jdact
Paris
«(…) Mas
esta negrura que o artista aguarda com ansiedade, cuja aparição vem satisfazer os
seus votos e enchê-lo de alegria, não se manifesta apenas durante a cocção. O pássaro
negro aparece em diversas ocasiões e essa frequência permite aos autores lançar
a confusão na ordem das operações.
Segundo Le Breton, há quatro
putrefações na Obra filosófica. A primeira, na primeira separação; a
segunda, na primeira conjunção; a terceira, na segunda conjunção, que se faz
entre a água pesada e o seu sal; a quarta, finalmente, na fixação do enxofre.
Em cada uma destas putrefações produz-se a negrura. Tornou-se, portanto, fácil aos nossos velhos
mestres cobrir o arcano com um véu espesso, misturando as qualidades específicas
das diversas substâncias no decorrer das quatro operações que patenteiam a cor
negra. Desta maneira, é muito trabalhoso separá-las e distinguir nitidamente o
que pertence a cada uma delas. Eis algumas citações que poderão esclarecer o
investigador e permitir-lhe reconhecer o seu caminho neste tenebroso labirinto:
Na segunda operação, escreve o Cavaleiro Desconhecido o artista prudente
fixa a alma geral do mundo no ouro comum e torna pura a alma terrestre e imóvel;
nessa dita operação, a putrefacção, que eles chamam a Cabeça do Corvo, é muito longa; esta
é seguida de uma terceira multiplicação, juntando a matéria filosófica ou a
alma geral do mundo.
Há aqui, claramente
indicadas, duas operações sucessivas, cuja primeira termina, começando a
segunda após a aparição da coloração negra, o que não é o caso da cocção. Um
precioso manuscrito anónimo do século XVIII fala
assim dessa primeira putrefacção, que não se deve confundir com as outras:
Se a
matéria não estiver corrompida e mortificada, diz essa obra, não podereis extrair
os nossos elementos e os nossos princípios; e para vos ajudar nessa dificuldade
dar-vos-ei sinais para a conhecerdes. Alguns Filósofos também o observaram;
Morien diz que é necessário que se note alguma
acidez e que tenha um odor
de sepulcro; Filaleto diz que é necessário que ela tenha a aparência de
olhos de peixe, ou seja, de pequenas bolhas à superfície, e que pareça que
espuma; porque é um sinal de que a matéria fermenta e borbulha. Esta fermentação
é muito longa e é preciso ter grande paciência, porque se faz pelo nosso fogo secreto, que é o único agente que
pode abrir, sublimar e putrificar.
Mas de todas estas
descrições as que se referem ao Corvo (ou
cor negra) da cozedura são, de longe, as mais numerosas e as mais consultadas
porque englobam todos os caracteres das outras operações. Bernardo, o Trevisano, exprime-se
desta maneira: notai então que quando
o nosso composto começa a estar embebido da nossa água permanente então todo o
composto se converte numa espécie de resina fundida e fica todo enegrecido como
carvão. E ao chegar a esse ponto o nosso composto é chamado resina negra, sal queimado, chumbo fundido,
latão não puro, Magnésia e Melro de João. Porque nessa altura vê-se
uma nuvem negra, flutuando na região média do vaso, de bela e suave maneira,
ser elevada acima do vaso e no fundo deste está a matéria fundida, semelhante a
resina, que ficará totalmente dissolvida. Dessa nuvem fala Jacques do burgo S.
Saturnin, dizendo: ó bendita nuvem que voas pela nossa redoma! Lá está o eclipse
do sol de que fala Raymond». In Fulcanelli, 1926, Le Mystère des
Cathédrales, 1964, O Mistério das Catedrais, Interpretação Esotérica dos
símbolos herméticos, Edições 70, 1975, Lisboa, Colecção Esfinge.
Cortesia de E70/JDACT