos
anunciam que essa Criança nasceu em Belém e aconselham ao rei que envie
embaixador. Então aparece Baco, que prediz que esse Menino expulsará todos os
falsos deuses. Partida dos Magos, guiados pela Estrela. Chegados a Jerusalém,
anunciam aos sacerdotes o nascimento do Messias. Em Belém saúdam Maria, fazem
pintar, por um escravo hábil, o seu retrato com o Menino e colocam-no no seu
templo principal, com esta inscrição: a Júpiter Mitra, ao deus sol, ao Deus
grande, ao Rei Jesus, o império dos Persas faz esta dedicatória. A luz desta
estrela, escreve Santo Inácio, ultrapassava a de todas as outras; o seu brilho
era inefável e a novidade fazia com que aqueles que a olhavam ficassem
espantados. O sol, a lua e os outros astros formavam o coro dessa estrela». In Fulcanelli, 1926, Le
Mystère des Cathédrales, 1964, O Mistério das Catedrais, Interpretação
Esotérica dos símbolos herméticos, Edições 70, colecção Esfinge, 1975.
Cortesia de E70/JDACT