Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…)
Para os matemáticos, a emoção foi intensa. Tudo se revelava naquele momento
glorioso. E com tudo isso em jogo não é de admirar o peso da responsabilidade
que Wiles sentiu quando uma falha nas suas ideias foi detectada no Outono de
1993. Com os olhos do mundo sobre ele, e os seus colegas exigindo que a solução
fosse revelada publicamente, é de admirar que Wiles não tenha sofrido um
colapso nervoso. Ele começara a trabalhar na privacidade do seu gabinete,
seguindo no seu próprio ritmo, e subitamente tudo se tornara público. Andrew
era um homem tão reservado que lutou duramente para proteger a sua família da
tempestade que se abatia sobre ele. Durante toda a semana que passei em
Princeton eu telefonei para ele, deixei recados no seu escritório, na porta da
sua casa e com os seus amigos. Até um presente, na forma de uma caixa de chá
inglês, eu deixei. Mas ele resistiu ao meu assédio até ao encontro casual no
dia da minha partida. Tivemos uma conversa que durou pouco mais do que quinze
minutos. Quando nos separámos, havíamos chegado a um acordo. Se ele conseguisse
consertar a demonstração então conversaríamos sobre um filme. Eu estava pronto
a esperar. Mas, quando voei para Londres naquela noite, a ideia do programa de
televisão me parecia morta. Ninguém jamais conseguira reparar uma falha nas
tentativas de solucionar Fermat, feitas durante três séculos. A história estava
cheia de soluções frustradas, e por mais que eu desejasse que esta fosse uma
excepção era difícil imaginar que Wiles não se tornaria outra lápide naquele
cemitério matemático.
Um
ano depois recebi um telefonema. Depois de uma reviravolta extraordinária e uma
grande inspiração, Wiles finalmente acabara com a saga do Teorema de Fermat. E
no ano seguinte conseguimos um tempo para que ele se dedicasse às filmagens. Na
ocasião eu já tinha convidado Simon Singh para participar da produção e passámos
algum tempo com Andrew, ouvindo, com suas próprias palavras, a história
completa daqueles sete anos de estudo e do ano infernal que se seguiu. Enquanto
filmávamos, Andrew nos contou o que nunca revelara antes: seus sentimentos
pessoais sobre o que realizara, como se agarrara durante trinta anos a este
sonho de infância, e como a maior parte da matemática que estudara, sem
perceber, resultara nas ferramentas de que precisaria para enfrentar o desafio
que dominou a sua carreira. Andrew achava que tudo tinha mudado e nos falou do
sentimento de perda pelo problema que agora não seria mais o seu companheiro
constante. E nos falou também da sensação de liberdade que agora sentia. E para
um assunto tão difícil de ser compreendido pelo homem comum, o nível emocional
de nossas conversas foi o maior que já experimentei em toda a minha carreira
como realizador de filmes científicos. Para Andrew Wiles era o fim de um
capítulo da sua vida. E para mim foi um privilégio ter estado tão próximo. O
filme O Último Teorema de Fermat
foi transmitido na Inglaterra pela BBC Television como parte da série Horizonte. Depois foi exibido nos
Estados Unidos, dentro da série Nova
da PBS. Agora Simon Singh reuniu aquelas conversas, ideias e toda a
interessante história da matemática. Um registo esclarecedor de uma das maiores
aventuras do pensamento humano». In John Lynch, 1997
Prefácio
«A
história do Último Teorema de Fermat está ligada profundamente à história da
matemática, tocando em todos os temas da teoria dos números. Ela proporciona
uma visão única do que impulsiona a matemática e, talvez ainda mais importante,
o que inspira os matemáticos. O Último Teorema é o coração de uma saga de
coragem, fraudes, astúcia e tragédia, envolvendo todos os grandes heróis da
matemática». In Simon Singh, o Último Teorema de Fermat, 1997, Edição BestBolso, nº
367, Editora Record, 2011-2014, 978-857-799-462-5.
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