Cortesia
de wikipedia e jdact
A Palidez do Dia
«(…) A
palidez do dia é levemente dourada.
O sol de Inverno
faz luzir como orvalho as curvas
Dos
troncos de ramos Secos.
O frio
leve treme.
Desterrado
da pátria antiquíssima da minha
Crença,
consolado só por pensar nos deuses,
Aqueço-me
trémulo
A outro
sol do que este.
O sol que
havia sobre o Pártenon e a Acrópole
O que
alumiava os passos lentos e graves
De
Aristóteles falando.
Mas
Epicuro melhor
Me fala,
com a sua cariciosa voz terrestre
Tendo para
os deuses uma atitude também de deus,
Sereno e
vendo a vida
À
distância a que está».
Não Tenhas Nada nas
Mãos
«Não
tenhas nada nas mãos
Nem uma
memória na alma,
Que quando
te puserem
Nas mãos o
óbolo último,
Ao
abrirem-te as mãos
Nada te
cairá.
Que trono
te querem dar
Que Átropos
to não tire?
Que louros
que não fanem
Nos
arbítrios de Minos?
Que horas
que te não tornem
Da
estatura da sombra
Que serás
quando fores
Na noite e
ao fim da estrada.
Colhe as
flores mas larga-as,
Das mãos
mal as olhaste.
Senta-te
ao sol. Abdica
E sê rei
de ti próprio».
In
Fernando Pessoa, Obra Completa de Ricardo Reis, Tinta da China, 2016,
ISBN 978-989-671-345-4.
Cortesia
de TintadaChina/JDACT