quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

O Mistério das Catedrais. Interpretação Esotérica. Fulcanelli. «... O fogo secreto dos Sábios é um fogo que o artista prepara segundo a Arte ou que, pelo menos, pode fazer preparar por aqueles que têm perfeito conhecimento da química»

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Paris
«(…) Tocamos aqui no mais alto segredo da Obra; e seria para nós uma felicidade podermos cortar este nó górdio para benefício dos aspirantes à nossa Ciência, lembrando-os, ai de nós, que esta dificuldade nos deteve durante mais de vinte anos, se nos fosse permitido profanar um mistério cuja revelação depende do Pai das Luzes. Com grande pena nossa, apenas podemos assinalar o escolho e aconselhar, com os mais eminentes Filósofos, a leitura atenta de Artefius, de Pontanus e da pequena obra intitulada Epístola de Igne Philosophorum. Aí se encontrarão preciosas indicações acerca da natureza e das características desse fogo aquoso ou dessa água ígnea, ensinamentos que se poderão completar com os dois textos seguintes.
O autor anónimo dos Préceptes du Pere Abraham diz:

É necessário tirar essa água primitiva e celeste do corpo onde se encontra e que se exprime por sete letras, segundo nós, significando a semente primitiva de todos os seres, e não especificada nem determinada na casa de Áries para engendrar o seu filho. E essa água, a que os Filósofos deram tantos nomes, é o dissolvente universal, a vida e a saúde de todas as coisas. Os filósofos dizem que é nessa água que o sol e a lua se banham e que a si próprios se resolvem na água, sua origem primeira. É por essa resolução que se diz que eles morrem mas os seus espíritos são levados sobre as águas desse mar onde estavam encerrados... Por muito que digam, meu filho, que há outras maneiras de resolver estes corpos na sua matéria-prima, atende ao que te digo porque aprendi pela experiência e segundo o que os nossos antepassados nos transmitiram.

Limojon de Saint-Didier escreve também:

... O fogo secreto dos Sábios é um fogo que o artista prepara segundo a Arte ou que, pelo menos, pode fazer preparar por aqueles que têm perfeito conhecimento da química. Este fogo não é actualmente quente, mas é um espírito ígneo introduzido num sujeito da mesma natureza que a Pedra; e mediocremente excitado pelo fogo exterior, calcina-a, dissolve-a, sublima-a e transforma-a em água seca, como diz o Cosmopolita.

Aliás, descobriremos brevemente outras figuras relacionadas quer com a fabricação, quer com as qualidades deste fogo secreto encerrado numa água que constitui o dissolvente universal. Ora, a matéria que serve para prepará-lo constitui precisamente o tema do quarto motivo:

um homem expõe a imagem do Cordeiro e com a mão direita segura um objecto que hoje, infelizmente, se torna impossível identificar. Será um mineral, um fragmento de um símbolo, um utensílio ou, ainda, algum pedaço de pano? Não o sabemos. O tempo e o vandalismo passaram por ali. De qualquer modo, o Cordeiro ficou e o homem, hieróglifo do princípio metálico masculino, apresenta-nos a sua figura. Isso ajudados a compreender estas palavras de Pernety: os Adeptos dizem que tiram o seu aço do ventre de Áries e também chamam a esse aço o seu ímã.

Segue-se a Evolução, que mostra a auriflama tripartida, triplicidade das Cores da Obra que se encontram descritas em todas as obras clássicas. Estas cores, em número de três, desenvolvem-se segundo a ordem invariável que vai do negro ao vermelho, passando pelo branco. Mas como a natureza, segundo o velho adágio, Natura non facit saltus, nada faz brutalmente, há muitas outras intermédias que aparecem entre essas três principais». In Fulcanelli, 1926, Le Mystère des Cathédrales, 1964, O Mistério das Catedrais, Interpretação Esotérica dos símbolos herméticos, Edições 70, 1975, Lisboa, Colecção Esfinge.

Cortesia de E70/JDACT