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O sonho de uma imperatriz, 1797
«(…) Após a morte, em 1792, do
imperador que antes havia sido grão-duque da Toscana, a ascensão ao trono
imperial de seu filho, a partir de então Francisco II, foi abençoada com uma
nova gravidez da sua esposa, que deu como resultado, em Abril de 1793, o
nascimento de Fernando, o ansiado filho homem; infelizmente, esse menino,
destinado a sucedê-lo no trono, sairia meio fraco mentalmente. A morte da
rainha Maria Antonieta da França, ocorrida em Outubro desse mesmo ano, foi para
o imperador Francisco II um facto mais desagradável que doloroso, pois ele
nunca havia sentido muita estima por essa tia. Mas serviu-lhe para perceber que
o carácter alegre da sua mulher era uma espécie de bálsamo para a sua mente, especialmente
num momento em que os revolucionários franceses haviam decidido levar a liberté também aos
territórios italianos pertencentes ao seu império. Por sua vez, a imperatriz
confirmou nos factos a suposição de que seria tão fértil quanto sua mãe, pois,
depois do herdeiro, deu ao marido duas meninas, nascidas respectivamente em
1794 e 1795, e continuaria parindo um filho por ano, até chegar ao número de
doze. Por volta da última semana de Abril de 1796 a imperatriz Maria Teresa
engravidou, pela quinta vez, daquela que seria Leopoldina. Os primeiros meses
dessa gestação foram agridoces por conta das notícias da frente de guerra que
chegavam à corte de Viena.
O arquiduque Carlos, irmão mais
novo do imperador e um militar brilhante, conseguiu entre Agosto e Setembro
desse ano duas importantes vitórias sobre a França revolucionária. Mas a revelação
na cena italiana do general Bonaparte, após a vitória dos franceses nos campos
de Rivoli, havia começado a pôr em xeque os territórios do norte daquela península.
Foi por essa razão que, enquanto a imperatriz Maria Teresa se esforçava no trabalho
de parto, seu marido não conseguia parar de pensar na situação de Mântua,
sitiada pelas tropas desse pequeno general corso que possuía o dom de se fazer
amar quase cegamente pelos seus soldados, algo precioso para um militar. Finalmente,
Maria Teresa deu à luz a futura imperatriz do Brasil, a quarta filha que dava a
seu marido. Três dias depois, o jornal mais importante da capital do império, o
Wiener Zeitung,
comunicava aos habitantes de Viena que: às sete e meia da manhã de domingo, dia
22, Sua Majestade a imperatriz deu à luz uma arquiduquesa. A essa altura, a menina
já havia recebido as águas baptismais, e com elas o nome Carolina Josefa
Leopoldina Fernanda Francisca. Uma semana depois do sacramento de Leopoldina,
como seria chamada em família essa menina, a cidade de Mântua caiu nas mãos dos
franceses. Esse triunfo militar consolidou a carreira de Napoleão, que, a
despeito de ter nascido numa das ilhas mais pobres do Mediterrâneo e ser filho
de um simples advogado, tornar-se-ia o homem mais poderoso da Europa e se
casaria com Maria Luísa da Áustria, irmã mais velha de Leopoldina.
Uma arquiduquesa cuja infância e
juventude transcorreu durante o período no qual a Europa foi abalada por um fenómeno
natural em forma de génio militar como não experimentara havia séculos. Embora
seus pais fizessem todo o possível para manter Leopoldina e os seus irmãos
longe das guerras que seriam travadas na Europa durante aqueles anos, a maior
parte das arquiduquesas, mais inteligentes e sensíveis que os filhos homens, não
seriam imunes às influências das mudanças revolucionárias que a acção de Napoleão
produziria nas leis, nos costumes e até no modo de pensar. No momento do
nascimento de Leopoldina, para Bonaparte não restava mais que colher os frutos
das suas vitórias; Rívoli e Mântua haviam semeado o pânico nos pequenos e
grandes Estados italianos. De facto, depois da queda de Mântua, em Viena já se começava
a temer a chegada dos exércitos franceses. Francisco II lançou mão de todos os
meios ao seu alcance para evitar isso; mas, quando o risco aumentou, acabou
aceitando um armistício com os seus inimigos, firmado em meados de Abril de
1797, quando a arquiduquesa Leopoldina ainda não havia completado três meses.
Dois meses antes de ela completar
um ano de vida, seu pai fez algo mais surpreendente aos olhos dos seus súbditos.
Para escândalo de sua sogra, a rainha Maria Carolina de Nápoles, que odiava os
franceses por considera-los responsáveis pelo martírio da sua irmã, o imperador
rubricou com os herdeiros dos assassinos da sua tia a Paz de Campofórmio.
Enquanto isso, a futura primeira imperatriz do Brasil, que herdaria o
pragmatismo paterno, crescia, como o resto dos seus irmãos, protegida pela família,
pelo menos das incertezas que as ambições napoleónicas geravam nas casas
reinantes europeias do Antigo Regime. Dizem, porém, que desde os seus primeiros
meses de vida Leopoldina desenvolveu uma espécie de ansiedade, chegando a ferir
os mamilos da sua ama de leite por conta da intensidade com que se prendia a
seus peitos quando era amamentada». In Marsilio Cassotti, Imperatriz D.
Leopoldina, tradução de Sandra Dolinsky, Manuscrito Editora, 2015, ISBN
978-989-881-803-4.
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