sábado, 9 de fevereiro de 2019

Dona Estefânia de Hohenzollern. Maria Antónia Lopes. «Precisas de uma rainha que desse a toda a corte e ao lar, a plenitude e normalidade que não pode ser esperada dum celibatário. Além disso, o celibato tornar-se-á tanto mais perigoso…»

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Rainha que o povo amou. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen (1837-1859)
De Dusseldorf para Lisboa. Negoceia-se o casamento
«(…) A família de Bragança era nessa época relativamente numerosa. Viviam no palácio das Necessidades os dois reis e seis infantes irmãos de Pedro: Luís, com 18 anos, João, com 14, dona Maria Ana, com 13, dona Antónia, com 11, Fernando, com 10, e Augusto, com 9. Residiam também em Lisboa uma tia-avó de Pedro, a infanta dona Isabel Maria, filha de João VI e ex-regente de Portugal. Solteira, tinha então 55 anos. E, ainda, dona Amélia de Beauharnais, viúva de Pedro IV ex-imperatriz do Brasil e agora duquesa de Bragança, a quem os infantes tratavam por avó. Com apenas 44 anos de idade, enviuvara há mais de duas décadas e perdera a única filha, falecida em 1853 com 21 anos. A 30 de Janeiro de 1857, o príncipe Alberto da Grã-Bretanha escreve a Pedro:

Precisas de uma rainha que desse a toda a corte e ao lar, a plenitude e normalidade que não pode ser esperada dum celibatário. Além disso, o celibato tornar-se-á tanto mais perigoso quanto os teus irmãos e irmãs se fizerem adultos e quanto mais se evidenciarem as diferenças, nos gostos e nas ideias, entre filho e pai. Assim, como actualmente estão as coisas, depressa o centro da família se perderá de vez e, sem este, não é possível manter uma família unida. A rainha devia ser jovem, bonita, pura, bem-educada e instruída, não ser beata nem mimada. Julgamos ter encontrado uma pessoa com estes requisitos na filha mais velha do príncipe de Hohenzollern-Sigmaringen, que abdicou em 1848. Ela pertence à Casa da Prússia, tem o seu domicílio habitual em Berlim [equívoco de Alberto] e está, neste momento, em casa da princesa da Prússia, que lhe tece os maiores elogios. Eu próprio nunca a vi; Vitória participou todos os pormenores que conseguimos saber sobre ela a teu pai. O que me leva a indicá-la é a circunstância de ela ser praticamente a única princesa católica que preencheria as condições de uma futura esposa para ti.

Já em Outubro anterior Alberto o alertara para a necessidade de se casar: quando é que tu vais pensar no matrimónio? Falta-te uma rainha que assuma a parte feminina da tarefa. Agora, a 30 de Janeiro, diz-lhe também que, se escolher Estefânia, deve apressar-se, porque se afirma que o príncipe Plon-Plon, alcunha de Napoleão Jerónimo Bonaparte, sobrinho de Napoleão I e primo de Napoleão III, estava em vias de a pedir em casamento. Ruben Andresen Leitão salientou há muito as vantagens de ir buscar consorte aos principados alemães: quando, no século XIX, se declarava entre as nações uma certa rivalidade de domínio, em relação à escolha do futuro ou da futura consorte, aparecia sempre um inocente principado, nas margens românticas do Reno, que fornecia matéria para não se extinguirem as monarquias da Europa. Pensando bem, os príncipes dos ducados da Germânia só traziam consigo vantagens, sendo mesmo difícil encontrar-lhes defeitos. Talvez apenas não trouxessem dote, mas os Parlamentos breve lhes atribuiriam uma confortável dotação. Os príncipes das margens do Reno eram na generalidade muito bem instruídos, facto este que contrastava com a corrente dos Bourbons e dos Orleães, onde esta qualidade era pouco frequente; eram bons chefes de família, com fama de prolíferos e, como já mencionei, os príncipes não traziam consigo quaisquer complicações de ordem política, o que era na verdade ideal para a compreensão e o estabelecimento da paz entre os povos do mundo ocidental europeu». In Maria Antónia Lopes, Rainha que o povo amou, Dona Estefânia de Hohenzollern, Círculo de Leitores, 2011, ISBN 978-972-424-718-2.

Cortesia de CLeitores/JDACT