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Conquista
dos Açores
Batalha
da Salga ou da Praia da Vitória
«(…) No ano seguinte, a 11 de Julho
de 1581 chegou à Praia, vinda de Lisboa, a armada castelhana e alemã de Pedro Valdez.
O monarca prometia perdão e muitas mercês ao governador Cipriano se o jurasse rei
de Portugal. Eu não sirvo a el-rei dom António por interesse..., mas sirvo-o
com a pureza de minha obrigação, de que resulta não me moverem mercês prometidas,
que foi o laço em que caiu Portugal; porque fora do que devo, nenhuma cousa me poderá
mover a troco de vender a honra e a lealdade, que não tem preço, ..., lição que
a muitos fidalgos esqueceu. Pedro Valdez tinha ordens para aguardar a outra
esquadra espanhola que se aproximava, mas adiantou-se e ordenou o ataque. Antes
do amanhecer do dia 25 de Julho, dia de Santiago, começaram a sair em terra. Enquanto
a segunda vaga de invasores desembarcava os portugueses matavam a primeira até que,
da frota, acudiram em massa. Os terceirenses simularam que fugiam e, ao
amanhecer do outro dia, cobriam o alto das colinas. Fomos a eles por uma ladeira
acima, escreveu o espanhol Andres de Solazar, mas pareceu-nos melhor recuar
para desembarcar mais gente e munições. Cercados por todos os lados, sofremos cinco
assaltos mas fizemo-los recuar. Embarcávamos os feridos. Também fui evacuado com
uma perna quebrada. Antes de chegar ao navio, virei a cabeça e vi os nossos inimigos
que desciam trazendo à frente trezentos a quatrocentos bois e vacas. Os nossos viraram
as costas cuidando valer-se da artilharia. Foram esmagados pelos bois. As ondas
lançavam à praia os corpos dos afogados. Cravavam-nos de lançadas. Chamavam os vivos,
ao engano, e matavam-nos. Os frades e os clérigos eram os primeiros a ensanguentar
as mãos. Temo que a ilha se torne outra La Rochelle.
Os plebeus terceirenses vestiram-se
com as roupas ricas dos mortos. Entravam nas casas. Na procissão da vitória participaram
todas as Ordens religiosas menos a dos Jesuítas. Filipe I continuava em Lisboa mas
os portugueses, em especial os do povo, alegraram-se com a vitória e traziam por
ditado contra os castelhanos: guarda boiada. Começaram a prender os que falavam
em dom António, frades e freiras, fidalgos, altos e baixos, que dele recebiam
recado ou lho mandavam ou o desejavam e degredavam-nos para as galés. Deportaram
para Castela a condessa de Vimioso, Ana de Aragão, e priores e ministros de ordens
religiosas. Muitos saíam do reino em busca do senhor dom António.
Governo de dom António na ilha Terceira
A vitória da Salga exaltou o povo
miúdo. Pediram à Câmara de Angra que confiscasse as rendas dos Jesuítas. O
governador e o Senado não aceitaram mas proibiram-nos de pregar e mandaram cerrar
com pedra e cal as portas e janelas do Colégio. Também lhes fecharam com travessas
e ferrolhos as portas da igreja. De dentro, abriram-nas por força. E exposto o
Santíssimo, aguardaram, ajoelhados, o martírio. Voltaram a fechar-lhes as portas.
E fechados ficaram de Julho de 1581 a finais de Julho de 1582. Davam-lhes de comer
às quartas e aos sábados. A gente rústica e plebeia achava Cipriano Figueiredo demasiado
brando. E no princípio de 1582, dom António entregou o governo a Manuel Silva,
agraciado com o título de conde de Torres Vedras, mas Cipriano manteve o cargo
de corregedor. Manuel Silva criou Casa da Suplicação, do Cível e do Crime, Mesa
do Desembargo do Paço, Mesa da Consciência e Ordens e Casa da Moeda, isto é, um
Governo Nacional. Cunhou moeda com a efígie de dom António. E procedeu-se ao
julgamento dos que tinham tomado voz por Filipe I. Betencourt foi degolado e confiscaram-lhe
os bens. Convidaram os jesuítas a tomar partido por dom António. Recusaram. Manuel
Silva mandou retirar tudo o que havia no Colégio, até os sinos, que enviou para
as fortalezas. Serviram para dar aviso.
Batalha naval de Vila Franca do Campo
Em Julho de 1582 o rei
dom António chegou à ilha de São Miguel com uma armada francesa
comandada por Filipe Strozzi. Dominaram a ilha menos a fortaleza: dom
António era o rei e senhor de Portugal, o papa concedera-lhe esse direito.
E era tão católico que não quisera a ajuda do Turco». In António Borges Coelho, Os
Filipes, Editorial Caminho, 2015, ISBN 978-972-212-740-0.
Cortesia de Caminho/JDACT