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de wikipedia e jdact
Vaticano.
19 de Abril de 2005
«(…) A vida revelava-se de
estranhas maneiras, era certo. Estava no topo da lista das principais televisões
e mesmo jornais concorrentes quando o assunto era a Santa Sé. A sua opinião era
de tal forma respeitada que alguns até a apelidavam, nos bastidores, de amante
do Papa, pois o que sabia só podia advir dele. Não deixava de ser irónico, uma
mulher, o género mais aberrante dentro dos muros sagrados, ser a opinião mais
respeitada fora deles.
Pensou em Rafael, no seu ar firme
e robusto, no seu sentido de dever, na sua beleza e no que haviam passado
juntos, há seis meses ela deixara-o a falar sozinho. Isto não era inteiramente
verdade, uma vez que foi apenas Sarah quem falou. Rafael não pronunciou uma
palavra. Estavam em Londres, onde Sarah residia. Encontraram-se no Walker's Win and Ale Bar. Ele
chegou primeiro e pediu um Bud.
Mais tarde quando ela chegou pediu uma Evian, de bradar aos céus num bar referência, mas nem esperou
que a trouxessem. Entrou de rompante no assunto que a levara a marcar o
encontro. O que há entre nós? Rafael fitou-a como se não a tivesse entendido. O
que há entre nós?, repetiu Sarah. Eu sei que tu és padre..., que tens uma relação
com..., nesta parte sentiu-se confusa. Deus, Cristo, a Igreja? Todos ao mesmo
tempo?, mas também sei que não te sou indiferente. Aqui Sarah olhou-o para
captar alguma reacção. Rafael permanecia impávido a escutá-la. Conseguia ser um
Olhava-o quando queria. Sarah sentia-se cada vez mais nervosa. Sei que nos
conhecemos em circunstâncias atípicas, prosseguiu de cabeça erguida, ou assim
pensava. Sei que passámos por muita coisa, tivemos as vidas em perigo e que,
provavelmente, isso deu-me a oportunidade de te conhecer melhor do que ninguém,
isso fez com que eu me apaixonasse por ti. Quando deu por ela já estava dito.
Tinha a noção que ainda dissera mais qualquer coisa, mas não se ouvira mais a
si própria. Teria mesmo declarado, em alto e bom som, o que sentia? Olhava-o
ainda mais intensamente a tentar descobrir qualquer reacção. Apenas via o mesmo
Rafael de sempre, calculista, sereno..., impermeável.
A
certa altura ouviu-se um troar de vozes a clamar no interior do bar, em delírio.
Os blues tinham acabado de marcar um golo em Stamford Bridge e alguns dos
presentes haviam sido contagiados pelas imagens que repetiam nos ecrãs espalhados
pelo bar. Foi nesse instante que o empregado trouxe a água, há muito tempo
pedida, ou pelo menos assim parecia a Sarah, horas, uma eternidade. É certo que
haviam passado somente alguns minutos, poucos, mas a mão no fogo por pouco
tempo que seja parece sempre muito. Não é uma situação normal, eu sei. Nada
connosco é, avançou Sarah depois de humedecer os lábios. Não te vou pedir para
te divorciares de Deus. jamais o faria, mas tinha de o dizer. Está dito. Sei
que és inteligente o suficiente para já teres percebido. Olhou-o novamente. De
qualquer forma, voltamos ao ponto inicial que me leva à pergunta o que há entre
nós? Não te sou indiferente, pois não?» In Luís Miguel Rocha, A Mentira Sagrada,
Porto Editora, 2011, ISBN 978-972-004-325-2.
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