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Ascensão dinástica e alianças
matrimoniais
«(…) Ao
mencionar a geração de uma prole legítima, recupera-se que o rei João I, ainda
na posição de Mestre de Avis, fora pai por duas vezes, primeiro de Afonso (c.
1380), e depois de Beatriz (c. 1382), sendo essa descendência ilegítima usada
como base para o alargamento da política matrimonial de Avis. Observa-se que os
bastardos régios também foram utilizados em negociações matrimoniais, e nesses
anos de afirmação dinástica, ainda sem contar com filhos da rainha dona Filipa
em idade nubente, os filhos ilegítimos aparecem como instrumento para o
fortalecimento interno, casamento de Afonso, e para a ampliação das relações
externas, consórcio de Beatriz. Do processo da ascensão do Mestre de Avis,
formou-se uma nova nobreza, que teve em Nuno Álvares Pereira, um expoente.
Filho do Prior do Hospital, Nuno Álvares foi feito condestável do reino e
recebeu os condados de Ourém, Barcelos, Arraiolos e Neiva, uma acumulação de
património extraordinária em Portugal.
Toda essa
base territorial fez do condestável um alvo das medidas de João I visando
reaver, ou comprar, parte das terras da coroa cedidas à nobreza até ao momento.
Tal facto gerou um grande descontentamento, que teve como consequência o exílio
de nobres portugueses em Castela. Nuno Álvares, segundo Baquero Moreno, foi um
dos principais opositores da medida régia, manifestando também o interesse de
abandonar Portugal (Moreno, 1990; Lopes, 1983). Frente a tais problemas
internos que movimentaram o reino em finais da década de 90 e,
consequentemente, dificultavam a relação entre o rei e o seu condestável, em
1401 estabeleceu-se uma via de acordo: o casamento da única filha de Nuno
Álvares, dona Beatriz, e, portanto, meio exclusivo de assegurar a reprodução da
casa senhorial recém formada, com o filho bastardo de dom João (Sousa, 1949).
Esta união polarizava interesses, tanto de Nuno Álvares quanto do rei. Pelo
contrato estabelecido, Afonso recebeu a totalidade dos bens que o condestável
detinha no Entre Douro e Minho e em Trás-os-Montes, Montalegre e terra de
Barroso, Montenegro e Chaves, também com todas as rendas, direitos, foros,
padroados e jurisdições e mero e misto império.
Passa-se,
assim, para o casamento de dona Beatriz. A movimentação em prol do enlace da
infanta com Thomas Fitzalan, conde de Arundel e aparentado da família real
inglesa, iniciou-se, segundo Manuela Santos Silva e Peter Russell, por volta de
1405 sob a condução da rainha dona Filipa (Silva, 2007; Russell, 2000). As
negociações se estenderam e, em 26 de Novembro do mesmo ano, dona Beatriz
casou-se com o conde de Arundel.
Acrescenta-se
que antes da investida de Portugal contra Ceuta, a qual foi articulada sem que
a finalidade do ataque fosse sabida pelos demais reinos da Cristandade,
tinha-se o temor de que o conde de Arundel viesse em auxílio de João com as suas
tropas, o que demonstra que a aliança conseguida pelo casamento de Beatriz
ainda repercutia no cenário ibérico quase uma década depois. Por fim, sabe-se
que após a morte do conde (1415), a infanta portuguesa casou-se com John
Holland, duque de Exeter, permanecendo no reino inglês até falecer em 1439
(Russell, 2000).
Antes
de avançar com os consórcios matrimoniais dos filhos legítimos de João I e dona
Filipa, cabe salientar que as negociações até então apresentadas mostram que as
correspondências entre as casas reais eram constantes, sendo conhecida a
influência da rainha de Portugal na preparação do casamento de dona Beatriz, e
a manutenção do contacto desta infanta com a corte portuguesa (Silva, 2007).
Desta forma, percebe-se a importância dos vínculos de parentesco para além do acto
da celebração da união, pois se criava um circuito de informações, de
deslocamento sócio-político e cultural, que aproximava as cortes ligadas a cada
participante do enlace matrimonial.
Os
casamentos da Ínclita Geração
Dito isso,
retoma-se o desenvolvimento da política matrimonial desenvolvida pelo rei de
Portugal observando que em 1405, com os dois filhos naturais bem casados, João I
e dona Filipa somavam oito filhos legítimos, dos quais apenas dois tinham
falecido, a pequenina Branca, que nascera em 1388 e morreu sem completar o
primeiro ano de vida, e o infante Afonso, que nascera em 30 de Julho de 1390,
falecendo com dez anos. Seis foram os filhos que ultrapassaram as altas taxas
de mortalidade que afectavam os recém-nascidos na Baixa Idade Média, destes
apenas uma mulher restou, a infanta dona Isabel, nascida em 1397. Desses infantes,
apenas dois não casaram, o infante Henrique e o infante Fernando, mesmo tendo
existido oportunidades nesse sentido». In Douglas Xavier M. Lima, A política matrimonial
de D. João I, Um instrumento de afirmação dinástica, Portugal, 1387-1430, Roda
da Fortuna, Revista Eletrónica sobre
Antiguidade e Medievo, 2014, Volume 3, Número 2, ISSN 2014-7430.
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