«Não há vencedores no inferno.
Mesmo vencendo, você perde. Dá tudo na mesma. Você está no inferno. Quando
Yasmeena foi escolhida pelo capitão, ela sabia que não ganhara um prêmio.
Ganhara um lugar num inferno feito pelos homens. Por diversos e longos
momentos, ela espreitava cuidadosamente por entre as barras da sua cela. Não
via ninguém, apesar de escutar o ruído abafado de vozes masculinas e femininas.
Finalmente, sentou-se no fino colchão colocado no centro da cela mal iluminada.
Olhava para o vazio, com rosto imóvel e mente activa, imaginando como poderia
sair do inferno. Pressentia que sofreria horrivelmente nas mãos do homem que a havia
reclamado como sua, caso não conseguisse escapar. O aterrorizante pesadelo de
Yasmeena tornou-se subitamente mais real quando o capitão apareceu para tomar o
que havia declarado como seu. Ele não olhou para ela quando destrancou a porta
da cela. Na verdade, parecia estar com outras coisas na cabeça, talvez a sua
família lá no Iraque, ou algum desjejum especial que prepararia no dia
seguinte. O comportamento calmo do homem disparou os alarmes da intuição de
Yasmeena e ela recuou até ao canto da cela, vagarosa e silenciosamente, como um
vigilante treinador de animais, sem querer despertar a atenção da besta que
poderia mudar da tranquilidade para uma postura traiçoeira a qualquer instante.
Depois de entrar na cela, o homem
enfiou a chave no bolso da calça antes de tentar sentar-se com as pernas
cruzadas sobre o fino colchão abandonado por Yasmeena momentos antes. Quando
finalmente olhou para ela, a ausência de sentimentos humanos nos seus olhos acentuou
o medo crescente. Ele finalmente falou, de forma suave, com voz seca e sem emoção,
ordenando calmamente: dispa-se… Yasmeena enrijeceu. Apesar de ter 23 anos, era
virgem. Jamais havia beijado um homem, apesar de, certa vez, ter permitido que
um belo homem que conhecera em Paris segurasse a sua mão. A voz grave do
soldado era baixa e calma, com ligeiras hesitações suavizando os seus modos. A
voz gentil parecia fazer dele uma pessoa suave, mas Yasmeena sabia que a voz era
uma fachada. Ele tossiu e pigarreou, voltando-se para cuspir num canto: um homem
a quem jamais haviam ensinado boas maneiras. Então, com aquela mesma voz calma,
ele lançou uma mensagem mais alarmante: tire tudo ou mando os meus homens
despirem você. E isso não será muito agradável, minha querida.
Yasmeena
conseguiu unir forças para usar a voz, apesar de sair falhada e apenas um pouco
mais audível do que um sussurro. Por favor, não faça isso. Eu sou árabe. Você é
árabe. Eu sou muçulmana. Você é muçulmano. Por favor, não faça isso. Ele a
olhou calmamente, como se ela não houvesse dito nada importante, talvez algo trivial,
como preferir ovos cozidos em vez de mexidos. O seu tom ficou mais duro quando ordenou:
tire as suas roupas. Todas. Quero vê-la. Por favor. Pense na sua irmã ou na sua
mãe. Você não iria querer que isso acontecesse com elas. Por favor. Não. Nenhum
de seus argumentos conseguiu comovê-lo. Ele permanecia distante e inabalado
pelos aterrorizados pedidos. O seu rosto impassível estava talhado em granito,
e ele disse: então, vai ser assim. Nesse momento, ele avançou até ela. Um passo
largo bastou para que ele a agarrasse pelo pescoço com força, usando a outra mão
para arrancar as roupas, até deixá-la nua, sem se importar em fazer isso com
delicadeza, rasgando-as». In Jean Sasson, A Escolha de Yasmeena,
Edições ASA, 2014, ISBN 978-989-232-798-3.
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