Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…) Ao crepúsculo, pareceu-lhe
distinguir o seu mensageiro ao longe. O avanço era hesitante, o voo mais pesado
do que o habitual. No entanto, era realmente ele! Larápio poisou no ombro de Ah-hotep. Com o flanco
direito coberto de sangue, estendeu orgulhosamente a pata direita à qual estava
preso um pequeno papiro selado. A Rainha felicitou-o acariciando-o docemente,
retirou a missiva e confiou o corajoso mensageiro a Teti, a Pequena. Deve ter sido ferido por uma flecha.
Trata dele com cuidado. É superficial considerou a Rainha-Mãe, depois de ter examinado
a ferida. Daqui a alguns dias o Larápio
estará de perfeita saúde. Segundo o curto texto de um resistente da região
de Assiut, a cidade fora quase completamente destruída, com excepção dos
túmulos antigos. Tinha apenas uma pequena guarnição hicsa, que recebia as
mercadorias provenientes dos oásis de Khargeh e Dakhla. A caminho decidiu
Ah-hotep.
De madrugada, o navio acostou ao
porto de Assiut. Viajar de noite era perigoso, porque havia o risco de encalhar
num banco de areia ou incomodar hipopótamos, cuja cólera era arrasadora. Mas,
de dia, o Nilo não era seguro. Os hicsos rondavam por todos os lados. Outrora
muito activo, aquele porto estava ao abandono. Velhos navios e uma barcaça esventrada
apodreciam. Nem Risonho
nem Vento do Norte
detectaram qualquer presença inquietante. O molosso desembarcou primeiro,
seguido pelo burro, a Rainha, o
Afegão, o Bigodes
e uma dezena de jovens
archeiros bem alerta. Aliada de Ah-hotep, a Lua iluminava a paisagem. A cidade
estendia-se ao abrigo de uma falésia na qual tinham sido escavados os túmulos, entre
os quais o de um Sumo Sacerdote de Up-uaut, o Abridor dos caminhos,
detentor da enxó indispensável para ressuscitar a múmia. Se eu fosse o
comandante hicso considerou o
Afegão seria exactamente neste lugar que colocaria as minhas
sentinelas. Não há melhor ponto de observação. Vamos verificar isso declarou o Bigodes. Se tiveres
razão, sempre serão alguns hicsos a menos. O Bigodes era um egípcio do Delta, arrastado quase
involuntariamente para a resistência, que se tornara a sua razão de viver.
Espoliado pelos invasores, o Afegão apenas sonhava
restabelecer o comércio de lápis-lazúli com um Egipto novamente respeitador das
leis comerciais. Os dois homens tinham corrido juntos muitos perigos.
Admiradores incondicionais da Rainha Ah-hotep, a mulher mais bela e mais
inteligente que tinham conhecido, bater-se-iam ao lado dela até ao fim, fosse
ele qual fosse. O Afegão e o
Bigodes treparam a colina com a vivacidade de combatentes
habituados às expedições perigosas. Menos de meia hora depois, estavam de
regresso. Quatro sentinelas definitivamente adormecidas disse o Bigodes. O caminho está livre.
Como Ah-hotep seguia o mesmo
treino dos soldados, não teve qualquer dificuldade em subir a encosta. Vários
túmulos tinham sido profanados e o do Sumo Sacerdote Up-uaut fazia infelizmente
parte deles. Os hicsos armazenavam nela armas e mantimentos. Com a raiva no
coração, a Rainha explorou os destroços à luz de uma tocha. Atingiu a pequena
sala situada próximo do fundo do túmulo, onde o ritualista tinha o costume de depositar
os objectos mais preciosos. Jaziam no chão fragmentos de cofres e de estátuas.
A Rainha revistou aquele caos. E, por baixo de um cesto contendo alimentos
mumificados, encontrou a enxó de ferro celeste utilizada durante os rituais de
ressurreição. A porta do túmulo de Seken fechou-se e foi o seu filho mais
velho, auxiliado pelo intendente Qaris, que colocou o selo da necrópole. Depois
de Ah-hotep ter aberto os olhos, a boca e as orelhas da múmia, a alma do Faraó
deixou de estar presa à terra. Temos de falar da situação, Majestade sugeriu
Qaris. Mais tarde. Deveis interromper o mais rapidamente possível a vossa
estratégia». In Christian Jacq, A Rainha Liberdade, A Guerra das Coroas, ISBN
978-852-861-216-5, Bertrand Editora, 2006, ISBN 978-972-251-281-7.
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