Cortesia
de wikipedia e jdact
Com
a devida vénia a Vanda Lisa Lourenço Menino
«(…) De um modo geral, em todas
as crónicas, a soberana está presente em alguns momentos importantes do reinado
de seu marido, mas trata-se, essencialmente, de referências dispersas e quase
sempre associadas à sua função pública de mulher do monarca reinante,
olvidando-se as notícias ligadas às suas actividades próprias. Como vimos, em
alguns textos cronísticos apenas se regista um simples apontamento que recorda
dona Beatriz como mãe e avó. Esta referência remete-nos para a posição que a
rainha ocupava numa dimensão familiar e dinástica, num momento em que a história
das mulheres se encontrava, quase sempre, subalternizada face à história dos príncipes
e dos monarcas reinantes. Dispensamo-nos de falar da cronística portuguesa
posterior a Fernão Lopes porque, de um modo geral, ela limitou-se a seguir a Crónica de 1419, assim como os acrescentos
de Rui Pina, nas Crónicas dos Sete
Primeiros Reis de Portugal. Este silêncio pode estar relacionado com
o facto de a Coroa portuguesa revelar, no inicio da Época Moderna, um maior
interesse em exaltar a história dos reis mais próximos, em detrimento dos reis
da primeira dinastia. No entanto, gostaríamos de destacar, por um lado,
Cristóvão Rodrigues Acenheiro que redigiu a Chronicas dos Senhores Reis de Portugal, no ano de 1535,
publicada pela primeira vez em 1824, pela Academia Real das Ciências de Lisboa,
na Colecção Inéditos de História de
Portugal, tomo V. A sua Crónica abarca o período
compreendido entre o conde Henrique e João III. Porém, os seus relatos
limitam-se a resumos e extractos de crónicas anteriores, restringindo-se a uma
narração sucessiva dos factos régios. Um outro cronista que gostaríamos de
destacar foi Duarte Nunes Leão (1530-1608), que se notabilizou por reformular
as antigas crónicas do reino, iniciando a sua narrativa com o conde Henrique.
Era seu objectivo declarado escrever uma história de Portugal depurada de erros
e falsas versões (Duarte Nunes declara que se fundou em matérias históricas
para se abalançar à obra de revisão que era digna da memória histórica dos
primeiros reis. Coligiu informes novos; consultou as crónicas de Espanha;
analisou documentos da chancelaria; verificou cartórios notariais e códices dos
mosteiros; estudou problemas canónicos).
Assim,
podemos afirmar que, ao nível da cronística, muitos dos nossos autores
limitaram-se a tecer elogios sobre esta consorte que seria dotada de grande piedade,
temor a Deus e outras virtudes. Nas crónicas existem, como já referimos, dois
episódios que são sempre narrados e associados à rainha e nos quais surge sempre
como mediadora da paz. Com o objectivo de colocar termo à guerra que eclodiu em
1336 entre Portugal e Castela, encontrou-se, em Badajoz, com o rei Afonso XI de
Castela, seu sobrinho e genro; no entanto, e como já mencionámos, este encontro
não teve o desejado sucesso. O segundo episódio está relacionado com a revolta
que Pedro moveu contra seu pai em 1355 devido ao assassinato de dona Inês de
Castro. A rainha teve neste trágico momento uma acção decisiva para o restabelecimento
da paz entre o marido e o filho, ao conseguir que as partes em conflito
alcançassem um acordo que foi estabelecido em Canaveses. A maioria dos cronistas
reconhece apenas estes dois actos de maior relevo e importância na vida desta
rainha.
No
século XVII, e sob a égide do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, foi escrita
a primeira tentativa de uma história nacional completa e já afastada dos modelos
da crónica medieval, a Monarquia
Lusitana. Nesta obra, redigida totalmente em língua portuguesa, a exaltação
do passado e a apologia nacional são pontos fundamentais. Recorde-se que nesta
época o bilinguismo peninsular aceitava que as temáticas nacionais fossem
compostas no idioma do país vizinho. Foi assim que, no final do século XVII, em
1672, frei Francisco Brandão, monge cisterciense de Alcobaça, publicou a Sexta
Parte da Monarquia Lusitana,
referente ao reinado de Dinis I, e o beneditino frei Rafael Jesus publicou a
Sétima Parte desta importante obra da nossa historiografia, em 1683, na qual se
ocupou de todo o reinado de Afonso IV. O ponto de partida para estas duas
partes foi a crónica de Rui Pina, à qual devemos associar informações coligidas
pelos respectivos autores, ao nível da leitura documental. No entanto, esta era
muitas vezes efectuada sem aplicação da crítica histórica. O trabalho de frei
Rafael Jesus é, por um lado, o menos erudito nas palavras e, por outro, o menos
rico de informação, porque o autor se baseou, quase exclusivamente, na Crónica de Rui Pina e não
procurou documentação nova nem tratou de corrigir as inexactidões do cronista
de Quinhentos. Na Monarquia Lusitana
encontramos mais informação referente à infanta Beatriz na Sexta
Parte, ou seja, no livro dedicado ao reinado de Dinis I, do que na Sétima Parte,
que relata o reinado de Afonso IV, no qual dona Beatriz é rainha de Portugal». In Vanda Lisa L.
Menino, A Rainha D. Beatriz e a sua Casa (1293-1359), Tese de Doutoramento em
História, Universidade Nova de Lisboa, FCSHumanas, 2012, Wikipedia.
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