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A
meu irmão
[…]
«Mas
não; os homens vêem pasmar o féretro,
Vêem do sepulcro
alevantar-se a lousa,
E, olhando a nobre
fronte que repousa,
Quem é?, perguntam
com cruel frieza.
É um poeta, lhes
respondem poucos.
Um poeta!, palavra
incompreensível!
Por ele a multidão
passa insensível,
E a campa desampara
com presteza.
E um poeta morreu!,
listas palavras
Nada vos dizem,
povos, que as ouvistes?
Não as há mais
solenes nem mais tristes.
Oh!, nelas reflecti
um só momento!
Não sabeis o que diz
a morte do homem
Que se encaminha à
campa que lhe ergueram
Seguido apenas dos
que ainda veneram
O culto da poesia e
pensamento?
Não ouvis esse dobre,
que o lamenta?
É como a voz do
século, que brada:
Chorai, ó multidões,
que na cruzada
Da civilização vos
alistastes,
Chorai, um dos
soldados que há caído,
Deus lhe dera a
bandeira que vos guia,
O estandarte da ideia,
a poesia;
Mas vós na heróica
empresa o abandonastes!
Lamenta, ó liberdade,
o teu apóstolo!
Amor, o coração que
te entendia!
Tu, Pátria, o filho
que melhor podia
Entre as nações da
terra engrandecer-te!
Religião, ai!, chora
o sacerdote,
Que, entoando no
templo os sacros hinos,
Chamara os povos aos
altares divinos
E cultos sem iguais
pudera erguer-te!
E tu, o mundo, o vês
quase indiferente!
Curva a cabeça ante
essa campa aberta,
Ajoelha-te, e a
fronte descoberta,
Venera as cinzas que
deixou na Terra;
Os restos são da mais
violenta chama,
Que o fogo do Céu no mundo
ateia;
A chama ardente de
inspirada ideia,
Fogo que a mente do
poeta encerra!
[…]
In
Júlio Dinis (Joaquim Guilherme Gomes Coelho), Poesias, 1859, Publicações Europa-América, 2010, ISBN 978-972-104-585-9.
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