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de wikipedia e jdact
Nascimento
e glória de Júpiter
«(…) Vai e liberta os seus irmãos
da negra prisão em que estão metidos, para que V. possa assumir o lugar de seu
pérfido pai no comando do mundo, disse a águia, estendendo as longas asas, para
enfatizar as suas palavras. Júpiter, que era um rapaz extraordinariamente forte
e corajoso, acatou imediatamente a sugestão da sua fiel conselheira; auxiliado
pela filha do titã Oceano, a suave Métis, tomou posse, então, de uma poderosa
erva mágica. Faça com que seu perverso pai beba desta poção e num instante verá
regurgitados todos os seus aprisionados irmãos, disse-lhe a bela oceânide. Júpiter
conseguiu disfarçar-se de escanção de Saturno, oficial que deveria servi-lo, e ofereceu-lhe
a atraente beberagem numa taça de ouro. Que espécie de néctar é este, que tem o
brilho de todas as cores e se perfuma de todos os odores?, perguntou Saturno,
arregalando o olho para dentro da taça. Um néctar como nunca experimentou
igual!, asseverou Júpiter, desviando ao mesmo tempo o olhar da carranca severa
do pai. Saturno, após infinitas vacilações, finalmente emborcou o conteúdo da
taça. A princípio estalou os beiços, achando maravilhosa a poção. Durou pouco,
entretanto, o prazer, pois logo em seguida o velho começou a passar muito mal.
Mas o que é isto?, exclamou
Saturno, fazendo-se todo branco. Sinto náuseas fortíssimas! Dali a instantes
Saturno começou a regurgitar, um por um, cada um dos filhos que havia ingerido.
Pobre deus! Como já fazia muito tempo que os engolira, agora se via obrigado a
restituí-los completamente adultos. A incrédula Cibele, que estava junto do
esposo, ia recebendo cada um dos filhos com a face lavada em pranto: Oh, Juno
querida... Vesta amada... Adorada Ceres... Neptuno, meu anjo! Plutão, meu amor...
Com o retorno de seus irmãos, Júpiter havia dado o primeiro e irredutível passo
para retirar o poder supremo do mundo das mãos de seu pérfido pai. Exijo,
Saturno cruel, que me ceda agora o ceptro do mundo!, exclamou Júpiter, com altivez
e confiança. Como ousa levantar mão ímpia contra mim, o soberano do mundo?, exclamou
Saturno, repetindo ao filho algo que lhe soava estranhamente familiar. Pressentindo,
no entanto, o perigo, Saturno tratou logo de ir procurar os eus antigos irmãos e
aliados, os velhos, porém ainda fortíssimos, Titãs. Mas isto é o fim dos
tempos!, acrescentou, criando uma frase que as gerações futuras repetiriam
sempre que uma civilização entrasse em decadência. A Guerra dos Titãs apenas
começava a ser esboçada.
Júpiter
e a guerra dos titãs
Não há crónica, antiga ou
moderna, que refira de maneira exacta todos os feitos e lances heróicos desta
que foi a verdadeira primeira guerra mundial. Ela é demasiado antiga e perde-se
na noite dos tempos. Só podemos basear-nos no que dela referiram alguns
comentadores tardios, como Hesíodo. Ainda assim, ela houve: os sinais, por
tudo, são demais evidentes. A própria geologia comprova que as extintas
divindades de outrora, personificações, talvez, dos elementos em estado caótico,
se engalfinharam um dia numa luta impiedosa, revolvendo no embate o Céu, a
Terra e os mares. Esta gigantesca querela teve início com a pretensão de um
filho rebelde, chamado Júpiter, sobre o poder supremo que estava em mãos de uma
divindade cruel e despótica, chamada Saturno. Mas quem foram as partes deste
espantoso embate? De um lado, liderados por Saturno, estavam ele e seus irmãos,
os poderosos Titãs (filhos da Terra). Do outro, Júpiter, o filho insubmisso, e
seus irmãos, além de algumas defecções titânicas que se alistaram à causa
rebelde, tais como o Oceano e o filho de Japeto, Prometeu.
Os
deuses da segunda geração, liderados por Júpiter, foram organizar o seu ataque
no monte Olimpo (daí serem chamados de deuses olímpicos), enquanto os Titãs,
abrigados no monte Ótris, tramavam a sua defesa. Num dia incerto, que nenhum
cálculo humano pode aproximar, deu-se o primeiro lance desta refrega colossal,
que os anais bélicos da humanidade baptizaram de Titanomaquia (ou Guerra dos
Titãs). Uma imensa massa negra de nuvens destacou-se dos limites extremos do Olimpo
e começou a marchar, num estrondo feroz de carros de guerra que rondam pelos
céus. O empíreo escureceu de tal forma que o Caos parecia haver gerado de seu
ventre uma segunda Noite, ainda mais negra e tétrica do que a primeira. De
dentro desta montanha alada, da cor do ferro, partiam raios tão ofuscantes
(novidade horripilante inventada pelos Ciclopes, aliados de Júpiter, que este
libertara do Tártaro), que por alguns instantes brevíssimos não havia em todo o
Universo a menor parcela de escuridão. Mas logo o negror da noite tombava outra
vez sobre a Terra, e a alma de tudo quanto vivia agachava-se, oprimida por
indizível pavor». In AS Franchini e Carmen Seganfredo, As 100 Melhores Histórias da
Mitologia, Deuses, Heróis, Monstros, Guerras da tradição Greco-Romana,
L&PM, 2003, 2007, ISBN 852-541-316-X.
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