quinta-feira, 28 de maio de 2020

Esboço para um possível Ensaio sobre Fiama Hasse Pais Brandão. Márcio L. Dantas. «Em Obra Breve, os pequenos livros de meus poemas reúnem-se de uma forma contígua, tal como foram vividos…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«Há uma idade em que se ensina o que se sabe; mas vem em seguida outra, em que se ensina o que não se sabe: isso se chama pesquisar». In Roland Barthes

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À guisa de apresentação
Este conjunto de ensaios foi uma selecção procedida a partir dos trabalhos referentes à primeira avaliação da disciplina Tópicos de Literatura Portuguesa II, curso monotemático, disciplina complementar, ministrado na graduação de Letras da UFRN, sobre a poeta Fiama Hasse Pais Brandão. A forma e o conteúdo são da responsabilidade dos meus alunos, por sinal, diligentes e afeitos ao gosto pela poesia portuguesa. Tenho em mim, sempre, as palavras de Roland Barthes: há uma idade em que se ensina o que se sabe; mas vem em seguida outra, em que se ensina o que não se sabe: isso se chama de pesquisar. Pois muito bem, ando pesquisando a obra da escritora portuguesa que participou junto com Maria Teresa Horta e Luiza Neto Jorge da revista-movimento Poesia 61.

Apontamentos para a Poesia Atómica - em Fiama
Fiama Hasse Pais Brandão, ou simplesmente Fiama (1938-2007), publicou uma vasta obra lírica, de considerável valor estético e múltipla, desde Barcas Novas até âmago I/ nova arte e, sobretudo, o admirável Obra Breve. A poeta, exímia modeladora do corpo do verso (não foi à toa que traduziu para o português o Cântico dos Cânticos, Cântico Maior na sua tradução/recriação), além da publicação do seu último livro Cenas Vivas, de carácter autobiográfico, no qual mostra-nos mais uma das suas facetas, tinha, tal como Pessoa, uma pluralidade estética e literária. Tais qualidades só podem adquirir brilho se o autor envolvido com a força da palavra possuir um vasto repertório no que diz respeito à criação artística e à consciência artística, aliando a tradição ao talento individual tal como pensara Eliot. Fiama os possuía.
Estes apontamentos para poesia atómica de Fiama, breves, aliás, breves como a Obra Breve em análise, basear-se-ão na premissa escrita pela própria poeta na abertura do livro (uma espécie de comentário) que logo colocarei num poema da mesma obra: Tema 4. Assim adverte aos leitores e críticos:

Em Obra Breve, os pequenos livros de meus poemas reúnem-se de uma forma contígua, tal como foram vividos. As cortinas delimitam, confundindo-os, livros e parte de livros; poemas inéditos preenchem alguns intervalos. Na verdade, cada livro tinha sido apenas um corte, a poesia vai sendo escrita, transformada, recortada, ao correr do tempo todo.

Fiama recria, constantemente, parte da sua obra poética ao correr do tempo, reunindo-a tal como foi vivida, como se ela fosse um organismo poético vivo e mutante. A vida e a experiência dão certos sentidos às palavras, revelando a sua face mais bela ou assustadora, oferecendo à poeta inspiração o suficiente para criar e recriar a sua obra inacabada. A crítica talvez se perturbe com tal movimento de escrita e reescrita (perene até o período de vida da autora), contudo, não cabe aos críticos a preocupação com a mudança ou recriação de um poema, ora, o papel da crítica é justamente o de interpretar, sugerir, supor e adiantar algo a partir da análise do poema. Se ele é outro poema (reescrito), deverá se fazer, como se faz com poemas à primeira vista díspares, outra crítica, comparando-os e relacionando-os, percebendo o processo de escrita do poeta e seus ganhos, estéticos ou literários.
Afinal, Nenhum sinal nos calcina as órbitas.
Doravante, para apresentar a proposta deste ensaio, irei expor uma perspectiva de poesia, fazendo uma breve definição, relações com as demais ciências, críticas e literaturas, além de reforçar algumas ideias essenciais do conteúdo poético, desenvolverei características intrínsecas da manifestação verbal poesia, finalizando com o poema de Fiama. Porque realizar tais movimentos? Existe, na poesia portuguesa, um sentimento de tristeza profundamente enraizado na sua tradição (como se pode conferir pelo estilo musical fado), que deram a poetas como Sá Miranda e Camões, temas infindos para a sua poesia. Fiama é diferente. Fernando Pessoa, mesmo sob a face do heterónimo Álvaro de Campos, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, não fugiu à regra. A poeta tende para as poesias de vanguarda dos anos 60, geração de grandes poetas da Europa (Eliot, Pound), deixando a tristeza com os que foram ao mar. Adiante, pois, as poesias de Obra Breve revelam um teor mais moderno do que se imagina; aos sentidos e sentidos da poesia». In Márcio Lima Dantas, Esboço para um possível Ensaio sobre Fiama Hasse Pais Brandão, Departamento de Letras da UFRN, Tópicos de Literatura Portuguesa II, Wikipédia, Poesia 61.

Cortesia de DLdaUFRN/JDACT