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Poetas Santões e Filósofos do Ocidente do Ocidente
«(…) Teremos de esperar
pela época dos Descobrimentos e Conquistas para que o Oriente penetre de novo e
intensamente na nossa cultura. Mas, nesse mesmo tempo, os expoentes de
referência do conhecimento científico, continuarão a ser o médico al-Razí, o
médico hispânico Avenzoar, o uzbeque Avicena e o cordovês Averróis, como poderemos
verificar, por exemplo, no Colóquio
dos Simples e das Drogas de Garcia da Orta. A Reconquista não
suprimiu as marcas da civilização islâmica que perduraram na língua e em muitas
técnicas agrícolas e artesanais até ao século XX. Os cristãos medievais herdaram
a estrutura das cidades islâmicas, usaram os seus alarifes e alvanéis, os meus
mouros de Afonso Henriques, na construção de catedrais e fortalezas. Um deles
deixou escrito no transepto da sé de Coimbra: escrevo isto como recordação
permanente do meu sofrimento. A minha mão perecerá um dia mas a grandeza ficará.
O hospitalário Afonso Peres Farinha, cavaleiro de uma lança e futuro prior da
ordem do Hospital em Portugal, exemplifica a recepção contraditória dessa
influência que teve o seu ponto alto, no ponto de vista da cultura literária,
no trabalho dos tradutores muçulmanos e cristãos das cortes de Afonso X o Sábio
e do seu neto o nosso rei Dinis. Na lápide funerária de Afonso Peres Farinha
proclama-se: viveu durante vinte anos nas margens do Guadiana, nas vilas conquistadas
de Moura e Serpa, fazendo muita guerra e muito mal aos mouros e tomando-lhes
Arouche e Aracena.
Atravessou três vezes o
mar e lá viveu longo tempo. Residiu em muitos locais estrangeiros. Viu muitas e
grandes coisas e muitos homens bons daquele tempo, tanto cristãos como mouros. Os
muitos vêm carregados de espanto. No campo das ciências e da cultura, não
faltaram, em território português, gramáticos de língua árabe, jurisconsultos, sufis,
escreventes de história, de crítica literária e principalmente poetas. Abu
al-Hayaye al-Halam de Santarém escreveu um comentário sobre a obra do poeta
oriental Mutanabi. Por sua vez, Ibn Abdun Silves analisou o longo poema sobre o
fim trágico dos abádidas e aftácidas, escrito pelo poeta eborense Ibn Abdun.
Entre os jurisconsultos,
destaque para o bejense Abu al-Walid al-Baji (1012-1081) que peregrinou pelo
Oriente e polemizou com Ibn Hazm. A história e a biografia contaram com vultos
de importância capital. O primeiro foi Ibn Mozain, da família dos reis que
dominaram a cidade de Silves nos princípios do século XI. Só nos chegaram
fragmentos conservados por outros historiadores mas a ele devemos notícias
preciosas sobre a distribuição das terras quando os muçulmanos se apossaram de
Hespanha. Ibn al-Imam al-Shilbi (+c. 1156) escreveu as biografias de muitos dos
seus contemporâneos na obra Simt
aldjuman, infelizmente
perdida. No entanto, restaram trinta e cinco passagens conservadas por Ibn Said
no Mugrib, passagens que constituem um quarto
deste livro.
Para a história e a história da cultura do Islão
Ocidental a Dakira (Tesouro)
do santareno Ibn Bassam, de seu nome Abu al-Hassam ibn Bassam al-Santarini
(+c.1147) é fundamental. A obra reúne, em quatro volumes, uma antologia dos
poetas peninsulares, recheada de preciosas notícias de natureza social e
político-militar». In António Borges Coelho, Tópicos
para a História da Civilização e das Ideias no Gharb al-Ândalus,
Instituto Camões, Colecção Lazúli, 1999, IAG-Artes Gráficas, ISBN
972-566-205-9.
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