Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…)
Pássaros
Sensíveis Passarinhos, até quando
Nesses brandos gorjeios que
formais
Haveis de copiar meus tristes
ais?
Hei de viver convosco suspirando?
Convosco falam
Estes gemidos,
Que, enternecidos,
Grutas, penhascos, montes, tudo
abalam.
Quanta inveja vos tenho, ternas
aves,
Que explicais, nesse canto
delicado,
Talvez o mesmo que eu num triste
brado,
E fazeis vossas mágoas mais
suaves!
Oh! se algum dia
Eu, suspirando,
Tornasse brando
O motivo do mal que me agonia!...
Nos salgueiros, nas frescas
bordas de água,
No tosco seio de algum tronco
informe,
Asilo a vosso gosto achais
conforme,
E eu choro em desamparo a minha
mágoa.
Do fado injusto
Choro o delírio,
E o meu martírio
Grava Amor em meu peito com bem
custo.
Bem que, aves, fôsseis ninfas
engraçadas,
E que o fogo amoroso ou terna
história
De vós mesmas conserve só
memória,
Nos gestos infelices
transformadas,
Cortais libertas,
Gemendo, os ares,
E os meus pesares
Eu
choro entre prisões, que, ó Fado, apertas!
Se a filha de Corônis sofre a
pena
De ver perdido o gesto
encantador,
Por clamorosos ais a mágoa, a dor
Faz
ouvir a que Palas a condena.
[…]
Poemas de Leonor Almeida Portugal Lorena Lencastre, (1750 – 1839), in ‘Poemas de Alcipe’
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