Cortesia
de wikipedia e jdact
Los
Angeles. Outubro de 2004
«(…)
Vamos começar do alto. Maria Antonieta nunca disse: se eles não têm pão, que
comam brioche. Lucrécia Bórgia nunca envenenou ninguém. E Maria I, da Escócia,
não era uma prostituta assassina. Ao repararmos esses erros, damos o primeiro
passo para restituir às mulheres o seu lugar apropriado e respeitável na
história..., um lugar que foi usurpado por gerações de historiadores com uma
agenda política. Maureen fez uma pausa, enquanto murmúrios de aprovação espalhavam-se
pela plateia de estudantes. Falar para uma nova turma era quase como uma noite
de estreia no teatro. O sucesso do desempenho inicial determinava o impacto a
longo prazo de todo o curso. Ao longo das próximas semanas, vamos examinar as
vidas de algumas das mulheres mais infames na história e na lenda. Mulheres com
histórias que deixaram uma marca indelével na evolução da sociedade e do
pensamento moderno; mulheres que foram dramaticamente incompreendidas e mal
retratadas pelas pessoas que estabeleceram a história do mundo ocidental, ao
registarem as suas opiniões no
papel.
Maureen estava concentrada e
relutante em parar para perguntas tão cedo, mas um jovem estudante acenava com
a mão da primeira fila desde que ela começara a falar. Parecia muito ansioso;
afora isso, porém, não havia nada de extraordinário na sua aparência. Amigo ou
inimigo? Admirador ou fundamentalista? Havia sempre esse risco. Maureen deu-lhe
a palavra, sabendo que ele distrairia a sua atenção enquanto não o fizesse. Considera
que essa é uma visão feminista da história? Era só isso? Maureen relaxou um
pouco, enquanto respondia à pergunta familiar: considero que é uma visão
honesta da história. Não trato do assunto com qualquer outro interesse que não
a busca da verdade. Mas ela ainda não se livrara do importuno. Pois me parece
uma visão contra os homens. Nem um pouco. Adoro os homens. Acho que toda mulher
devia ter um.
Maureen fez uma pausa, para
permitir o riso das mulheres. Estou brincando. Meu objectivo era o de recuperar
o equilíbrio, analisando a história com olhos modernos. Leva a sua vida da mesma
maneira como as pessoas viviam há mil e seiscentos anos? Não. Então, porque
leis, convicções e interpretações históricas determinadas na Idade Média devem
reger a maneira como vivemos no século XXI? Não faz o menor sentido. O
estudante declarou: mas é por isso que estou aqui, para descobrir o que realmente
acontece. Óptimo. Neste caso, aplaudo a sua presença. Só peço que mantenha a
mente aberta. Na verdade, quero que todos parem o que estão fazendo, levantem a
mão direita e façam o seguinte juramento. Os estudantes do curso nocturno
trocaram murmúrios outra vez. Sorriram e deram-de-ombros uns para os outros,
querendo determinar se ela falava mesmo sério. A professora, escritora de
sucesso e jornalista respeitada, mantinha-se de pé na frente deles, com a mão direita
levantada e uma expressão de expectativa.
Vamos, encorajou. Levantem a mão
e repitam o que eu disser.
Os
estudantes levantaram a mão, esperando pela deixa. Juro solenemente, como um
estudante sério de história, Mauree fez uma pausa, enquanto os estudantes
repetiam, obedientes, lembrar em todas as ocasiões que as palavras registadas
no papel foram escritas por seres humanos. Outra pausa, para a repetição dos
estudantes. E como todos os seres humanos são regidos pelas suas emoções, opiniões,
filiações políticas e religiosas, toda a história inclui tanto opinião quanto
facto e em muitos casos foi inteiramente fabricada para promover as ambições
pessoais ou as intenções secretas de quem a escreveu. Outra pausa. Juro
solenemente manter minha mente aberta em cada momento em que estiver sentado
nesta sala. Aqui está o nosso grito de batalha. A história não é o que aconteceu. A
história é o que foi escrito. Ela levantou um livro de capa dura que estava no
pódio à sua frente, mostrando para a turma. Todos já possuem um exemplar deste
livro?» In Kathleen McGowan, O Segredo do Anel, Editora Rocco, 2006, ISBN
853-252-096-0.
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