Cortesia
de wikipedia e jdact
The British Museum. Londres. 14 de Novembro
«(…) As mãos tremiam-lhe. Teve de agarrar uma com a outra para
afastar um novo ataque. Só queria rastejar para dentro da cama e puxar a colcha
sobre a cabeça. Billie fitava-a, os olhos a reflectir a luz do candeeiro. Eu
fico bem. Está tudo bem, disse Safia em voz baixa, mais para si própria do que
para o gato. Nenhum dos dois se convenceu.
02h13, GMT (21h13, EST)
Fort Meade, Maryland
Thomas
Hardey detestava ser incomodado quando estava compenetrado na resolução das
palavras cruzadas do New York Times. Era o seu ritual de domingo à noite, que
incluía igualmente um agradável copo de scotch de quarenta anos e um bom
charuto. O fogo crepitava na lareira. Recostou-se na sua poltrona de couro e
fitou o puzzle meio preenchido, forçando a ponta da sua esferográfica
Montblanc. Franziu uma sobrancelha face ao 19 vertical, uma palavra de cinco
letras. Dezanove. A soma de todos os homens. Enquanto ponderava sobre a
resposta, o telefone soou na sua secretária. Suspirou e subiu os óculos de
leitura da ponta do nariz até a testa. Provavelmente era apenas um dos amigos
da filha a contar como correra o encontro do fim-de-semana. Quando se inclinou
para diante, viu que a linha número cinco estava a piscar, a sua linha pessoal.
Apenas três pessoas tinham esse número: o presidente, o director da Joint
Chiefs e o segundo-comandante na hierarquia da National Security Agency.
Pousou
o jornal dobrado no colo e premiu o botão vermelho da linha. Com esse simples
toque, um código algorítmico variável tornava ininteligível qualquer
comunicação. Levantou o auscultador. Aqui, Hardey. Senhor director.
Endireitou-se, cauteloso. Não reconhecia a voz do outro. E ele conhecia a voz
das três pessoas que tinham o seu número privado tão bem como a sua própria
família. Quem fala? Tony Rector. Peço desculpa por incomodá-lo a estas horas. Thomas
percorreu a sua Rolodex mental. Vice-almirante Anthony Rector. Ele ligou o nome
a cinco letras: DARPA (Defense Advanced Research Projets Agency). O
departamento fiscalizava o braço de investigação e desenvolvimento do
Departamento de Defesa. Tinha um lema:
ser o primeiro. No que tocava aos avanços tecnológicos, os Estados Unidos não
podiam chegar em segundo lugar. Nunca. Uma formigante sensação de temor começou
a desenhar-se. Em que posso ajudá-lo, senhor almirante? Deu-se uma explosão no
British Museum em Londres. E procedeu à explicação da situação em grande
pormenor. Thomas verificou o relógio. Tinham-se passado menos de trinta minutos
desde a explosão. Ele estava impressionado com a capacidade da organização de
Rector em reunir tanta informação em tão pouco tempo.
Quando
o almirante terminou, Thomas colocou-lhe a questão mais óbvia: e qual é o
interesse da DARPA na explosão? Rector respondeu-lhe. Thomas sentiu a divisão
arrefecer uns dez graus. Tem certeza? Já temos uma equipe organizada para
aprofundar o assunto. Mas vou necessitar da cooperação do MI5 britânico..., ou
melhor ainda... A alternativa ficou em suspenso, não proferida mesmo numa linha
codificada. Thomas compreendia agora a chamada clandestina. O MI5 era o
equivalente britânico da sua própria organização. Rector queria que ele
lançasse uma cortina de fumo para que a equipe da DARPA pudesse entrar e sair
rapidamente do local, antes que alguém suspeitasse da descoberta. E tal incluía
a agência secreta britânica. Compreendo, disse finalmente Thomas. Ser o
primeiro. Rezou para que estivessem à altura da missão. A equipe está pronta? Estará
pronta pela manhã. Pela ausência de desenvolvimento adicional, Thomas soube
quem trataria do assunto. Desenhou um símbolo grego na margem do jornal. O
caminho será preparado, disse para o aparelho.
Muito
bem. A comunicação morreu. Thomas pousou o auscultador no gancho, já a planear
o que tinha de ser feito. Teria de actuar rapidamente. Fitou as palavras
cruzadas por completar: 19 vertical. Uma palavra de cinco letras para a soma de
todos os homens. Que apropriado. Pegou numa caneta e preencheu a resposta nas
quadrículas. SIGMA». In James Rollins, A Cidade Perdida, Bertrand
Editora, 2015, ISBN 978-972-252-930-3.
Cortesia
de BertrandE/JDACT