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«(…) Assim, o desaparecimento de
dona Inês de Castro surgia, na óptica do rei e da nobreza portuguesa, como a
única solução para todos esses problemas. A morte de Inês de Castro terá sido
sugerida por Diogo Lopes Pacheco (era conselheiro de Afonso IV; esteve
implicado no assassínio de dona Inês de Castro e assistiu aos juramentos de
perdão feitos pelo infante Pedro em 1355; durante a governação de Pedro I,
esteve exilado, mantendo-se fora do reino durante o reinado fernandino.
Regressa a Portugal em 1384, sendo aprisionado pelas hostes castelhanas que cercavam
Almada, sendo posteriormente entregue ao mestre de Avis, numa troca de
prisioneiros; foi feito membro do conselho e os seus bens e fama foram
restituídos, passando a receber uma quantia de 500 libras mensais. Em 1385,
esteve presente nas cortes de Coimbra, tendo sido aí invocado por João das
Regras a propósito da validade do casamento de dona Leonor Teles com João Lourenço
Cunha; foi também inquirido sobre a legitimidade dos filhos de Pedro I e dona
Inês de Castro; foi confirmado como conselheiro de João I pela carta de 10 de
Abril de 1385, depois de proposta dos povos nesse sentido; manter-se-á nesse cargo
até 1393, altura da sua morte), Pedro Coelho e Álvaro Gonçalves, membros do
conselho do rei. Serão igualmente estes os executores de Inês de Castro que, no
dia 7 de Janeiro de 1355, é assassinada em Coimbra.
O resultado destes trágicos acontecimentos
foi a guerra civil. Pedro pegou imediatamente em armas e reuniu em seu torno um
grupo de apoiantes, entre os quais se encontravam os Castros e os seus
vassalos, tendo ainda recrutado um elevado número de homiziados e de criminosos.
Não são conhecidos em detalhe todos os episódios da guerra civil. No entanto, um
dos mais marcantes foi a tentativa de tomada da cidade do Porto. Na mira do
infante estaria uma estratégia de domínio da zona norte do reino, tal como
havia feito seu pai durante a guerra civil de 1319-1324, onde seria mais fácil
angariar apoios, sobretudo junto da nobreza senhorial descontente com o
processo de centralização régia levado a cabo pelo monarca. O exército rebelde
reunido na Primavera de 1355 nas comarcas de Entre-Douro e Minho e de
Trás-os-Montes avança, então, com destino ao Porto. Pelo caminho deixa um profundo
rasto de devastação, sobretudo nos senhorios do rei e dos seus conselheiros.
Porém, o objectivo estratégico da campanha não é alcançado. A coordenar a
defesa da principal cidade do norte do reino, por incumbência de Afonso IV,
encontrava-se o experiente Álvaro Gonçalves Pereira, Prior do Hospital (frei Rafael
Jesus afirma que o arcebispo de Braga responsável pela defesa do Porto foi
Gonçalo Pereira, o que é um claro lapso
do autor, pois Gonçalo já tinha morrido em 1348, ou seja, sete anos antes do
conflito, com perto de 83 anos; o lapso levou a que Oliveira Marques
considerasse também que o arcebispo em questão seria Gonçalo Pereira; assinale-se
que Gonçalo Pereira participou nas tréguas entre Afonso IV e Afonso XI de
Castela em 1338, liderou o ataque a uma coluna castelhana que, em 1337,
avançava em direcção ao Porto, talvez esse o motivo do lapso;e esteve presente
com Afonso IV, na Batalha do Salado, em 1340), que conseguiu iludir os
atacantes através da colocação de pendões em algumas das estruturas de defesa
da cidade, dando assim a ilusão de que esta era defendida por um exército
numeroso e bem armado. Pouco motivada e, seguramente, sem meios para levar a
cabo um cerco prolongado, a hoste do infante retira-se das imediações do Porto.
Pedro prepara-se, então, para defrontar Afonso IV. Contudo, o recontro é
evitado pela acção diplomática da rainha-mãe, dona Beatriz, e do arcebispo de
Braga, Guilherme (foi nomeado arcebispo de Braga em 1349, pelo Papa Clemente
VI; o arcebispo era francês e por altura da sua nomeação residia em Avinhão; em
1361, pela bula Angit Nos Cura,
de Inocêncio VI, foi transferido para o arcebispado de Arles, na Provença), que
persuadem o infante a reconciliar-se com o rei. O acordo de pazes que punha fim
ao conflito é assinado a 5 de Agosto de 1355, em Canaveses». In
Sara Loureiro, O Conflito entre Afonso IV e o infante Pedro (1355-1356), Cadernos
do Arquivo Municipal de Lisboa, 1ª Série, nº 7.
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