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e wikipedia
Cambridge.
Inglaterra
«(…)
O outro respondeu sem hesitação: ele é um intelectual. Digamos que será tutor
de sua filha. Tutor de Anne?, Marbury tossiu. Mas ela é adulta, 20 anos. Já bem
passada de tutela. Solteira. A palavra única fora feita de chumbo. E imagina-se
uma filósofa religiosa. O primeiro impulso do ministro foi perguntar como
aquele homem saberia alguma coisa sobre Anne, mas achou melhor não perguntar
nada. É filha do pai. O tom nem de longe era de desculpas. E não aceitará
tutor. Deram-nos a entender que ela se interessa pelos costumes da cultura
grega, além de Teologia. Marbury deu um suspiro. Decerto aqueles homenzinhos
saberiam das tendências religiosas da moça. Ela as expressara com bastante
frequência em público. Talvez se interesse por uma coisa dessas, reconheceu. Talvez
o senhor devesse insistir. Samuel não se mexeu. Esse homem que o senhor
descobriu sabe alguma coisa sobre
o trabalho de nossos tradutores?, perguntou o pastor, elevando a voz. Porque
isso é tão importante para o senhor?, perguntou Isaiah, igualando o volume. Anne
tem um interesse agudo por tradução. O ministro não podia tornar a falar mais
alto. Se esse homem pudesse saber um pouco sobre a obra, isso talvez ajudasse a
fazê-la aceitá-lo mais depressa.
Ele sabe o que saberia qualquer
pessoa na posição dele, cortou o outro. O rei James reuniu uma equipe de cerca
de cinquenta e quatro intelectuais. Oito moram com o senhor em Cambridge. Só
restam cinquenta e três agora, lembrou Isaiah. O importante, prosseguiu Samuel,
mais irritado, é que estão traduzindo a Bíblia a partir de fontes originais. O conhecimento de
grego do nosso homem é o que interessa tanto em relação à tradução quanto à sua
filha. Pois muitos dos originais estão em grego... Um pouco de conhecimento,
interrompeu-o Marbury, na esperança de cortar outra discussão, não enganará os nossos
homens de Cambridge nem convencerá Anne... Ele é um intelectual superior,
explodiu o outro.
O pastor ouviu a ameaça nessas
palavras. Combateu o impulso de cortar a discussão e deixar o quarto o mais
rapidamente possível, percebendo que devia ter cuidado com aqueles homens.
Melhor seguir adiante com os planos deles, mas acautelar-se para não confiar em
tudo. Formulou, e abandonou, várias perguntas antes de decidir-se pelas mais
básicas. Como, então, vou encontrá-lo? Curvou-se para a frente, disposto a
sair. Vai chegar amanhã de manhã e apresentar-se ao senhor no diaconato. Samuel
moveu uma resma de papel amarrada com barbante de açougueiro em direcção ao
pastor. Por qual nome devo chamá-lo? Irmão Timon. A voz do outro pareceu rouca
por um momento. O ministro notou que Daniel, que não falara, tremeu durante um
breve instante. Quem lhe deu esse nome?, quis saber, sem evitar uma fracção de
diversão nas suas palavras. Os três homens entreolharam-se, obviamente sem
resposta para a pergunta.
Só
pergunto porque acho o nome interessante. E, os senhores entendem, de uma peça
que conheço. O nome de uma personagem que odeia todo o mundo..., porque os homens
foram ingratos com suas boas obras. Os três permaneceram calados. Muito bem. Marbury
levantou-se e puxou a capa em volta do corpo, apalpando em busca do cabo da
adaga escondida. Que seja Timon. Espero
encontrá-lo. Sem outra sílaba, dirigiu-se à porta, mal dando as costas aos três
vultos. Tinha os ouvidos sintonizados para captar o menor sinal de movimento
deles ao deslizar para fora». In Phillip Depoy, A Conspiração do rei
James, Prumo, 2009, ISBN 978-857-927-022-2.
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