sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Chaves e as suas Fortificações. Paulo Dordio. «… centralização régia, e se esta não constitui pouco mais do que o prolongamento da uniformização citadina, assumindo aqui a palavra periferia o duplo sentido geográfico e social»

Cortesia de wikipedia e jdact

Evolução Urbana e Arquitectónica
Cidades Portuguesas no Tempo. Rede Urbana e Sociedade em Portugal
«(…) As características da rede urbana portuguesa adquirem também aqui significado: parece evidente, aliás, que uma das características que se apontam à rede urbana portuguesa no Antigo Regime, designadamente, a quase inexistência de cidades de média dimensão, tem também (e muito) a ver com isso: não existiam capitais de unidades administrativas regionais. Ser sede de comarca era muito pouco, até porque chegou a haver mais de quatro dezenas e algumas, como Chão de Couce no início do século XIX, não chegavam a ter três centenas de fogos (Monteiro 1996). A cidade como modelo de organização do território e ideal de vida humana, a cultura e mentalidades urbanas, seriam um dos ingredientes do património da zona central da sociedade. É desta forma que para José Mattoso, o próprio processo de centralização régia poderia ser visto como a extensão à periferia da mentalidade urbana: se o que se tem chamado a história nacional não é, afinal, apenas a da centralização régia, e se esta não constitui pouco mais do que o prolongamento da uniformização citadina, assumindo aqui a palavra periferia o duplo sentido geográfico e social. Em síntese, poder-se-ia afirmar que ao começo do triunfo da Monarquia, que o reinado de Afonso III estabelece depois das incertezas do reinado anterior, corresponde a progressiva consolidação de um modelo de ordenamento do território veiculado pelo poder régio que tomava a cidade como o ideal de organização com o qual era imperativo fazer preencher todo o espaço disponível. Cidade e Concelho tenderão a identificar-se e, até ao final do século XV, verifica-se a universalização do modelo concelhio como a unidade administrativa e judicial de primeira instância. Os resultados revelariam porém o compromisso entre as formas tradicionais de organização na periferia e os modelos propagados pela autoridade do centro. A investigação da cidade como materialidade, a investigação da forma e da localização, a investigação da cidade como documento para a história da sociedade foi um tipo de aproximação do fenómeno urbano lançado entre nós em primeiro lugar pela geografia. Os textos de Orlando Ribeiro assumem aqui um papel fundador (Orlando Ribeiro, Opúsculos Geográficos. Fundação Calouste Gulbenkian,
Lisboa, 1994) a que se seguiriam alguns dos seus discípulos como Jorge Gaspar (1969) embora com escassa continuidade posterior no que à dimensão histórica diz respeito Diante do atraso da arqueologia medieval e moderna em Portugal, foi a história da arquitectura e do urbanismo que deram a necessária continuidade às problemáticas então abertas. Várias equipas e investigadores individuais abriram novas frentes de trabalho a partir da década de 1980 elegendo como objecto de estudo a forma e a morfologia urbana. Toda esta dinâmica nova da história do urbanismo português culminaria em realizações colectivas de síntese como O Universo Urbanístico Português 1415 – 1822, já em meados da década de 1990. É no seio da equipa liderada por Walter Rossa no Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, que estas frentes de trabalho melhor adquiriram profundidade de abordagem, reflexão crítica, apuramento das metodologias e ao mesmo tempo sentido de projecto em continuidade e de largo fôlego.
Inicialmente centrado sobre a cidade setecentista, a orientação da investigação cedo sentiu a indispensabilidade de um recuo no tempo discutindo a questão dos antecedentes e recentrando-se sobre o período que medeia entre o momento fundador baixo medieval e o momento de reformulação e redefinição das primeiras décadas de Quinhentos. A investigação perseguiria então a identificação dos procedimentos urbanísticos e de ordenamento do território mais comuns, os quais designaria por invariantes, e que na sua sistematização configurariam uma específica maneira de fazer cidade, ou, de um modo mais abrangente, uma cultura do território portuguesa». In Paulo Dordio, Chaves e as suas Fortificações, Evolução Urbana e Arquitectónica, ArqueoHoje, Chaves, Lavantamento Arquivístico e Bibliográfico, 2006, Chaves, Arquivo Municipal de Chaves, 2015, Wikipédia.

Cortesia de AMChaves/ArqueoHoje/JDACT