Cortesia
de wikipedia e jdact
«Álvaro
de Campos é um dos heterónimos mais conhecidos de Fernando Pessoa e, tirando
Bernardo Soares, talvez o alter ego que mais se aproxima de Fernando Pessoa
ortónimo. Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é configurado biograficamente
por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil
particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização
moderna e os valores do progresso. Cantor do mundo moderno, o poeta procura
incessantemente sentir tudo de todas as maneiras, seja a força explosiva dos
mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. Poeta da
modernidade, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo,
delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o
desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem
da cidade. Numa carta dirigida a Adolfo Casais Monteiro, Pessoa descreve Álvaro
de Campos da seguinte maneira:
Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de
Outubro de 1890 (às 1.30 da tarde, diz-me o Ferreira Gomes; e é verdade, pois,
feito o horóscopo para essa hora, está certo). Este, como sabe, é engenheiro
naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. [...] Álvaro
de Campos é alto (1,75 m de altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco
tendente a curvar-se. Cara rapada [...] entre branco e moreno, tipo vagamente
de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado,
monóculo. [...] Álvaro de Campos teve
uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar
engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao
Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe latim um tio beirão que era padre.
[...]
Entre
todos os heterónimos, Álvaro de Campos foi o único a manifestar fases poéticas
diferentes. Houve três frases distintas na sua obra. Começou a sua trajectória
como decadentista (influenciado pelo Simbolismo), onde exprime o tédio,
a náusea, o cansaço e a necessidade de novas sensações para fugir à monotonia.
Depois passou para uma fase modernista ligada movimento do Futurismo/Sensacionismo,
expresso por uma exaltação ao Mundo moderno, do progresso técnico e científico,
da industrialização e da evolução da Humanidade, numa atracção quase erótica
pelas máquinas. E por último uma fase mais intimista e pessimista, chamada Fase
Abulicólica marcada pelo sentimento de vazio, em que ele se sente um
marginal, um incompreendido, fechado em si mesmo, angustiado, cansado,
nostálgico e com descrença em relação a tudo. Muito diferente dos seus
congéneres heterónimos mais conhecidos como Alberto Caeiro, que considera a
sensação de forma saudável e tranquila mas rejeita o pensamento, ou de Ricardo
Reis, que advoga a indiferença olímpica, Álvaro de Campos procura a totalização
das sensações, conforme as sente ou pensa, o que lhe causa tensões profundas. É
nesse sentido que se aproxima muito do próprio Fernando Pessoa». Notas
sobre Álvaro de Campos
A
Fernando Pessoa
(Depois de ler seu
drama estático O marinheiro em Orfeu I)
«Depois
de doze minutos
Do seu
drama O Marinheiro,
Em que os
mais ágeis e astutos
Se sentem
com sono e brutos,
E de
sentido nem cheiro,
Diz rima
das veladoras
Com
langorosa magia
De eterno
e belo há apenas o sonho.
Por que
estamos nós falando ainda?
Ora isso
mesmo é que eu ia
Perguntar
a essas senhoras...»
In
Fernando Pessoa, Poemas Completos de Álvaro de Campos, Tinta da China,
2014, ISBN 978-989-671-232-7.
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