Entre o Tigre e o Eufrates.
Neoplatonismo
«(…) Todavia, mais importante
para as nossas necessidades é a influência que o neoplatonismo teve sobre o
lado esotérico do Cristianismo e de outras religiões maiores e, logo, sobre as
sociedades secretas. As ideias neoplatónicas alteraram-se e desenvolveram-se ao
longo dos séculos, à medida que os diferentes líderes aprimoravam ou rejeitavam
os ensinamentos dos antecessores. Tal como acontece com o Gnosticismo, não
existe um conjunto fixo de crenças neoplatónicas. Assim, Plotino (204/5-270),
que se opunha à magia, defendia a virtude, a castidade e a contemplação mística
de Deus. O seu aluno e sucessor, Porfírio (c. 232/ 4-c.305), que organizou os
trabalhos de Plotino, procurava modos éticos práticos (boas acções) para que a alma
chegasse a níveis mais elevados. O seu aluno Jâmblico (c. 250-c. 330), que, à
semelhança de Porfírio, escreveu uma Vida de Pitágoras, acentuou muito
mais o lado experiencial da filosofia mística: usando o ritual religioso e
ritos mágicos para a teurgia, invocar o poder de Deus ou dos seres espirituais.
Esta ênfase levaria a um conflito entre o Neoplatonismo e o Cristianismo
emergente, além de dar aos imperadores romanos motivo para impedir, de tempos a
tempos, as práticas religiosas não cristãs.
Até agora, no que diz respeito a
este livro, os dois mais importantes legados, a longo prazo, do Neoplatonismo
para a religião esotérica e as sociedades secretas foram a ênfase do
experiencial (ou seja, o real poder do ritual) e o ensinamento quanto às
hierarquias dos seres espirituais que, resumidamente, trouxe uma solução para a
dicotomia entre politeísmo e monoteísrno. Acima de tudo havia um Deus infinito,
universal e incompreensível; a filosofia (do grego, amor pela sabedoria) era o grande
meio de aproximação a esse Deus, sendo as religiões tentativas menores de abordar
deuses menores, na prática servos, ou daemons, do Deus Único.
O termo demónio, é a forma
incorreta de daemon, que incluía seres bons e maus, bem como Deuses
menores e os espíritos dos mortos. O seu uso pejorativo para referir,
especificamente, espíritos malignos é uma alteração cristã posterior do seu
significado. Na teologia cristã, o termo poderia ser substituído por autoridades
e poderes, criados pelo Deus Único e que podem ser bons ou maus. Os anjos
enquadram-se nessa mesma categoria.
A distinção entre demónios e demons
é importante. Alguns neoplatónicos ensinavam a teurgia, que pode ser
chamada de convocação de espíritos, mas é, mais corretamente, a invocação de
demons bons. Na magia ritual tardia dos filósofos herméticos e dos alquimistas,
e na Ordem Hermética da Aurora Dourada de finais do século XIX e início do
século XX (banalizada e erroneamente representada como magia negra nos romances
de Dennis Wheatley, por exemplo), a ideia não era, habitualmente, invocar o
diabo e a hoste infernal, algo muito raro e reconhecido como sendo extremamente
perigoso, mas sim os deamons, os deuses menores, os anjos, as autoridades e
poderes, e os espíritos poderosos de quem fora espiritualmente poderoso em
vida.
O
conceito do Deus Único, acima e além de todos os deuses, está no centro das
crenças espirituais das sociedades secretas. Isto explica por que razão a
Maçonaria e o Rosacrucianismo, embora sejam cristãos na sua origem e expressão,
estão abertos às crenças de outras fés, sobretudo das outras Religiões do Livro.
O Grande Arquitecto do Universo não se limita ao Cristianismo». In
David V. Barrett, As Grandes Sociedades Secretas, 1997, 2007, Clube do Autor,
2016, ISBN 978-989-724-333-2.
Cortesia de
CdoAutor/JDACT