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Os
sacrifícios que fazemos
Lanie
«(…)
Scott Christopher, o proprietário, era aquilo a que se podia chamar um empresário
agressivo. Basicamente, era um chulo, mas não um simples chulo de rua. Não, ele
tinha encontrado uma forma de esvaziar os bolsos de quem os tinha mais cheios.
Ele geria uma operação com muita classe, um leilão onde mulheres eram vendidas
a quem pagasse mais. O Foreplay podia ser a fachada do seu negócio, mas era o
leilão que lhe pagava as contas. Aparentemente, o clube era um local onde se
faziam grandes festas de associações de estudantes, em que as miúdas procuravam
o seu próximo engate e ficavam tão bêbedas que nem se lembravam dos seus nomes,
o que era o disfarce perfeito para o requintado estabelecimento que existia na
cave. Pelo que percebi, algumas das mulheres, eu própria incluída, participavam
voluntariamente, mas outras deviam alguma coisa a Scott. Vender o corpo era a
solução de último recurso para lhe pagar. Ainda que isso significasse que iam
perder a liberdade.
Dez contou-me que os clientes
eram sempre homens com grandes contas bancárias. Até os magnatas mais ricos do
mundo gostavam das fantasias mais perversas, fantasias que não queriam ver
tornadas públicas. Pela quantia certa, eles podiam encontrar mulheres dispostas
a tudo e nunca teriam de se preocupar com a possibilidade de o seu segredo ser
revelado. No entanto, era uma questão de sorte, eu podia acabar com uma pessoa
simpática e bondosa ou com um verdadeiro tirano que gostava de dominar a sua propriedade.
Se a história servisse de indicador, eu acabaria com o último. Eu não tinha tido
exactamente a melhor das sortes na vida, por isso porque é que haveria de
acreditar que os poderes que mandavam em nós me concederiam algum favor agora? A
doença da minha mãe tinha implicado um sacrifício constante não apenas do meu pai,
mas também meu. Não que eu estivesse ressentida, mas em vez de ir para a universidade
tinha ficado em casa com ela para que o meu pai pudesse trabalhar. Agora que
ele não tinha emprego, eles não viam qualquer motivo para eu me sentir obrigada
a ficar com eles. Eu nunca me tinha sentido obrigada. Ela era minha mãe e eu
amava-a.
Além disso, ainda não tinha
decidido o que queria fazer com a minha vida. Seria lógico pensar que uma
mulher de 24 anos teria a sua vida organizada, mas não, nem por isso. Podia ter
sido um golpe bastante baixo da minha parte dar-lhes esperança, mas, como já
disse, esperança era uma coisa que não abundava na nossa casa e não lhes faria
mal nenhum se eu lhes desse alguma. Assim, consegui convencer a minha mãe e o
meu pai de que tinha conseguido uma maravilhosa bolsa de estudos com todas as
despesas pagas na Universidade de Nova Iorque. Sim, sei bem que era uma coisa
que só por milagre aconteceria neste ponto da minha vida, mas os meus pais não
sabiam e isso fez toda a diferença do mundo. Estar tão longe de casa
significava que não poderia visitá-los tantas vezes como gostaria e, por muito
que me custasse estar longe da minha mãe moribunda durante tanto tempo, era
absolutamente necessário para que o meu plano resultasse. Se eu tivesse sorte,
eles nunca saberiam. Mas lembram-se do que eu disse acerca da minha sorte,
certo?
Eu
tinha concordado com Scott que aceitaria viver com o meu dono durante um período
de dois anos. Nem mais, nem menos. Depois disso, seria livre para viver a minha
vida. Exactamente que tipo de vida seria nessa altura era ainda uma incógnita,
mas eu tinha de me manter optimista. De qualquer maneira, dois anos era um
pequeno preço a pagar para garantir mais tempo para a minha mãe e, no fundo,
também para o meu pai. O som do baixo que se ouvia da música do clube, lá em
cima, ecoava nas paredes e apossou-se dos batimentos do meu coração, mas eu
tentei desesperadamente não querer estar lá em cima a afogar-me em bebida e
diversão, como todas as pessoas que não faziam a mínima ideia da organização
secreta que existia por baixo dos seus pés. As mulheres que estavam aqui em
baixo afogavam-se numa coisa completamente diferente. Aproximámo-nos do
porteiro do clube, que tinha uma lista VIP numa prancheta. Ele sabia quem éramos
e porque estávamos ali, por isso deixou-nos entrar imediatamente». In CL
Parker, Um Milhão de Prazeres Proibidos, Editora Lua de Papel, 2014, ISBN
978-989-232-806-5.
Cortesia
de Elua de Papel/JDACT