Cortesia
de wikipedia e jdact
Sancho
II de Portugal. Um Conspecto Historiográfico
Com
a devida vénia ao Doutor José Varandas
Do
Conspecto…
«(…) No seu conjunto o volume de informação disponível sobre o
período de 1223 aos inícios de 1248 apresenta-se disperso por um conjunto de
fontes documentais e narrativas, que foram apreciadas e utilizadas pela
historiografia portuguesa, quer a do Antigo Regime, quer a mais próxima dos
nossos tempos. De características bem distintas, com forte vínculo ao universo
cronístico ou mais relacionadas com processos sistemáticos de crítica e
utilização de fontes documentais, cabe às histórias gerais sobre Portugal,
neste trabalho, a primeira palavra sobre os acontecimentos em torno do reinado de
Sancho II.
Um
outro aspecto que gostaríamos de salientar na elaboração da primeira parte deste
trabalho relaciona-se com a forma como apresentamos as várias posições historiográficas
sobre o reinado de Sancho II. Numa primeira abordagem, pareceu-nos que essa caracterização
pudesse ser feita por modelos historiográficos, onde as várias visões sobre
Sancho II pudessem ser observadas com maior coerência. E, continua a parecer-nos
uma opção válida. Contudo, optámos por desenvolver um conspecto historiográfico
ordenado por critérios cronológicos, desenvolvendo para cada um dos autores que
nos pareceram mais pertinentes, as posições tomadas em relação à matéria disponível
sobre a forma como a estrutura central e os subsistemas periféricos se relacionavam
entre 1223 e 1245. Pensamos que este método, além de não desvirtuar as linhas
metodológicas de cada uma das Histórias observadas, nem de as retirar dos complexos
historiográficos e dos estímulos externos onde e com que foram produzidas, nos
permitia observar o seu carácter evolutivo, e nesse aspecto percebermos,
também, a evolução historiográfica das representações sobre Sancho II.
A maior parte das obras consultadas
são obras de continuação, compilações ou meros resumos de outras, que as
antecederam, e que pela sua forma e objectivos das obras de formação erudita. A
opção por integrar, ambos os modelos, num processo de observação cronológico,
também possibilita, pensamos, a percepção dos processos que levaram à sua
elaboração. Afinal, repetida até à exaustão, ou observada com os métodos críticos
disponíveis no momento, a construção da imagem de Sancho II corresponde a objectivos
bem determinados. Se, à partida, possa parecer relevante a opção por aquelas obras
que marcaram viragens historiográficas, ou seja, neste caso concreto, aqueles trabalhos
que trouxeram novidades ao estudo da história do reinado de Sancho II, também
nos pareceu interessante observarmos o acumular dos processos repetitivos reproduzidos,
cronologicamente, em muitas histórias com carácter eminentemente divulgativo.
Estas obras que não utilizam como suporte investigações originais, antes resultam
do trabalho de recompilação, de síntese de memórias anteriores, ou de
reescrita, sem sentido crítico, pareceram-nos ocupar um lugar próprio no que
diz respeito à forma como a memória deste rei, o que foi deposto, foi
construída e depois, ensinada e divulgada, desde os inícios do século XIX até
aos nossos dias. E, é por isso que ao lado de obras de perfil marcadamente
erudito e pautadas pela dinâmica das fontes e da sua interminável crítica,
desfilam algumas dessas obras repetitivas e constantemente reescritas com as
mesmas passagens. Se, por um lado, garantimos a apresentação de um estado da
questão historiográfico, que evoluiu cronologicamente, por outro, associamos-lhe
outra realidade, também inegavelmente de sentido cronológico, e que está representada
por esta historiografia divulgativa». In José Varandas, Bonus Rex ou Rex
Inutilis, As Periferias e o Centro. Redes de poder no reinado de Sancho II
(1223-1248), Ude Lisboa, FdeLetras, DdeHistória, Tese de Doutoramento em
História, História Medieval, 2003, Wikipedia.
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