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de wikipedia e jdact
Portugal:
do Condado ao Reino
«Da presúria do Porto (868) resultou a formação do primeiro
Condado Portucalense, sob a chefia do presor Vímara Peres, que se acantonou na
área da futura Guimarães. A derrota do seu derradeiro sucessor, Nuno Mendes, em
1071, em Pedroso, junto a Braga, deixou vazio o Condado Portucalense, até ao conde
dom Raimundo (1092). Sucedeu-lhe o primo, o conde dom Henrique (1096-1112), que
casou com Teresa, filha bastarda de Afonso VI de Leão e Castela e de Ximena Moniz
Bierzo. Após a morte do marido (1112), a condessa dona Teresa assumiu o governo
portucalense, até à sua derrota, na batalha de São Mamede, em Guimarães, a 24
de Junho de 1128. Durante o governo do Infante dom Afonso Henriques, o Condado
vai converter-se em Reino, primeiro reconhecido pela sua cúria e pelo seu
exército, com a vitória de Ourique (25 de Julho de 1139), depois, pelo rei de
Leão e Castela, no Tratado de Zamora (1143) e, finalmente, pelas instâncias internacionais,
com a bula Manifestis Probatum, do papa Alexandre III (1179).
Em
1086, devido às boas relações que Afonso VI, rei de Leão e Castela, tinha com dom
Hugo, o abade de Cluny, veio participar na luta pela reconquista cristã, na
Península Ibérica, o conde francês Raimundo de Borgonha. Em 1092, Afonso VI,
concedeu o governo da Galiza ao conde Raimundo, aliás já seu genro desde 1090,
devido ao casamento deste com a filha legítima do rei Afonso VI, dona Urraca. Estabeleceu-se,
assim, uma relação de suserania, que controlava as pretensões autonomistas da Galiza,
como havia acontecido, em 1087, com a revolta do conde local Garcia Oveques. Para
se entender a razão da formação do Condado Portucalense, deve igualmente
analisar-se a questão da volatilidade da posse do espaço físico do território,
sujeito aos resultados de vitórias ou derrotas entre as forças cristãs e mouras
e das famílias emergentes, como os senhores da Maia.
Em
1093, o rei de Badajoz colocou-se sob a protecção de Afonso VI, de Leão,
entregando-lhe Santarém, Lisboa e Sintra. Logo no ano seguinte, esses
territórios foram perdidos pelos cristãos. Parece lógico que a Afonso VI de
Leão se tenha colocado a questão de nova descentralização de poder, com o fim
de uma maior e mais eficaz consolidação dos territórios conquistados aos
mouros. E assim, em 1096, concedeu ao conde Henrique o governo do Condado Portucalense,
associado ao casamento realizado, no ano anterior, com sua filha ilegítima,
dona Teresa. A doação do Condado foi a título hereditário, isto é, sem
restituição após a morte dos titulares. Nessa altura, os limites do Condado
confinavam-se, a sul, em Coimbra e, a norte, no Rio Minho. O espírito de
autonomia do conde Henrique mudou de direcção durante o governo da esposa, dona
Teresa. A corte dela ficou rodeada de fidalgos galegos, sob a estratégia de
Fernão Peres Trava. A esta circunstância negativa para a autonomia portuguesa, juntaram-se
as ambições do arcebispo de Compostela, Diego Gelmirez. Esta nova corrente
política gerou uma forte oposição por parte dos grandes nobres portucalenses,
que ergueram, como bandeira da recuperação da sua importância, os direitos do
Infante Afonso Henriques. Em conjunto com o Infante, formou-se um exército,
para pôr em prática o projecto de autonomia do Condado Portucalense, quer face
ao poderio galego, quer às aspirações de Leão e Castela.
A
família da Maia tomou o lugar da dianteira no programa de autonomia do Condado
Portucalense, embrião do Reino livre de Portugal. Como atrás apontámos, o
processo de autonomia de Portugal, que transformou o Condado Portucalense em
Reino de Portugal, desenrolou-se em quatro momentos cruciais, na superação do
confronto de poderes:
(a)
1128 (24 de Junho). A batalha de São Mamede assegurou a autonomia do Condado Portucalense,
face à ingerência da nobreza galega. Trata-se do reconhecimento local e Regional; o condado portucalense
autonomiza-se da Galiza do Norte, representada pelo arcebispo de Compostela, Diogo
Gelmires (poder religioso), e por Fernão Peres Trava
(poder
político);
(b)
1139 (25 de Julho). A batalha de Ourique simboliza a vitória sobre a hegemonia
dos mouros, no sul de Portugal, que só viria a concluir-se em 1249, com a conquista
definitiva do Algarve; trata-se do reconhecimento
interno do Reino de Portugal;
(c)
1143 (5 de Outubro). O tratado de Zamora reconheceu o Reino de Portugal como um
entre outros reinos na Península Ibérica. Trata-se do reconhecimento ibérico: mais um reino entre reinos ibéricos;
(d)
1179 (23 de Maio): E, finalmente, a bula papal Manifestis Probatum concluiu o processo do reconhecimento
internacional da autonomia do Reino de Portugal. Trata-se de reconhecimento internacional.
Em
torno da família da Maia,
conhecedora da importância simbólica do Infante Afonso Henriques, foi
planificado e executado um programa eficaz, que conduziu à vitória de São
Mamede, em Guimarães (1128), e à autonomia definitiva do Condado Portucalense,
embrião do Reino de Portugal». In Joaquim José M. Santos, Um Arcebispo
Maiato na Independência de Portugal, Revista da Maia, Nova Série, Ano II,
Número 1, Janeiro/Junho 2017, ISSN 2183-8437.
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